sábado, 30 de maio de 2020

Casos de síndrome respiratória aguda grave avançam no Brasil

Um relatório do sistema Infogripe, criado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), voltou a registrar uma tendência de crescimento nos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil. Segundo a análise, publicada na última quarta-feira (27), o ritmo de aumento da curva é mais intenso nas regiões centro-oeste e sul, e vem perdendo força no sudeste. Você pode ler o boletim completo neste link.

O quadro de síndrome respiratória aguda grave – caracterizado por tosse constante, febre e falta de ar – costuma ser resultado de infecções por vírus e bactérias. Pessoas com sintomas intensos de gripe, por exemplo, podem precisar de internação por terem dificuldade de respirar. Nos últimos meses, porém, a lista de pacientes internados com complicações respiratórias do tipo aumentou muito. E a culpa não é do influenza, mas dos casos graves de Covid-19 – doença causada pelo novo coronavírus e que, só no Brasil, já soma mais de 465 mil casos.

Só entre janeiro e abril de 2020, o número de hospitalizações por SRAG aumentou 533% no Brasil em comparação aos quatro primeiros meses do ano anterior, segundo o Ministério da Saúde. Esse acréscimo fez com que a demanda por leitos de hospital ficasse próximo à sua capacidade máxima em diversos estados. E o fato de os hospitais estarem mais cheios pode, inclusive, impactar no crescimento de casos de SRAG.

Segundo explica o coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, em comunicado, “as notificações dependem de hospitalização, a depender dos fluxos adotados para notificação de casos em fila de espera em cada estado ou município”. Ou seja: sem conseguir atendimento, uma pessoa que com síndrome respiratória aguda grave pode até falecer em decorrência do problema – e, mesmo assim, não entrar para a estatística.

Durante a epidemia de H1N1, em 2009, foram registrados 90.465 casos de SRAG no Brasil durante o ano todo. Até o fim de maio de 2020, porém, já são 96,411 mil casos – desses, 17,774 mil pessoas morreram. De acordo com o Infogripe, só 1,418 pacientes tiveram SRAG devido à gripe comum. Já a Covid-19 foi a causa de complicações respiratórias severas para 32,325 brasileiros. A origem do restante dos casos ainda está sob investigação.

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Para especialistas, essa discrepância é um retrato da subnotificação de infecções pelo novo coronavírus. A hipótese faz sentido, principalmente pelo fato de o isolamento social também ter ajudado a frear o avanço da gripe comum – como a SUPER já contou neste texto. Assim, devido à falta de testes para toda a população, uma pessoa pode dar entrada com síndrome respiratória aguda grave causada pela Covid-19, mas não ser diagnosticada com a doença.


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Amor, carinho e literatura: os antídotos para a quarentena

Durante a pandemia de Covid-19, Fabrício Carpinejar, de 47 anos, levou um susto daqueles: sua tia Cléa, de 83 anos, contraiu o coronavírus e passou uma semana, entre a vida e a morte, no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.

Quando soube de sua internação, o escritor gaúcho caiu em si de que nunca, em tempo algum, dissera “Eu te amo” para a tia. Logo Cléa, que gostava tanto de presentear os amigos com os livros do sobrinho, de repassar seus textos para os seus grupos de discussão no WhatsApp e de comparecer a todas as suas palestras.

“Tivemos que passar pela pandemia para um sobrinho adulto descobrir tardiamente o seu amor pela sua tia”, escreveu o poeta na crônica Admiração é falar bem dos outros pelas costas. “Nunca é tarde para ser sensível”.

A declaração de amor de Carpinejar pela irmã de sua mãe é uma das 40 crônicas de Colo, Por Favor! (clique para comprar), recém-lançado pela Editora Planeta. Autor de 45 livros, como Me Ajuda a Chorar (2014), Cuide dos Pais Antes que Seja Tarde (2018) e Minha Esposa Tem a Senha do Meu Celular (2019), entre outros, o escritor tomou uma importante resolução durante a pandemia: alternar notícias boas e ruins.

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Não podia se alienar, mas também não queria virar refém da tragédia. Confinado em sua casa em Belo Horizonte, onde mora com a mulher, Beatriz Reys, e os dois filhos, Mariana, de 25, e Vicente, de 17, ele decidiu conciliar a leitura de jornais com a de livros – sua média é três por semana! “Muito fácil ser pessimista hoje, quero ver quem tem coragem de ser otimista”, provoca.

Não parou por aí. Resolveu tocar também o que mais ama fazer: escrever. Em 30 dias, colocou o ponto final nas 40 crônicas de Colo, Por Favor! Enquanto a vida não volta ao normal, Carpinejar tem procurado ouvir música, telefonar para os amigos e exercitar suas habilidades de chef de cozinha.

Quando sai de casa, é para fazer compras no supermercado que fica na esquina da rua onde mora. Vai com tanta pressa que, admite, não confere sequer a data de validade dos produtos. Seu arroz de carreteiro, diz, já mereceu nota 7, mas hoje vale uns 9. “Cozinho, lavo, faxino, passo roupa com capricho. Para merecer me pagar. Sou o meu pior patrão e o meu melhor funcionário”, brinca.

Na conversa abaixo, ele reflete sobre alguns temas da sua nova obra e os tempos que enfrentamos.  

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VEJA SAÚDE: A escritora Martha Medeiros costuma dizer que “o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”. Você diria que o melhor lugar do mundo seria o colo de quem se ama?

