quinta-feira, 27 de junho de 2019

É fake: homem-múmia passa um mês refém de urso na Rússia

Se você lê tabloides russos – o que, admitimos, é bem improvável –, seria bacana repensar seus hábitos. Veículos jornalísticos e redes sociais de vários países foram à loucura esta semana com a notícia de um homem que teria passado um mês como refém de um urso nos rincões da Sibéria – e sobreviveu para contar a história. Pena que era uma história de pescador. 

O resumo da ópera vai assim: um vídeo amador gravado com celular mostra imagens de um sujeito em estado tão lastimável que mais parece ter sobrevivido a uma batalha da Primeira Guerra. Seu rosto e corpo estão tomados por graves ferimentos, inflamações e partes da pele em carne-viva. Só se ouve sair de sua boca o nome “Alexander”. Segundo o obscuro site de notícias russo EADaily, o homem teria sido resgatado da floresta por cães de caça.

Viralizou, é claro. Afinal, tinha requintes de crueldade: o EADaily afirmou que Alexander havia sido encontrado praticamente mumificado, mas ainda vivo, após passar um mês acossado no covil do urso se alimentando da própria urina.

Pena que ninguém checou a fonte. Conforme relatou Alexei Demin, editor do EADaily, ao jornal britânico The Independent, o vídeo foi parar na redação por meio de uma fonte local que diz ter recebido o material “de amigos caçadores via redes sociais”.

O dedo de Demin claramente coçou muito e ele apertou o botão “publicar” antes de conferir a veracidade da história. Mas os cliques vieram aos montes: o artigo foi sucesso absoluto na internet. Consagrou-se, disparado, como a matéria mais popular do site, tendo atingido algo em torno de 300 mil visualizações.

Calhou que o tal homem-múmia era figurinha repetida.

Uma semana antes, mais especificamente no dia 19 de junho, a mesma filmagem havia viralizado, só que contando um causo diferente. Ambas têm em comum o nome do sujeito, Alexander, e o fato de que ele teria sobrevivido milagrosamente. Adolescentes da cidade de Sóchi, destino turístico na Rússia às margens do Mar Negro, postaram nas redes sociais fotos e vídeos de um suposto “morto-vivo” que emergiu da terra em um cemitério local.

Essas imagens, é claro, eram exatamente as mesmas do “homem-múmia” sequestrado pelo urso. Autoridades de Sóchi se manifestaram esclarecendo que nenhum corpo ou fenômeno paranormal foram registrados em meio às sepulturas, e a polícia de Tuva, cidade siberiana dos tais “caçadores”, acusou o EADaily de forjar a história do urso.

A qualidade do vídeo explica, em partes, o fato de ter enganado tanta gente: ele mostra um alto nível de profissionalismo (veja por sua conta e risco, não vamos dar um link). É provável que os autores tenham usado um boneco ou até mesmo efeitos especiais. Ainda não se sabe se há interesses comerciais por trás da viralização, ou se tudo não passou de uma grande zoeira nonsense. Mais uma prova de que, se está na internet, (não) deve ser verdade.


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