sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Luiz Felipe Pondé – A capacidade de incomodar todos os lados do debate

m filósofo que decidiu seguir uma trajetória de simplificação da linguagem para participar mais intensamente do debate público. E que assume Nelson Rodrigues e Paulo Francis como influências fundamentais em seu destino de polemista. “Sempre gostei do debate de ideias e sempre fui muito fiel ao que eu penso e ao que eu sinto. Ao ver algo de que discordo, sempre me pronunciei. E não sou uma pessoa que sofra com o que os outros pensam de mim, o que é uma arma polemista.”

Luiz Felipe Pondé estudou medicina na Universidade Federal da Bahia. Cursou filosofia e fez doutorado na USP e pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv. Chegou a vice-diretor da Faculdade de Comunicação da FAAP, onde também é professor de filosofia, e na PUC-SP, na qual ensina ciências da religião.

Mas hoje talvez ele seja mais conhecido por seus comentários e postura polêmica de direita em colunas de jornais e comentários em bancadas de estúdio de TV.

Em sua literatura transmissora de ideias, partiu de livros de propostas intelectuais mais restritas, como Comentários de Psicologia Pascalina (2001) e Crítica e Profecia: Filosofia da Religião em Dostoiévski (2003) para uma série recente em que aborda com linguagem coloquial temas como comportamento, relações amorosas, religião e ciências.

Essa série, em que procura mostrar como a filosofia de todos os tempos lida com assuntos que ainda estão na pauta cotidiana, tem títulos provocativos: Filosofia para Corajosos, Amor para Corajosos, Espiritualidade para Corajosos… Talvez penetrar no campo de debates do autor não exija tanta coragem assim, por sua forma atraente de abordar temas sisudos. Mas é preciso dizer que Pondé é bom de títulos para seus livros. Como em sua discussão sobre o desaparecimento da espiritualidade em Os Dez Mandamentos (+ um), que ganhou o subtítulo “Aforismos Teológicos de um Homem sem Fé”.

Pondé é um dos nomes fortes a sustentar um pensamento conservador no Brasil recente. Outras obras fadadas a polêmicas foram A Era do Ressentimento, na qual ele define ressentimento como “uma forma de cegueira espiritual”, e Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, que conseguiu a proeza de levantar objeções de lados opostos de longevas disputas ideológicas.

Eis um exemplo da verve de Pondé:
“Ao final, a praga do politicamente correto é apenas mais uma forma enraivecida de recusar a idade adulta e de aniquilar a inteligência. O que ela mais teme é a coragem. Por isso, diz que o povo é lindo quando não é; diz que as mulheres estão bem sozinhas, quando não estão; diz que a natureza é uma mãe quando ela é mais Medeia; nos proíbe de reclamar de gente brega ao nosso redor; mente sobre aqueles que lutaram contra a ditadura (eles não seriam muito melhores do que os torturadores se tivessem a chance de torturar alguém); nega a importância da culpa porque é mau-caráter. Enfim, não é capaz de reconhecer valor em nada porque nega a própria capacidade humana de fazer discernimento.”


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