Fabrício Carpinejar: Colo é o abraço deitado. Ou seja, duplamente prazeroso. É quando podemos relaxar porque alguém nos cuida. Não há lugar em que possamos nos sentir mais seguros. É o retorno ao abrigo ancestral dos pais. Ao cafuné da infância. Ao repouso das horas. Tanto que nos descobrimos amando quando pousamos a cabeça nos ombros de nossa companhia e adormecemos. Adormecer é confiar. Mas colo no livro também tem o sentido de reaver o bom senso, a civilidade, a educação, o respeito, a cumplicidade, dar um fim para o egoísmo, salvar a empatia.

Você escreveu as 40 crônicas de Colo, Por Favor! em um mês. Em tempos de isolamento social, escrever tornou-se, mais do que nunca, uma questão de sobrevivência mental?

Exatamente! Estava lutando para me salvar, salvando os outros. Não poderia ficar parado. Isolamento não é imobilidade. Busquei o melhor de mim para despertar a esperança em tempos de medo. Quanto maior a sombra, maior a força da chama de uma vela. É no desespero que desvendamos quem realmente é amigo, leal e carinhoso. As dificuldades elegem os escudeiros de nossa história. Temos que pensar duas coisas: não estamos isolados, mas protegidos. E estamos acompanhados de quem mais amamos na vida. São dois trunfos para enfrentar os problemas. Vou sair disso tudo ainda mais unido no casamento, eu e a esposa estaremos mais orgulhosos um do outro.

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Como está sendo sua quarentena? Do que mais sente saudades?

Vivo em cima de uma bicicleta imaginária, não paro de pedalar. O equilíbrio vem do movimento. Cozinho, lavo, faxino, passo roupa com capricho. Para merecer me pagar. Sou o meu pior patrão e o meu melhor funcionário.

O que você tem feito para não sucumbir ao tédio, ao medo e à ansiedade?

Quem sente tédio é quem não está sentindo fome. Está muito bem, então. O tédio é um luxo do conforto. Não podemos esquecer que existe quem está sobrevivendo, sem ter o que pôr na mesa, e aquele que está vivendo na segurança de seu lar. São realidades opostas. Temos que dividir o medo, medo dividido já é esperança. Desabafar é expulsar as tristezas. Não guarde nenhuma apreensão para não virar ressentimento. Muito fácil ser pessimista hoje, quero ver quem tem coragem de ser otimista. Heroicos serão os que roubarão o riso alheio, que trarão leveza para o cotidiano opressivo. Talvez seja o momento de “essencializar” a nossa vida, ser feliz com pouco para ser só infeliz diante de muitos infortúnios. Aliás, já desfrutamos dos melhores calmantes em nosso próprio corpo: exercícios físicos curam pânico, respirar devagar restitui a serenidade para os ouvidos.

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Houve algo que você tenha começado a fazer durante a quarentena e que pretenda continuar depois? Como será o “novo normal” daqui para frente?

Não existirá uma nova normalidade, mas uma nova loucura. Ninguém era normal antes da quarentena. Pretendo seguir com as minhas palestras, com os espetáculos teatrais… Vou demorar mais no olhar, vou residir mais no abraço com os meus leitores. Escreverei poemas na pele mais do que nos livros.

Há quem diga que sairemos dessa mais humanos, fraternos e solidários. Você compartilha dessa opinião? Se tivesse que apontar o “lado bom” da pandemia (se é que houve algum), qual seria?

O entendimento de que a saúde não é individual, uma posse privada, mas coletiva, que se cuidar é cuidar do próximo. Que procuremos domar as nossas compulsões (ansiedade, ciúme, grosseria, posse, carência). Até porque elas não estragam uma única pessoa e, sim, a família ao redor. O sentimento de fragilidade pode nos devolver a longevidade pelo caminho do equilíbrio. Que limpemos mais as mãos na hora de voltar e lavemos mais as palavras na hora de sair. Espero que todo mundo se goste e se aceite a partir dessa oportunidade que cada um experimentou convivendo mais consigo mesmo. 

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Já parou para pensar na primeira coisa que planeja fazer quando tudo isso passar?

Quando a quarentena terminar, pretendo ficar todo o dia em casa. Ficar em casa por livre e espontânea vontade. Sem a pressão de não poder sair. Transformar novamente o esconderijo em fábrica de sonhos. Devolver as raízes do bem-estar para a residência. Enfim, me receberei como visita.

Dez aforismos do livro Colo, Por Favor!

Separamos algumas frases de Fabrício Carpinejar para nos inspirar e ajudar nesta temporada tão desafiadora.

  1. “A esperança é a nossa maior coragem. Acreditar mesmo sem saber o que virá”.
  2. “Um amor errado nos envelhece, um amor certo nos rejuvenesce”.
  3. “Mude devagar, aos poucos, com consistência. Toda transformação radical só traz recaídas”.
  4. “Felizes são os que transformam os irmãos em amigos e os amigos em irmãos”.
  5. “Há hora para navegar e hora para reparar o barco. Nem tudo é alto-mar”.
  6. “O amor é um filme de baixo orçamento. Não precisamos de muito para sermos felizes”.
  7. “Paixão é o encontro de duas pessoas. Amor é o encontro de duas paciências”.
  8. “O amor é frágil, feito só para os fortes”.
  9. “Se a alma pudesse ser vista no espelho, teria gente que não sairia mais de casa”.
  10. “Amor-próprio é cuidar de si mesmo quando não se está doente”.

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Como está o combate ao coronavírus na América Latina?

No dia 7 de maio de 2020, publiquei aqui neste blog o texto “A Covid-19 na América Latina pelos olhos de quem está na linha de frente”. A proposta era simples: entrar em contato com cientistas, profissionais de saúde e divulgadores científicos de toda a região para saber quais ações contra o coronavírus cada país estava tomando. 

