quinta-feira, 25 de julho de 2019

Por que o aquecimento global não é só uma variação climática natural

A vida no planeta Terra é feita de ciclos. Glaciações que cobriram a superfície de gelo seguidas por altas nas temperaturas, por exemplo, são eventos que já se repetiram algumas vezes – com intensidades e consequências diversas.

Mas não é preciso nem voltar à época dos mamutes e preguiças gigantes para observar pontos fora da curva na dinâmica climática do planeta. Sabe-se que existiu, por exemplo, uma pequena Era do Gelo entre os anos 1300 e 1850 – o rio Tâmisa, na Inglaterra, chegou a congelar no século 17. Já ao longo de três séculos da era medieval, o problema foi o calor excessivo – algo que, segundo registros, também marcou a decadência do império romano.

Exemplos como os listados acima são a principal arma daqueles que se recusam a acreditar nas evidências científicas sobre o aquecimento global. Afinal, se a Terra vive trocando de temperatura e alternando períodos congelantes e escaldantes, por que não acreditar que o que estamos vivendo atualmente não é parte de um processo natural?

O problema é que, de uns tempos para cá, a chapa só esquentou. Ainda que certas regiões tenham sofrido com temperaturas abaixo do esperado – e que, vez ou outra, você sofra de frio fora de época – é consenso de que, pelo menos nos últimos duzentos anos, a Terra esteve, no geral, mais quente.

A temperatura média global era pelo menos 1°C menor no período pré-industrial. Não precisa ser bom de matemática para associar o índice ao início da contribuição humana em larga escala para a emissão de gases nocivos ao ambiente, que contribuem para o aumento da temperatura.

Ou seja: por mais que o clima do planeta tenha mesmo suas “indas e vindas” ao longo do tempo, ele jamais registrou flutuações tão drásticas em um período tão curto como o de agora. E isso fica ainda mais escancarado se olharmos apenas para os dois últimos milênios, segundo uma série de novos estudos publicados nas revistas científicas Nature e Nature Geoscience.

Como você pode imaginar, não existiam termômetros humanos marcando as variações de temperatura há 2 mil anos. Mas há outras maneiras de saber, olhando a natureza, quando o clima esteve mais frio ou quando fez mais calor.

Os levantamentos dos estudos consideram mais de 700 evidências desse tipo, que permitem a estimar temperaturas de diferentes momentos. Elas incluem dados retirados da cobertura vegetal (anéis em troncos de árvores podem trazer insights climáticos, por exemplo), de sedimentos em lagos e oceanos, do derretimento de gelo e até formações de cavernas.

As informações apontam para a mesma conclusão: não houve nenhum outro período nos últimos 2 mil anos que a temperatura mudou de forma tão drástica quanto atualmente. Segundo as estimativas, a alta das temperaturas, hoje, aparece de forma sincronizada em 98% da superfície terrestre. Só 2% do planeta, portanto, não está tão quente como já foi em algum outro momento ao longo dos últimos 2 mil anos.

Olhando o para eventos de mudanças bruscas no clima dos últimos dois milênios, os cientistas concluíram que eles se estendiam a, no máximo, a metade do planeta. Isso quer dizer que, ainda que o Tâmisa tenha congelado no século 17, rios de outras localidades não ficaram obrigatoriamente alguns graus mais gelados. Isso permite dizer que o momento atual é diferente do observado em outros episódios de mudança brusca da temperatura no período, quando as alterações eram globais, e não locais.

Além disso, há outro fator crucial: segundo os pesquisadores, enquanto as demais flutuações de temperatura tinham como causa fenômenos naturais, como erupções vulcânicas massivas, o aquecimento global conta com os gases de efeito estufa saindo das chaminés humanas. Estima-se que, em 2017, as concentração de gás carbônico na atmosfera era 146% maior do que na era pré-industrial.


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