O fato de aviões se locomoverem pelo ar, onde não há estradas nem pedágios, não os exime de seguir rotas pré-programadas. Ter caminhos para seguir lá em cima, aliás, ajuda as viagens em vários aspectos. Além de manterem a ordem no tráfego aéreo – e evitar colisões a 10 mil metros de altura – as rotas que cada avião traça no céu também são pensadas para otimizar tempo e combustível.
Como? Graças às “correntes de jato” (jet streams), massas de ar em movimento que se distribuem no globo de forma bastante particular – como você pode ver neste mapa interativo. Elas são fruto de diferenças de temperatura entre os pólos e a região do Equador e podem servir como uma ajudinha extra no percurso. Se exploradas da forma correta, é claro.
É por causa desses “atalhos” que voar de Nova York para Los Angeles demora uma hora a mais do que cumprir o roteiro Los Angeles-Nova York, por exemplo. Ir de Tóquio para Los Angeles, por sua vez, pode ser 30% mais rápido – graças à corrente de jato do Pacífico. Também com a ajuda do vento, o roteiro entre EUA e Reino Unido pode ser, em alguns trechos, cumprido com velocidade até 160 km/h superior em relação ao solo.
A escolha por usar atalhos do tipo, no entanto, pode implicar em uma viagem um pouco mais atribulada. E hoje, com o aumento das temperaturas, essa relação nunca foi tão clara. Isso porque correntes de jato estão mais agitadas atualmente do que eram 1979 – ano dos primeiros dados do tipo foram coletados. Foi o que descobriram meteorologistas da Universidade de Reading, na Inglaterra, em um estudo recém-publicado na revista científica Nature.
O estudo foca em correntes de jato de uma região específica do planeta: o Atlântico Norte, que compreende as águas atlânticas que ficam acima da linha do Equador. Ela é um dos principais corredores aéreos do mundo, por onde cruzam pelo menos 3 mil voos todos os dias. Principalmente durante o inverno, voos que passam por lá acabam expostos aos efeitos da corrente de jato polar durante boa parte da viagem. É nela que está o pulo do gato.
Segundos os pesquisadores, voar pelo Atlântico Norte vem ficando mais difícil graças à intensificação das mudanças climáticas, que alteram o comportamento da corrente de jato polar.
Isso acontece porque o aumento das temperaturas diminui a amplitude térmica entre a região polar e a do Equador. Para que uma corrente de ar seja mais forte, o ideal é que aconteça o contrário: a diferença nos termômetros precisa ser mais drástica.
Em correntes de jato mais fracas, os aviões ficam 15% mais suscetíveis (entre 1979 e 2017) ao fenômeno de cisalhamento do vento, ou cortante do vento, o grande vilão da história.
O tal cisalhamento do vento é uma das principais causas de turbulências em aviões. Ele ocorre quando os ventos mudam de velocidade ou direção bruscamente, por conta de mudanças na altura do voo. E se repete sempre que a aeronave sai de uma altitude mais baixa para outra mais alta, ou vice-versa. Se a ventania na parte de cima está mais quente do que deveria, isso demanda um ganho maior de velocidade, ou uma desaceleração mais intensa – o que causa turbulência.
Uma pesquisa anterior, assinada pelo mesmo grupo, sugere que voos turbulentos são um fenômeno que deve se tornar cada vez mais frequente. Se nada for feito para frear as mudanças climáticas, podemos esperar altas de 59% no número de turbulências leves, 94% nas turbulências moderadas e 149% nas turbulências severas.
“Uma intensificação da turbulência pode ter consequências importantes para a aviação. A turbulência pode causar danos às aeronaves e é a causa por trás do medo que muitas pessoas têm de viajar de avião”, diz o estudo.
Sendo assim, vale lembrar sempre que, para sua segurança, senhores passageiros, é bom manter os cintos afivelados durante todo o voo.
Voos estão mais turbulentos. E o aumento das temperaturas tem influência nisso Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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