Na primeira rodada, recebi respostas de Equador, Panamá, Costa Rica, Chile, México, Colômbia e El Salvador. De bate pronto, confesso a você que fiquei incomodado em ver que muitos dos nossos vizinhos tinham colocado em prática medidas mais enérgicas e efetivas que nós, brasileiros. Isso se traduziu em menores números de casos e de mortalidade nesses locais específicos.

Mas essa não foi a única pulga atrás da orelha que apareceu após a publicação daquele texto: queria completar meu “álbum de figurinhas” e ter um retrato completo da região, nem que fosse com todos os países da América do Sul. Para me aquietar, insisti com alguns especialistas e fui atrás de novas fontes das nações nas quais eu não tivera retorno. 

Depois de vários e-mails e mensagens de WhatsApp, finalmente concluí a apuração com os países sul americanos que restavam: experts de Peru, Paraguai, Bolívia, Argentina, Uruguai e Venezuela me enviaram as respostas. Ufa! Não posso deixar de agradecer aos meus colegas jornalistas da América Latina, que me indicaram e compartilharam seus contatos para que essas trocas de informações fossem possíveis.

Chegou a hora de conhecer, então, como está a situação da Covid-19 nos seis países que restavam:

Peru

Nosso interlocutor foi o médico e epidemiologista César Cárcamo Cavagnaro, professor da Universidade Peruana Cayetano Heredia, em Lima

“Possivelmente estamos no pior da pandemia. Vários hospitais colapsaram, mas temos a esperança que as coisas não se agravem muito mais. Para isso, precisamos eliminar os espaços reduzidos em que os peruanos costumam se concentrar, como mercados e veículos de transporte público. Isso pode melhorar os índices em curto prazo. O governo deve regular e controlar essas questões para que o povo evite esses locais. 

O segundo ponto é continuar com o fortalecimento dos estabelecimentos de saúde e melhorar o acesso aos equipamentos básicos para os profissionais de saúde. É importante também facilitar a realização de ensaios clínicos e estudos observacionais, que permitam identificar tratamentos efetivos. O governo precisa facilitar para que os cientistas possam fazer as investigações”.

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Paraguai

Consegui uma resposta por e-mail da médica Elena Candia Florentín, presidente da Sociedade Paraguaia de Infectologia:

“O fechamento antecipado das nossas fronteiras, que aconteceu antes do que nos países vizinhos, seria uma das razões para explicar a baixa quantidade de novos casos de coronavírus por aqui. Assim que aconteceu a segunda confirmação de um paciente com Covid-19 no Paraguai, o governo anunciou em 10 de março que estavam suspensos os eventos públicos, atividades educativas e tudo que implicava aglomeração de pessoas. 

À medida que a pandemia avançava no mundo, nosso país não ficou parado e fechou as fronteiras no dia 24 de março, permitindo apenas a entrada de produtos essenciais. Posteriormente, a partir de 29 de março, houve uma nova medida, que todos aqueles que voltavam ao país deveriam ficar em quarentena obrigatória em albergues. Para garantir que essas ações fossem efetivadas, a polícia e os militares controlaram a biossegurança, o uso de máscaras faciais e a circulação de pessoas autorizadas pelas ruas ou pelo comércio. Para ter ideia, 2 419 indivíduos foram punidos por desrespeitarem a quarentena sanitária. 

No dia em que mando essa resposta (12 de maio), se contabilizavam 737 casos de Covid-19 no Paraguai, sendo que 554 são provenientes do exterior. Um total de 10 pacientes estão internados e temos 10 mortos. O representante da Organização Mundial da Saúde em nosso país, Luis Alberto Escoto, disse à Agência Reuters que nosso êxito se deve às medidas agressivas de distanciamento social. A Sociedade Paraguaia de Infectologia também teve um papel preponderante, recomendando o uso massivo de máscaras logo cedo.

Agora o país deve investir para que esse processo de controle da Covid-19 tenha um efeito sustentável por mais tempo, até que se tenha um tratamento antiviral ou uma vacina efetiva e segura. Para isso, precisamos pensar em educação, infraestrutura e tecnologia. Ademais, insistimos para que tenhamos o maior número possível de testes para detectar pacientes infectados, já que hoje em dia somos um dos países com menor número de exames por milhão de habitantes. Temos que pensar no uso de clínicas móveis, Big Data e parcerias com redes de celulares e aplicativos para acompanhar em tempo real a circulação de pessoas”. 

 

Bolívia

Nossa entrevistada é a pneumologista Ingrid Gaby Melgarejo Pomar, da Universidade Mayor de San Andrés, em La Paz. A especialista também é coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa do Comitê Nacional de Bioética da Bolívia

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“Até o dia 18 de maio de 2020, foram reportados 4 263 infectados por coronavírus na Bolívia, sendo que o maior número se concentra nas cidades de Santa Cruz e Beni. O número de mortos está em 174, o que indica uma taxa de letalidade de 4%, apesar de termos os indivíduos que não desenvolvem sintomas e aqueles que não declararam estar doentes. O número de recuperados é de 500 pessoas. 

Atualmente na Bolívia se mantém a quarentena estrita nos domicílios, com algumas exceções. É o caso, por exemplo, do setor de construção e também dos serviços de produção de alimentos entregues na casa dos cidadãos pelo sistema de delivery. 

Em meu ponto de vista, a quarentena foi uma medida instaurada dentro do tempo ideal, já que impediu uma maior propagação da enfermidade. No entanto, é importante mencionar que, apesar do controle exercido pelo governo, muita gente desobedece as normas, particularmente em algumas localidades como El Alto, La Paz e Cochabamba. Alguns setores sociais não entendem a razão do isolamento e simplesmente descumprem as orientações. 

