segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Confiança da população nos cientistas cai no Brasil e sobe nos EUA

Em tempos de terraplanismo, movimento anti-vacina e negação do aquecimento global, ainda existem boas notícias para a ciência. Uma pesquisa com 4,4 mil pessoas publicada na última sexta (2) pelo Pew Research Center nos EUA mostrou que 86% dos americanos confiam que os cientistas agem em favor do interesse público. O valor é 10% maior que o de 2016, quando a pesquisa foi feita pela última vez.

Entre os profissionais em que a população deposita mais confiança, cientistas ficaram acima dos militares, diretores de escola (77%), líderes religiosos (57%), jornalistas (47%), empresários (46%) e políticos (35%). A pesquisa também revelou que 60% dos adultos americanos acreditam que especialistas devem estar envolvidos nas decisões políticas que envolvam ciência.

Quando se trata de método científico, os americanos são mais desconfiados. 35% das pessoas acha que o cientista pode chegar ao resultado que quiser chegar, enquanto 64% acredita que o método geralmente produz conclusões confiáveis.

No Brasil, uma pesquisa com 2,2 mil pessoas divulgada em julho pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) confirma que a população não perdeu o otimismo com relação à ciência – e, no geral, confia naqueles que a produzem. Por aqui, os cientistas são a segunda profissão do ranking, com 85%. Ficam atrás apenas dos médicos, por um ponto percentual.

De 2010 para cá, a quantidade de pessoas que se dizem otimistas quanto à nossa ciência caiu de 83% para 73%. Nos últimos quatro anos, desde 2015, a porcentagem se manteve no mesmo patamar. O que caiu acentuadamente foi o número dos veem apenas benefícios na ciência – de 54% para 31% –, enquanto a parcela de quem vê mais benefício do que malefício subiu de 19% para 42%. Em outras palavras: a confiança cega foi substituída por uma confiança consciente.

As pesquisas não medem exatamente as mesmas coisas, já que a do Pew foca na pessoa do cientista, enquanto o principal o estudo do CGEE mira na ciência como um todo. Mas ambas mostram a chamada percepção pública da ciência, o sentimento geral das pessoas com o conhecimento científico e quem o produz. Nesse sentido, a tendência é de alta nos EUA e queda no Brasil.

Há outros insights interessantes nas duas pesquisas. A brasileira constatou que 90% da população não sabe citar o nome de um cientista brasileiro, e 88% não conhece nenhum de nossos centros de pesquisa. 73% das pessoas acreditam que antibióticos matam vírus — não matam. Só bactérias. Sinal de deficiência na educação básica e no segundo grau. Falta também divulgação científica para os adultos, pois 82% deles declararam serem capazes de entendê-la, desde que seja bem explicada.

Nos EUA, fica evidente a influência das posições políticas na receptividade da ciência pelo público: 43% dos democratas “confiam bastante” nos cientistas; do lado dos republicanos, só 27%. Por lá, as opiniões quanto à ciência climática diferem muito. Para 70% dos democratas, a visão é positiva; para os republicanos, só 40%. Sinal de que o debate sobre o aquecimento global se pauta por ideologia, e não por uma interpretação imparcial dos dados.

Tanto os americanos quanto os brasileiros estão acima do nível global. Segundo o Wellcome Global Monitor, publicado no ano passado, 18% da população mundial tem nível de confiança alto em cientistas, 54% diz ter nível médio, enquanto 14% confia pouco.


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