quinta-feira, 27 de junho de 2019

Como funcionam as viagens do avião presidencial?

Um segundo-sargento da Força Aérea (FAB) embarcou em um dos aviões que dão apoio à comitiva do presidente Jair Bolsonaro com destino a Sevilha, na Espanha, carregando 39 kg de cocaína. Ele foi preso ontem (26) pelas autoridades espanholas.

O caso gerou muitas dúvidas: por que há mais de um avião na comitiva? O segundo-sargento está diretamente subordinado à comitiva do presidente ou ele é só um militar comum – que também atende viagens empreendidas por ocupantes de outros cargos importantes? Vamos explicar tudo aí embaixo.

Um complexo plano de ação é montado para transportar um chefe de Estado brasileiro. A organização é composta por dezenas de pessoas e dura bem mais tempo do que a própria estadia do eleito no país estrangeiro.

A primeira parte começa assim que o presidente é convidado para um outro país. A equipe oficial se distribui e delega as atividades de cada um. O Escalão Avançado, também conhecido como ESCAV, é montado. Ele se encarrega de organizar todos os detalhes da viagem in loco, ou seja: precisa estar no local de destino do presidente antes que ele chegue.

Esse primeiro avião sai do Brasil com algo entre sete e cinco dias de antecedência. O ESCAV é composto por assessores, seguranças, diplomatas, oficiais de telecomunicações, as pessoas responsáveis pelo cerimonial e outros funcionários de menor patente. Algumas outras pessoas também podem pegar “carona” nesse avião, mas não é qualquer um: normalmente são políticos ou jornalistas que irão fazer a cobertura da viagem para a imprensa.

Ao chegar lá, o Escalão Avançado tem uma série de tarefas a fazer. O ideal é que eles tenham pelo menos três dias úteis para resolver tudo. Eles participam de reuniões, verificam a segurança dos locais que o presidente irá frequentar, montam planos de evacuação, verificam saídas de emergência, fazem recomendações e até planejam a disposição dos quartos da equipe oficial no hotel. O médico da equipe, por exemplo, deve ficar no quarto ao lado ou próximo do presidente, caso alguma emergência aconteça durante a noite.

A equipe de telecomunicações também precisa montar uma base no hotel. Eles garantem a segurança dos telefones que serão usados pela equipe. Além disso, o ESCAV também organiza o descolamento do presidente durante a viagem, garantindo que ele não passe por áreas inseguras, por exemplo. Tudo é feito para que a estadia do presidente se assemelhe ao máximo com as condições em que ele se encontra em Brasília.

Vale reforçar que nenhuma dessas pessoas voa no mesmo avião que o chefe de Estado. O famoso “Aerolula” — uma versão executiva do Airbus A319 — é reservado ao presidente e sua comitiva mais próxima. 

O nome oficial da aeronave presidencial é Airbus VC-1A, mas ela não recebeu o apelido à toa. Ela foi adquirida pelo ex-presidente Lula em 2005, em substituição aos Boeings 707 — também conhecidos como “sucatões” — usados pela presidência anteriormente. O Airbus VC-1A também foi usado por Dilma, Temer e, atualmente, Bolsonaro.

O Airbus se assemelha superficialmente a um avião comercial (a Latam, inclusive, usa esse modelo), mas o executivo vem com alguns detalhezinhos extras. Ele tem um quarto com cama, armário, TV e banheiro com chuveiro para o presidente. Além disso, ele também tem uma sala de reunião e poltronas para o resto da equipe que estiver no mesmo voo. 

O presidente viaja com seguranças, assessores, pessoas do cerimonial e um médico — uma equipe parecida com o grupo de pessoas que vai antes. A diferença é que essa equipe é formada pela alta patente, os chefes de cada setor. Eles são mais próximos do presidente e costumam estar com ele em todos os momentos.

A tripulação dos aviões é formada pelo Grupo de Transporte Especial (GTE), da Força Aérea Brasileira. Esse é um grupo composto por militares especializados no transporte dos detentores de cargos altos, como ministros, o vice-presidente e — é claro — o próprio presidente. É a esse grupo que pertencia o segundo-sargento. 

O embarque desses aviões também não acontece nos terminais normais de passageiros. Ele se passa em um terminal militar, onde são feitos os procedimentos de segurança. Os passageiros desses aviões passam por revistas e raio X, assim como em voos comerciais. Acontece que normalmente tudo se passa entre pessoas conhecidas, então não é incomum que os procedimentos sejam menos rigorosos.

A segurança no local de chegada já é outra história. Toda a rota do avião deve ser autorizada por cada país que irá passar. A segurança no desembarque também depende da rigidez do país.

Até um terceiro avião de apoio é necessário para garantir que tudo dê certo. Ele pode ficar nas redondezas do local em que está o presidente. O avião serve como uma reserva caso algo dê errado com o avião presidencial ou o outro avião de apoio. Ele também é preparado para transportar o presidente e sua equipe se for necessário.

[Nota: as informações foram passadas à SUPER por uma fonte que já participou de várias comitivas presidenciais, em diversos governos.]


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