Essa situação de rebeldia se tornou mais manifesta nas últimas duas semanas, em que começou a pesar mais a falta de dinheiro e de alimentos nas casas. Há uma porcentagem muito importante da população nacional que depende do trabalho diário para sobreviver e lamentavelmente se dedica a empregos informais, como o comércio de diferentes produtos pelas ruas. Também se observa um número considerável de crianças infectadas devido aos pais não respeitarem as medidas de biossegurança básica, como a lavagem contínua de mãos, sobretudo depois de ir ao banheiro. 

Penso que, para contra-atacar ou resistir a essa pandemia, é importante uma política governamental real que consiga instaurar em curto prazo um sistema de saúde cuja principal função seja promover, defender e proteger de maneira integral a vida e a saúde da população boliviana. Para isso, precisamos priorizar recursos destinados à infra-estrutura hospitalar e à contratação de profissionais capacitados, que possam trabalhar seguros e sem medo de contrair a enfermidade. 

O sistema de saúde na Bolívia é precário em razão dos 14 anos de negligência na aplicação de políticas sanitárias. Agora neste momento tão difícil é quando mais se percebem todas as deficiências. Precisamos de ações políticas urgentes, que denotam um alto sentido moral e ético daqueles que agora nos governam para alcançar uma saúde justa, equitativa e solidária. 

Um grande obstáculo para combater a pandemia no meu país é a pobreza e a educação precária que é dada a uma porcentagem importante da nossa população nas áreas rurais e urbanas do país. Muitos poucos recebem a uma atenção sanitária adequada. O que dirá então do acesso aos testes de diagnóstico ou a tratamentos.” 

Argentina

Nosso entrevistado é o médico Omar Sued, especialista em medicina interna e o atual presidente da Sociedade Argentina de Infectologia

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“Te comento que a situação da Covid-19 por aqui é muito melhor que em outros países da região. Vemos, porém, com preocupação como está o panorama na cidade de Buenos Aires, pela circulação do vírus em populações vulneráveis, em particular nos bairros mais precários da província. 

No restante da Argentina, a circulação do vírus tem se mantido estável. Temos 18 províncias sem nenhum caso no último dia (19 de maio). E várias províncias estão sem novas notificações por mais de duas semanas. Isso facilita a possibilidade de liberar a quarentena. 

A mobilização para a quarentena no país aconteceu muito cedo, o que permitiu ter uma capacidade de resposta e organizar um plano para ser colocado em marcha. Temos cerca de 4 mil leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) vazios. Apenas 150 estão ocupados por pacientes com Covid-19. Mas reitero aqui a preocupação com a província de Buenos Aires. 

A verdade é que não podemos nos queixar do que fez o governo até o momento. Acreditamos que é necessário seguir acompanhando os casos ativos e colocá-los em isolamento. E crítico também avançar em técnicas de diagnóstico que sejam mais rápidas e mais baratas. 

Aqui na Argentina, tivemos recentemente o registro no Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) de um novo teste molecular que identifica a doença em duas horas a um preço de 8 dólares. Esperamos que isso sirva para fazer um diagnóstico mais rápido dos pacientes. Nosso país também está participando de um estudo internacional que visa identificar o melhor tratamento para a Covid-19. Oxalá isso permita a gente reduzir um pouco a letalidade por coronavírus. 

De todo modo, o desafio continua grande. Somos muitos e os infectados estão concentrados nos locais vulneráveis. O Vila 31 de Buenos Aires, por exemplo, é um bairro tem mais de 60 mil habitantes. Trata-se de uma das densidades populacionais mais altas. Temos que focalizar os esforços nesses lugares para reduzir a transmissão. 

Outro problema que há no país é a desinformação e o uso de redes sociais para produzir informações errôneas. Nossa sociedade de infectologia está trabalhando para identificar isso e denunciar médicos que vendem possíveis curas.” 

Uruguai

O médico e bioquímico Carlos Batthyány, diretor do Instituto Pasteur de Montevidéu, foi o nosso ponto de contato em terras uruguaias:

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“No dia 23 de maio, estamos muito contentes e surpresos. Como você sabe, o Uruguai é um país pequeno, com 3,5 milhões de habitantes. Temos uma única cidade muito populosa, que é Montevidéu, onde há 1,5 milhão de pessoas. O resto são municípios menores, com 100 mil cidadãos ou menos. Outro ponto forte, que incide na resposta que tivemos à pandemia, é que o Uruguai tem um sistema integrado de saúde em que todos temos direitos de receber atendimento na rede pública e privada, inclusive em cuidados intensivos. Não há nenhum uruguaio que não tenha direito à atenção em saúde. 

Com respeito à Covid-19, o primeiro paciente diagnosticado por aqui foi em 13 de março de 2020 e, rapidamente neste dia, o governo tomou medidas que tiveram repercussões no controle da enfermidade. Todas as atividades que implicavam a aglomeração de pessoas foram suspensas, como eventos sociais, shoppings centers, restaurantes, escolas e universidades.

O governo também insistiu muito na quarentena voluntária e trabalhou o conceito que todos devem cuidar de todos. Os uruguaios acataram e receberam essa notícia de uma boa maneira. Se focou muito também nos pacientes de maior risco, como idosos e portadores de doenças crônicas. No dia de hoje (23 de maio), o Uruguai tem 753 pacientes diagnosticados, 20 mortos, 130 casos ativos e cinco em cuidados intensivos. Realizamos cerca entre 800 e mil testes de PCR por dia, com aproximadamente 1% de casos positivos. 

