Poucos fenômenos mostram a mecânica celeste com tanta clareza como os trânsitos planetários. Mais do que isso: eles são uma chance rara de contemplar a olho nu a configuração do Sistema Solar e como nós, terráqueos, estamos inseridos nele. Na próxima segunda-feira, 11 de novembro, os brasileiros terão a oportunidade de acompanhar de camarote um desses eventos — o trânsito de Mercúrio.
Basicamente, isso acontece quando um planeta mais perto do Sol que a Terra (no caso, só Vênus e Mercúrio) passa “em frente” ao disco solar a partir da nossa perspectiva. É que os planetas não giram em torno do Sol perfeitamente alinhados: suas órbitas possuem ligeiras variações de inclinação. Há 7 graus de diferença entre a órbita de Mercúrio e a terrestre, por isso precisamos estar no momento certo (e na hora certa) para visualizar o fenômeno.
É algo relativamente raro: só ocorre quando o planetinha está em dois pontos específicos de sua órbita que coincidem com o plano da órbita da Terra. Só nesses dois momentos, os dois mundos se alinham por uma breve janela de tempo que permite observar o pequeno “eclipse” de Mercúrio transitando pelo disco solar. Tais trânsitos ocorrem nos dias 8 ou 9 de maio, e 10 ou 11 de novembro. Ao todo, vão ser 14 no século 21. Este será o quarto.
O evento ocorre em média uma vez a cada década, mas em breve entraremos em um período de “escassez” — só vai dar as caras novamente em 13 de novembro de 2032. Sua duração será de aproximadamente 5h30 e boa parte do planeta poderá observá-lo, com exceção do centro e do leste da Ásia, Japão, Indonésia e Austrália. No Brasil, todo o país terá visibilidade do fenômeno em sua completude. Se o tempo colaborar, é claro.
Todo o trânsito é dividido em quatro partes. Começa com o contato I, quando a bordinha direita do disco escuro de Mercúrio toca a bordona esquerda do disco claro do Sol. Dois minutos depois ocorre o contato II, em que o planeta atravessa a borda e começa a transitar efetivamente pelo disco solar. Na metade do caminho há o máximo, ponto mais próximo do centro do Sol. E, por último, os contatos III e IV replicam o processo inicial – só que na ponta oposta.
No horário de Brasília, o contato I começa na manhã da segunda, às 9:35, enquanto o contato II está marcado para às 9:37. O máximo ocorrerá ao 12:35, e os contatos III e IV, às 15:02 e 15:04. Mas antes de pedir permissão ao chefe ou professor e tirar uns minutinhos de folga para contemplar o magnífico fenômeno celeste, lembre-se: é proibido olhar para o Sol sem a proteção adequada. Por isso, vale frisar, a observação não é tão simples assim.
Olhar para a nossa estrela com a visão desprotegida pode causar danos irreversíveis à retina. E tem também a dificuldade imposta pelo tamanho diminuto de Mercúrio. Ao contrário de Vênus, cujos únicos dois trânsitos do século já ocorreram em 2004 e 2012, não se pode ver o planetinha a olho nu. Então só um simples filtro ou óculos para observar eclipses solares não adiantam — é preciso olhar com um bom binóculo ou telescópio.
A ampliação mínima para observar o pontinho preto é de 50 vezes. Se você até tem o instrumento, mas não dispõe de lentes solares, ainda assim dá para ter um gostinho do trânsito. É só pôr um papel sulfite atrás da ocular que a imagem ampliada é projetada na folha. Caso tenha a possibilidade, é sempre uma boa comparecer a eventos de observação de clubes ou grupos de astronomia locais, observatórios, planetários ou universidades.
Não terá como acompanhar o trânsito, ou o tempo nublou na sua cidade? Calma: o Virtual Telescope Project vai transmitir uma live durante toda a duração do fenômeno. Para acompanhar, é só clicar aqui.
Mercúrio está prestes a protagonizar evento raro, que só se repete em 2032 Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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