sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

É possível aproveitar a energia elétrica dos raios?

Não. Pelo menos na prática: ainda não temos nenhum equipamento capaz de captar e armazenar a energia de raios. Mas não fique decepcionado com a ciência. Mesmo que fosse possível, provavelmente não valeria a pena.

Isso porque um raio pode até assustar com seu clarão repentino e sua aparência ameaçadora, mas eles não são lá muito fortões. A energia de um raio é, em média, de apenas 300 KWh. É bem pouco — equivale ao consumo mensal de uma pequena casa brasileira, aproximadamente. Existem raios mais energéticos, é claro, mas mesmo esses não são bons candidatos, porque dificilmente um equipamento conseguiria capturar toda a energia sem que houvesse perda no meio do caminho.

Alguns cálculos estimam que, se toda a energia de todos raios do mundo fosse coletada integralmente, o resultado só abasteceria a humanidade por pouco mais de uma semana. 

Isso sem falar que a maioria das descargas elétricas sequer chega ao chão. Elas ficam escondidinhos nos meios das nuvens durante as tempestades (são os chamados relâmpagos intranuvem ou relâmpagos nuvem-nuvem). E os 30% que de fato conectam o céu e o solo são bem espalhados pelo planeta Terra. Dificilmente um único ponto recebe mais de 20 raios por ano, por exemplo. 

Mas vamos supor que, no futuro, algum bilionário meio amalucado decida investir no negócio de captação de energia de raios, sem se preocupar com lucro ou prejuízo. Nesse caso, não existe nenhum impedimento teórico para a façanha. Mas um investimento pesado em estruturas inéditas teria que ser feito.

Primeiro, seriam necessárias torres muito altas, espalhadas pela área em distâncias não muito grandes. Segundo, esses equipamentos teriam que agir muito rapidamente — um raio dura menos que metade de um segundo, e cada descarga que o compõe dura apenas frações de milésimos de segundos. Captar, transferir e armazenar toda a energia de um raio nesse tempo minúsculo é muito difícil para nossas tecnologias atuais. Os condutores, por exemplo, teriam que ser extremamente resistentes a altas temperaturas, ou eles simplesmente derreteriam no processo. 

Até existem alguns modelos teóricos para isso, e experimentos em laboratório já conseguiram captar energia de pequenos raios artificiais. Mas, em grande escala e na natureza selvagem, seria praticamente impossível.

Se as leis da física e de tudo que conhecemos fossem diferentes e essa técnica fosse possível de alguma forma, nós, brasileiros, provavelmente sairíamos na frente do mundo — o Brasil é campeão mundial em incidência de raios no mundo, com 77.8 milhões por ano.

Mas já sabemos que não é muito sábio esperar a energia cair do céu. Pelo menos não na forma de descargas elétricas: a energia solar é uma alternativa viável, renovável e não tão cara de conseguir energia. E bem menos assustadora.

Fontes: Dr. Osmar Pinto Junior, Coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Universidade da Flórida.


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