Outro fator que parece ter sido chave foi encontrar autoridades sanitárias abertas a escutar, colaborar e apoiar-se na ciência e na academia. Daí se criou um grupo de assessores científicos honorários, integrado pelo presidente da Academia Nacional de Ciências, o ex-presidente da Academia Nacional de Medicina e por um engenheiro matemático. Juntos com outros nomes, eles estão trabalhando com um grupo de especialistas do governo para o controle e os estudos de reabertura da sociedade. Estão sendo testadas várias medidas baseadas no monitoramento de casos e nas evidências científicas. 

Por último, quero destacar outro componente que foi a rápida resposta que deu a academia para nossa sociedade. Todos se colocam à disposição ao sistema sanitário de saúde uruguaio. Diferentemente de países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos ou na Europa, onde muitas equipes que queriam colaborar não conseguiram, aqui no Uruguai o próprio Instituto Pasteur de Montevidéu em colaboração com a Faculdade de Ciências pode montar um sistema de diagnósticos. Nós não apenas desenvolvemos um teste para o coronavírus, como todos os dias realizamos 200 análises que chegam pelo ministério de saúde pública. Com isso, pudemos compartilhar os esforços.

A solidariedade entre academia e governo permitiu que Uruguai desse uma resposta muito acertada a essa pandemia. E cada vez que aparecia um surto local, muitos na fronteira com o Brasil, pudemos fazer um diagnóstico precoce e isolar os casos positivos. Até o momento, estamos muito satisfeitos e surpreendidos positivamente. Sabemos que ainda não ganhamos a guerra, apenas os primeiros rounds. Ou, falando na linguagem do futebol, chegamos no intervalo. Jogamos um bom primeiro tempo e agora precisamos fazer um ótimo segundo tempo. Pois agora vem o inverno e o desafio da reabertura com maior movimentação das pessoas”.

Venezuela

O relato vem da pneumologista e médica intensivista Lérida Padrón, da diretoria da Sociedade Venezuelana de Pneumologia e Cirurgia de Tórax e profissional da Clínica Santa Sofia, em Caracas

“Na Venezuela, temos um comportamento totalmente diferente dos países sul americanos. No dia de hoje, 27 de maio, chegamos a um total de 1 245 casos. Eles estão concentrados na maioria em cinco estados. Três deles são fronteiriços e recebem os migrantes que voltam ao país. Os outros são da região da capital e do distrito federal. Nesses locais está a maior quantidade da população e temos também o aeroporto internacional. 

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O governo decretou quarentena em 13 de março, com fechamento de fronteiras e paralisação quase total das atividades econômicas. Neste dia, foram diagnosticados os primeiros casos no país. Uma coisa importante que está ocorrendo é que temos um severo problema na produção de combustíveis. Como se sabe, a Venezuela é produtora de petróleo e, nessa crise, está importando gasolina do Irã. O primeiro barco chegou do Oriente Médio há dois dias. A falta de combustíveis para os carros e o transporte público fez com que a população ficasse mais em casa. Além disso, há restrição de circulação nas ruas pelo exército nacional. 

Na Venezuela, se mesclou a situação política (e do déficit de gasolina) com a pandemia. Na última semana, tem aumentado os casos de maneira importante. Como disse, em 13 de março, apareceram os primeiros diagnósticos e se decretou a quarentena. Dois meses depois, se contabilizavam 440 casos positivos de coronavírus. Para 27 de maio, estamos falando de 1 200 casos positivos, o que representa 800 novos casos em apenas duas semanas. Tivemos o dobro de notificações em pouco tempo. 

Nesse momento, o governo está planejamento uma estratégia que eles chamam de “início de normalidade relativa”. O que significa isso? A flexibilização da quarentena a partir de junho. Não há uma congruência entre o aumento dos casos e a conduta governamental. 

Para melhorar o combate à Covid-19 no país, é preciso manter as medidas de quarentena que deram certo por muito tempo, já que temos uma mortalidade na casa de 1%. O mais importante agora são as medidas de prevenção: manter o distanciamento social, o uso adequado de máscaras, a lavagem de mãos, a disponibilização de álcool gel. Mas vemos que algumas pessoas tiram as máscaras de proteção na hora de conversar com os outros ou fazer pedidos no supermercado. É impressionante. Para evitar isso, necessitamos de campanhas nas redes sociais e nos canais de comunicação”. 


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sexta-feira, 29 de maio de 2020

CNS recomenda homeopatia e outras terapias pseudocientíficas contra Covid

O Conselho Nacional de Saúde (CSN), instância deliberativa do Sistema Único de Saúde (SUS) e integrante do Ministério da Saúde, publicou um documento recomendando que órgãos de saúde de todo o país adotarem as chamadas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics) para auxiliar no tratamento de Covid-19. As Pics são terapias que não tem eficácia comprovada cientificamente, como homeopatia, reiki, florais, acupuntura etc. e normalmente são recomendadas como complemento aos tratamentos com fármacos comuns. 

“Neste momento, em que não há ainda medicação para a cura, vários profissionais estão utilizando as práticas integrativas como forma de complementar a assistência. Estamos conversando com diversas pessoas e sabemos de alguns registros com a melhora em alguns tratamentos, que estão sendo realizados em nível nacional”, afirmou em comunicado Simone Leite, coordenadora do setor de práticas integrativas do CNS.

Para grande parte da comunidade científica, o uso dessas técnicas em sistemas públicos de saúde não se justifica devido a falta de evidências sólidas sobre sua eficácia. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 29 terapias que se enquadram como Pics. A nova recomendação salienta que elas devem ser utilizadas contra a Covid-19 de forma apenas complementar, sem substituir métodos de eficácia comprovada.

