Tem dia que os astrônomos acordam inspirados. Quando isso acontece, meu amigo, é bom se preparar – daí vem coisa boa, de virar de cabeça pra baixo nossa visão de mundo.
Recentemente, Jessie Christiansen, especialista em exoplanetas da Nasa, teve um desses dias. Ela estava num evento de observação das estrelas no Caltech, o Instituto de Tecnologia da Califórnia, quando teve uma baita sacada.
Christiansen, enquanto jogava conversa fora, comentou com os colegas que, nos tempos remotos em que os dinossauros andavam sobre a Terra, nosso Sistema Solar estava do outro lado da Via Láctea.
O efeito foi imediato: os participantes ficaram completamente boquiabertos. E caiu a ficha para ela que a maioria das pessoas nunca tinha pensado na escala de tempo geológica e astronômica ao mesmo tempo. E que a conclusão simples, de que “os dinossauros tinham vivido do outro lado da galáxia”, era tão incrível que parecia inventada – só que era verdade.
A pesquisadora resolveu ir mais a fundo. “Eu tive a ideia de que mapear a evolução dos dinossauros ao longo da rotação da galáxia.” Christiansen precisou de mais ou menos quatro horas para criar no PowerPoint (ouviu, Deltan?) uma animação incrível de “arqueologia galáctica”, que ela publicou (e viralizou) no Twitter.
O vídeo ficou genial porque mostra como a astronomia e a paleontologia combinam. Ambas trabalham com uma linha temporal parecida que lida com períodos longínquos ao extremo.
Além disso, a animação evidencia um fato que, apesar de óbvio, passa batido por muita gente: de que, assim como a Terra gira em torno do Sol, o Sol também gira em torno do centro da galáxia. Assim, todo o Sistema Solar (a Terra inclusa) passa o tempo todo viajando pela Via Láctea, e demora cerca de 250 milhões de anos para completar uma volta.
E adivinhe só? A era dos dinossauros ocorreu justamente quando o Sol estava do lado oposto da galáxia, com relação à posição atual.
Vale lembrar que os dinossauros demoraram muito para se tornarem espécies dominantes. Eles surgiram muito antes, num período chamado Triássico. E aí temos outra coincidência: a fase do Triássico foi justamente a última vez em que o Sol esteve na posição onde está hoje.
Levou, por tanto, exatamente meia volta galática entre o surgimento dos primeiros dinos e a total dominância deles no planeta, a famosa Era dos Dinossauros – coisa que aconteceu no período Jurássico e, principalmente, no Cretáceo.
Foi nesse último, que ocorreu no intervalo entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, que surgiram as espécies mais icônicas, como o Tiranossauro Rex, o Velociraptor e o Triceratops. Essas espécies, portanto, andaram sobre a Terra quando ela estava em uma região diametralmente oposta da que flutuamos hoje.
Vale notar, porém, que o movimento do Sol em torno do centro da Via Láctea não é perfeitamente circular. A coisa é um pouco mais complicada e caótica. Os sistemas planetários se movem em órbitas diferentes e em velocidades diferentes. Quanto mais para as bordas, mais lenta é a estrela, e além disso a própria galáxia está se movendo pelo Universo, na direção da nossa vizinha Andrômeda. Isso faz com que o movimento do Sol mais se pareça com uma espiral do que com um círculo.
O Sol, então, não retorna exatamente ao mesmo ponto – mas, grosso modo, pode-se dizer que sim. É que a órbita da nossa estrela mantém sempre uma distância parecida do centro da Via Láctea, apesar de seguir esse padrão espiralado.
Por isso nosso Sistema Solar não simplesmente atravessa o núcleo da Via Láctea — ainda bem. Por ser uma região bastante turbulenta, com muitas estrelas e altos níveis de radiação, provavelmente a vida no planeta não resistiria, seja ela composta por dinossauros ou mamíferos.
Mas a pergunta que não quer calar, e a mesma que Christiansen usa para encerrar sua animação, é: como estará a Terra em seu próximo aniversário galáctico? A história prova que, daqui a 250 milhões de anos, absolutamente tudo estará diferente.
Dinossauros viveram do outro lado da galáxia Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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