segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dicionário Oxford escolhe a palavra do ano

Todo fim de ano é a mesma coisa: confraternizações na firma, festas de Natal e a seleção da “palavra do ano” por dicionários gringos. Muito mais do que apenas uma palavra, o termo escolhido procura representar o que marcou o ano como um todo — e essa escolha pode provocar reflexões e até ‘polêmicas’.

Dois casos exemplificam bem isso: em 2015, o famoso dicionário Oxford (editado pela universidade de mesmo nome) fez uma escolha controversa, elegendo como palavra do ano o ‘emoji que chora de rir’. Muitos linguistas não receberam bem a decisão, alegando que era uma afronta ao alfabeto. Já em 2016, a escolha provocou reflexão: o mesmo dicionário inglês elegeu o termo “pós-verdade” como palavra do ano. O termo, que até então era pouco conhecido, se refere a algo bem atual: a era da “pós-verdade” é aquela em que crenças pessoais têm mais peso do que fatos.

Agora: 2018. Escolher uma só palavra para definir este ano deve ter sido um desafio, vide vários acontecimentos marcantes: crescimento de uma onda conservadora mundial (no Brasil, com um processo eleitoral extremamente polarizado), grande número de denúncias de assédio contra mulheres vieram a tona, um livro revelou boicotes feitos ao presidente norte-americano Donald Trump pelos próprios assessores dele e até a Alemanha deu vexame na Copa do Mundo. O dicionário Oxford cravou: a palavra de 2018 é “tóxico”.

Toxic, do inglês, significa basicamente poisonous, venenoso. “Em seu uso original e literal, para se referir a substâncias venenosas, o ‘tóxico’ tem estado presente nas discussões sobre a saúde de nossas comunidades e do meio ambiente”, afirmou o comunicado de anuncio da escolha. Um exemplo concreto disso este ano foi a grande discussão em torno da toxicidade do plástico: o Dia Mundial do Meio Ambiente, organizado pela ONU em 2018, colocou essa questão como seu tema principal, e houve uma forte onda mundial pela redução do uso de canudos plásticos, por exemplo.

Apesar da importância literal, foi também pela versatilidade da palavra que ela foi escolhida: “De ‘ar tóxico’ a ‘política tóxica’, o escopo de sua aplicação em 2018 tornou “tóxico” a escolha para nossa Palavra do Ano (…). Este ano, mais do que nunca, as pessoas têm usado ‘tóxico’ para descrever uma vasta gama de coisas, situações, preocupações e eventos”. Ainda de acordo com o anúncio, o termo “decolou para o campo da metáfora, já que as pessoas procuraram a palavra para descrever locais de trabalho, escolas, culturas, relacionamentos e estresse”.

No vídeo abaixo, você pode conferir o anúncio e mais sobre esses usos não literais:

De acordo com a Universidade de Oxford, os candidatos à Palavra do Ano são extraídos de dados reunidos por um extenso programa de pesquisa de idiomas, incluindo o Oxford Corpus, um conjunto de artigos extraídos de 10 mil sites, formando uma massa de texto com 150 milhões de palavras. Softwares sofisticados permitem que os especialistas identifiquem palavras novas e populares e examinem as mudanças na forma como palavras mais “velhas” e estabelecidas estão sendo usadas.

“Tóxico”, que teve um aumento de 45% das pesquisas no dicionário britânico em 2018, foi escolhida entre diversas outras palavras de uma enorme lista selecionada pelos dados. Uma das outras fortes candidatas era a polêmica “incel“, abreviação de “involuntariamente celibatário”, que faz referência a um grupo de homens que alimentam ódio pelas mulheres porque elas não querem ter relações sexuais com eles. 

Aliás, a chefe das edições americanas do dicionário, Katherine Connor Martin, disse ao New York Times que a comissão da universidade cogitou eleger “masculinidade tóxica” como a palavra do ano. “Masculinidade” foi a segunda palavra mais associada a “tóxico” nas pesquisas em 2018, perdendo apenas para “químicos”. Mas a comissão optou pelo adjetivo isolado para destacar o uso mais abrangente do termo.

Mas não foi só a instituição britânica que já cravou o resumo de 2018: para o famoso dicionário online Dictionary.com, a palavra do ano é “informação errada” (misinformation), fazendo referência ao ano das fake news; já o Collins Dictionary escolheu “uso único” (single-use), lembrando como a utilização de produtos “descartáveis”, feitos para serem usados uma vez e jogados fora, aumentou em 2018. Todas essas palavras deixam claro: o ano não foi fácil.


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