“A nota do CNS veio poucos dias depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitir uma orientação alertando contra o uso de terapias sem comprovação científica no combate à Covid-19. Dessa forma, o Conselho vai na contramão da tendência internacional”, diz Natália Pasternak, bióloga do Instituto de Biociências da USP e diretora do Instituto Questão de Ciência, associação sem fins lucrativos que defende o uso de evidências científicas para formular políticas públicas.

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Para formular a recomendação, o CNS se baseou em um documento que reúne diversas pesquisas publicadas sobre as práticas indicadas. Mas, das 37 referências citadas, apenas três estudos se referem especificamente a Covid-19, e todos têm foco na fitoterapia da medicina tradicional chinesa combinada com as Pics. Fitoterapia, vale explicar, é o uso de plantas com propriedades medicinais – e essas, evidentemente, podem fazer efeito. Ou seja: os estudos não abordam as Pics isoladamente. 

Além disso, o próprio documento ressalta que essas pesquisas precisam passar por revisões para atestar sua veracidade. “Ou seja, sugere-se o uso de PICs com base em ‘evidências’ cuja qualidade sequer foi auferida”, diz Pasternak.

Outro argumento utilizado pelo CSN é que a recomendação também se baseia em orientações prévia da OMS sobre práticas integrativas. De fato, a OMS já defendeu tais técnicas no passado, em diferentes ocasiões. 

Mas a pandemia é um cenário totalmente diferente, e o órgão engrossou o tom para a ocasião. Uma nota um pouco contraditória divulgada no começo de maio, intitulada “A OMS apoia a medicina tradicional comprovada cientificamente”, afirma que mesmo no caso de terapias que derivam de práticas tradicionais e naturais, é essencial “estabelecer a eficácia e segurança através de rigorosos testes clínicos”. Ou seja: as Pics podem até não fazer bem, mas é importante que elas não façam mal. 

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A mudança incisiva no discurso da organização se deve, em partes, pelo cenário de desinformação anticientífica criado pela pandemia. Despontam pelo mundo supostos medicamentos milagrosos que curariam a Covid-19 facilmente – o mais famoso é um chá natural supostamente descoberto pelo governo de Madagascar, na África, que leva em sua base a planta artemísia.

O uso da bebida tem sido incentivado até pelo presidente do país para tratar ou prevenir a infecção por coronavírus. Não há nenhuma comprovação de sua eficácia, e é quase certo de que a história não passe de uma grande farsa. Para piorar, a promessa de uma falsa cura pode fazer com que a população se descuide de medidas de prevenção ou faça uso da auto-medicação, o que pode ser prejudicial à saúde, como alerta a própria OMS.

Cloroquina 

A decisão do CSN também chamou a atenção de pesquisadores porque, no mesmo dia em que publicou a recomendação sobre as práticas integrativas, o Conselho pediu a suspensão do protocolo que prevê o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com sintomas leves da Covid-19 – uma orientação adotada recentemente pelo Ministério da Saúde. O motivo seria a falta de evidências científicas sobre a eficácia desses fármacos.

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Defensores das Pics afirmam que não há contradição: todas as evidências disponíveis levam a crer que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem ter efeitos colaterais graves – o que não se aplica à maioria das terapias alternativas, que em geral são inofensivas e apenas complementam o tratamento embasado cientificamente. Isso explicaria porque o órgão barrou um, mas recomendou o outro. 

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Simone Leite, do CSN, reforçou esse argumento: a cloroquina seria um tratamento específico para a Covid-19 que não possui comprovação, enquanto as práticas como acupuntura, massagens e florais são complementares à assistência médica, e não se propõem a curar a doença. Além disso, as Pics ajudariam a controlar o estresse e ansiedade dos pacientes. 

Os críticos afirmam, porém, que em um momento em que o sistema de saúde já enfrenta sérias dificuldades, a concentração de recursos financeiros deve ser feita em setores cruciais ao combate da Covid-19, como aquisição de equipamentos de proteção, assistência aos profissionais de saúde, melhor comunicação do governo com a população, etc.

“Sugerir que recursos sejam desviados para a promoção de práticas baseadas em supostas ‘evidências’ cuja qualidade ninguém se deu ao trabalho de avaliar é um desrespeito à gravidade do momento vivido pela nação”, diz Pasternak. “Se a preocupação é a saúde mental, o Conselho Nacional de Saúde teria agido melhor se recomendasse ações de promoção do bem-estar que têm embasamento científico adequado.”


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Coronavírus e tireoide: 5 perguntas e respostas

Para fechar o mês de maio, dedicado à tireoide, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo decidiu esclarecer dúvidas comuns sobre o coronavírus entre quem possui algum problema nessa glândula. A entidade escalou a médica Carolina Ferraz para abordar como a Covid-19 pode interferir no tratamento e no diagnóstico de hiper e hipotireoidismo e de nódulos ou câncer na tireoide.

Vamos às perguntas:

1. Estou infectado com o coronavírus. Devo suspender a medicação para hiper ou hipotireoidismo?

Seja para o hipotireoidismo ou para o hipertireoidismo, o remédio deve ser mantido.Não mude a dosagem do tratamento sem indicação médica.

O recado mais importante: indivíduos com esses distúrbios não integram o grupo de risco do coronavírus. Isso significa que eles não são especialmente suscetíveis a suas complicações, embora possam sofrer com elas, como qualquer um.

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2. Nódulo de tireoide é um fator de risco para complicações pelo coronavírus?

Não. Pessoas com nódulos também não entram no grupo de risco. Mas devem adotar medidas preventivas como toda a população.

3. E as pessoas com câncer na tireoide, fazem parte do grupo de risco para a Covid-19?

Em geral, não. Isso vale mesmo para quem passou pela cirurgia de retirada da glândula e se submeteu à terapia com iodo radioativo.

