quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Por que sentimos vontade de esmagar coisas fofas

Não é preciso ser muito velho para ter na mente a imagem da Felícia – a “vilã” dos Looney Tunes, que apertava sem parar qualquer animal fofo que lhe aparecia pela frente. Uma referência mais recente (mas nem tanto) é de Darla, em Procurando Nemo, que de tanto “amar” peixinhos, cutuca e sacode os bichos até não poder mais.

Nem só vilões de desenho animado, porém, são culpados de impulsos agressivos ao se deparar com uma situação fofa, como uma foto de cachorro, ou um bebê gordinho. 

Esmagar, apertar, morder: todos esses comportamentos  – ou, melhor, impulsos (estamos considerando, aqui, que você resiste a esses instintos e não sai esmagando ninguém por aí) – são chamados coletivamente de cute aggression, algo como Agressão Fofa. E, acredite se quiser, esse é um fenômeno estudado por algumas das melhores universidades do mundo.

Já há alguns anos a Universidade Yale tornou “cute agression” um termo oficialmente acadêmico, provando que pessoas expostas a imagens fofíssimas estouram mais plástico-bolha do que pessoas que observam fotos corriqueiras.

Mas isso não indicava grandes coisas quanto ao motivo. Até porque a Agressão Fofinha não é um fenômeno universal. Tem gente que sente, e tem gente que não. Como explicar o motivo?

Outra universidade – dessa vez a da Califórnia, em Riverside – veio ao resgate. Em um estudo recém-publicado, pesquisadoras observaram o que acontece dentro do cérebro quando alguém sente a tal Agressão Fofinha.

Foi o primeiro estudo do tipo já feito. 54 voluntários foram expostos a imagens fofas (insira aqui qualquer filhote de mamífero) e imagens não-fofas (uma banana? algo neutro quanto à fofura). A atividade cerebral deles era monitorada a cada instante.

Combinando esses exames de imagem e entrevistas com os participantes, as pesquisadoras concluíram que a reação de Agressão à Fofice está associada a dois fatores: um estímulo muito grande ao sistema de recompensa do cérebro (ou seja, alguém que deriva muito prazer daquele objeto fofo) e uma sobrecarga do sistema que processa emoções.

Quanto menor era o prazer que alguém sentia ao ver um bebê ou um cãozinho fofo, menor a chance de sentir a tal agressividade – cerca de 35% dos participantes não sabia o que era a “vontade de apertar essa fofurinha”. Os demais, porém, estavam bastante acostumados com esse sentimento.

Os resultados indicam, ainda, que a cute aggression é uma resposta desenvolvida para dar basta a uma espécie de “pane” no cérebro. A sensação de overdose de fofura pode ser exatamente o que o cérebro sente, em nível fisiológico: uma incapacidade de lidar com o tanto de estímulos derivados da mera visão de um serzinho lindo e indefeso.

O problema é que, justamente por ser indefeso, aquele serzinho precisa de cuidados. A nível evolutivo, ninguém cuida de um bebê porque sabe que é o seu dever: nossos instintos são programados para suprir as necessidades daquela criança (e de qualquer coisa que se pareça com ela, como um filhote de cachorro. Sim, cachorros se parecem com bebês, nós garantimos).

Um grande estímulo para tais instintos é, de fato, a fofura. Mas se ela sobrecarrega os “processadores” de fofura, e impede que o cérebro do adulto funcione direito, isso não serve de nada para a sobrevivência da espécie, certo? E, na tentativa e erro, como tudo se faz quando o tema é evolução, um mecanismo para impedir essa pane de sistema foi se desenvolvendo. Temos aí a hipótese mais bem fundamentada, até agora, para explicar a cute agression.


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