A única ressalva é para pacientes com metástases, principalmente nos pulmões. Esses indivíduos podem apresentar um maior risco de apresentar casos graves da infecção, tanto pela extensão da doença quanto pelos possíveis efeitos dos medicamentos. A recomendação é buscar orientação médica.

4. Minha cirurgia para retirar a tireoide foi adiada. Meu nódulo pode virar um câncer por causa dessa demora?

Não. Vale lembrar que o percentual de nódulos da tireoide que evoluem para câncer gira em torno de 5-10%. E leva muito tempo para isso acontecer.

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Portanto, muito dificilmente esse atraso trará qualquer repercussão. Se o médico cancelou a cirurgia, é porque ela não tem urgência. Mantenha a calma e o tratamento recomendado.

5. Biópsias para avaliar nódulos suspeitos na tireoide devem ser feitos agora?

A punção por agulha fina (PAAF), procedimento comum para fazer a biópsia, é considerada um procedimento eletivo nesses casos. Ou seja, não compromete a vida do paciente se for postergada. Esperar a pandemia passar é uma decisão prudente.


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14 livros por ano: os últimos (e produtivos) anos de Chico Xavier

Chico Xavier jamais abandonou o trabalho de psicografar. Se nos primeiros anos de mediunidade publicava dois livros por ano, a média subiu na mesma proporção em que sua fama aumentava. Nos anos 70, quando já tinha publicado mais de cem títulos, passou a lançar anualmente uma média de oito obras. Na década seguinte, subiu para 14. Paralelamente, nunca deixou de ampliar os trabalhos de caridade bancados pela venda dos exemplares.

O primeiro sinal de cansaço veio com uma crise de angina, um estreitamento das artérias que levam sangue ao coração, causando dores no peito. Foi em 1976 e fez o médium reduzir o número de viagens e cancelar presença em homenagens e entrega de prêmios. Também passou a circular menos em público e reduziu o tempo de participação nas sessões no centro espírita, onde continuava a escrever mensagens que supostamente os mortos enviavam para consolar seus familiares. Voltou a ser notícia quando amigos e admiradores organizaram sua candidatura ao Prêmio Nobel da Paz de 1981, concorrendo com o Papa João Paulo II e com o líder grevista polonês Lech Walesa. O vitorioso, porém, não foi uma pessoa, mas um órgão: o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados.

Nos anos seguintes, a saúde de Chico Xavier ficaria cada vez mais debilitada. Em 1987, uma pneumonia aliada a uma infecção renal o colocaram de cama por mais de um mês. Nova pneumonia atingiu o médium quatro anos mais tarde. Em 1995, um enfisema pôs Chico na cadeira de rodas. Estava magro. As crises de angina eram constantes. Não tinha mais forças para dar conta dos milhares de visitantes que continuavam indo a Uberaba na esperança de falar com ele. Vez ou outra recebia algum fiel mais desesperado ou então algum famoso em busca de consolo, como a escritora Glória Perez, mãe da atriz Daniella Perez, assassinada em 1992. Passaria seus últimos anos entre idas e vindas aos hospitais.

<strong>Cerca de 120 mil pessoas foram ao funeral de Chico, em 2002.</strong>Alex Silva/Superinteressante

Chico Xavier morreu no dia 30 de julho de 2002, aos 92 anos, na cidade de Uberaba. Era um domingo especial para os brasileiros, que festejavam a conquista da quinta Copa do Mundo de futebol, vencida no Japão. O médium tinha acabado de rezar, deitado em sua cama, quando o coração parou de bater, um pouco depois das 19h30. Durante dois dias, admiradores formaram fila de 4 quilômetros para se despedir. Caravanas chegavam às pressas à cidade. As autoridades apontaram 120 mil pessoas no funeral. No cortejo até o cemitério, eram mais de 30 mil.

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Em 75 anos de mediunidade, Chico conseguiu fazer do Brasil a maior nação espírita do mundo e tornar a religião conhecida e respeitada. Há muito tempo era a figura religiosa mais famosa do País. O médium afirmou que não se manifestaria logo do mundo espiritual, mas, antes de partir, deixou uma senha, ou seja, um código secreto para evitar charlatanismo e confirmar a autenticidade de mensagens suas quando enfim resolver se comunicar direto do plano dos mortos. A chave para o contato com Chico no além foi entregue ao filho adotivo do médium, Eurípedes Higino Reis, ao médico Eurípedes Tahan e à amiga Kátia Maria, que morreu em 2012. Os fiéis espíritas seguem no aguardo. O trabalho de Chico, entretanto, transcendeu a morte do homem. Suas cartas, livros e polêmicas seguem inspirando e intrigando.


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Após adiamento, missão tripulada da Nasa com SpaceX deve ocorrer sábado (30)

O mundo inteiro esqueceu do coronavírus por algumas horas da última quarta (29), durante os preparativos para um acontecimento histórico: para as 17h33 daquele dia, no horário de Brasília, estava marcado o lançamento da primeira missão da Nasa à bordo de um foguete projetado e fabricado pela iniciativa privada – O Falcon 9, da SpaceX de Elon Musk. Infelizmente, o céu fechou e o lançamento foi adiado.

O mau tempo foi passageiro, mas não é possível atrasar 10 ou 20 minutinhos quando o assunto é uma viagem à órbita da Terra – qualquer atraso, por mais insignificante que pareça, é suficiente para tirar a cápsula Crew Dragon da rota necessária para ancorar na Estação Espacial Internacional (ISS), destino dos astronautas Robert Behnken, 49 anos, e Douglas Hurley, 53. 

O lançamento foi remarcado para este sábado (30), às 16h22 no horário de Brasília. Nesta sexta, pela manhã, a 45a Ala Espacial da Força Espacial americana (USSF), responsável por operar a base de Cabo Canaveral, na Flórida, informou que há 50% de chance do tempo colaborar. Caso ainda haja nuvens demais, há uma chance ligeiramente maior de conseguir um céu de brigadeiro no domingo (31), pontualmente às 15h00.

É preciso monitorar não apenas a Flórida mas uma grande faixa de oceano do Atlântico Norte, que corresponde à área onde os astronautas poderiam cair se precisassem ejetar na eventualidade de um acidente. É importante garantir que embarcações e aeronaves de resgate sejam capazes de alcançá-los sem encarar um mar revolto ou nuvens de chuva caso algo dê errado.

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Até 2011, a Nasa supria a ISS usando os ônibus espaciais – que decolavam na vertical, com o auxílio de um foguete, mas depois reentravam na atmosfera da Terra e pousavam planando, como um avião com os motores desligados. Quando essa tecnologia foi aposentada, eles passaram a depender da Soyuz russa. É uma nave antiga e confiável, com 153 missões no currículo – registrou apenas um acidente fatal desde 1967, data de sua estreia. 

Cada astronauta enviado para treinamento na Rússia sai US$ 86 milhões para a Nasa – além do período de adaptação ao hardware soviético, eles precisam decolar da base de Baikonur, construída no Cazaquistão na época em que o país era parte da USSR. Sai caro, mas não tanto quanto um lançamento da Artemis – o foguete mais moderno construído pela Nasa, que sequer está pronto para operar, custaria algo entre US$ 500 milhões e US$ 900 milhões por lançamento. 

O Falcon 9 de Elon Musk resolve dois problemas. O primeiro é tornar os EUA independentes da tecnologia russa – algo útil já que a relação entre os dois países azedou ligeiramente desde a troca de afagos no pós-Guerra Fria, quando a construção da ISS marcou uma era de cooperação. O segundo é uma missão de Falcon 9 sai por “só” US$ 90 milhões, um décimo do custo projetado para a Artemis. De quebra, a SpaceX oferece algo que os russos não têm: o Falcon Heavy, um foguete mais parrudo capaz de chegar à Lua.

Nosso satélite natural, que não recebe humanos desde as últimas missões Apollo na década de 1970, voltou a ser cobiçado por Índia, China e os próprios EUA – uma história que você entende melhor nesta reportagem.


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Cientistas brasileiros associam o novo coronavírus a lesões na retina

Em 2015, quando a infecção por zika estourou no Brasil, um time de cientistas brasileiros notou que crianças acometidas por esse agente infeccioso apresentavam alterações oculares. “Com base nessa experiência, sabíamos que havia a possibilidade de a mesma coisa acontecer com o novo coronavírus”, conta o oftalmologista Rubens Belfort Jr., professor na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Dito e feito: após avaliarem 12 pacientes de 25 a 69 anos com Covid-19, o médico e outros pesquisadores identificaram lesões na retina dos indivíduos. O trabalho foi publicado no renomado jornal científico The Lancet.

Vale lembrar que, até agora, a única manifestação descrita dessa doença nos olhos era a conjuntivite. “O vírus invade as células e causa uma inflamação aguda ali”, explica Belfort Jr.

Mas, ao contrário do que ocorre na conjuntivite, em que há vermelhidão e secreção, o impacto na retina não é percebido a olho nu. Tanto que, para flagrá-lo, os cientistas submeteram os voluntários a um exame de tomografia de coerência óptica (OCT). Trata-se de uma técnica de imagem não-invasiva e supersensível — é como se ela tirasse fotografias.

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O médico faz questão de frisar que essas microlesões ainda não foram associadas a problemas na visão. “Nenhum dos pacientes examinados até agora apresentou cegueira ou algo assim”, tranquiliza Belfort Jr. Eles não sentiam absolutamente nada de diferente.

Mas então qual a importância de detectar lesões na retina provenientes do coronavírus? O professor da Unifesp lembra que essa estrutura ocular está intimamente ligada ao cérebro e, portanto, é capaz de trazer informações sobre o que estão acontecendo com os neurônios. “É como se ela fosse o buraco da fechadura”, compara.

Belfort Jr. comenta que os achados desse trabalho podem ajudar a desvendar se as manifestações na retina são, na verdade, sinais de prejuízos que estão ocorrendo no sistema nervoso central (SNC) e também no sistema vascular.

Em resumo, há a possibilidade de um simples exame nos olhos auxiliar na identificação de complicações da Covid-19 no cérebro, o que já foi observado em estudos anteriores. Aliás, cada vez mais pesquisas mostram que essa doença afeta diferentes cantos do corpo — não só os pulmões.

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Os próximos passos

Nesse trabalho, os cientistas optaram por selecionar voluntários que não chegaram a ser intubados por causa do coronavírus. Isso para que os resultados do artigo não fossem confundidos com eventuais lesões na retina provocadas pelo tratamento mais agressivo. Eles também decidiram focar em uma faixa etária mais jovem, já que os idosos poderiam apresentar lesões prévias nos olhos, bagunçando as descobertas.

Tendo maior confiança de que o novo coronavírus está por trás dessa manifestação na retina, Belfort Jr. e sua equipe já estão avaliando um número maior de pacientes, incluindo os que desenvolveram a forma mais grave da Covid-19 e crianças.

O objetivo é investigar se, com o tempo e em diferentes condições, as tais lesões desaparecem ou mesmo aumentam, se trarão prejuízos visuais, se realmente são indícios de comprometimentos neurológicos, entre muitas outras coisas… Principalmente quando há um vírus novo em jogo, cada descoberta gera um monte de novas perguntas.


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