A cientista política Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé, ganhou destaque em portais de notícias e nas redes sociais nesta semana. Isso por dois motivos: no último dia 22 de fevereiro, ela foi convidada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, para integrar o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Já nesta quinta-feira (28), um dia após a nomeação ser publicada no Diário Oficial, Ilona foi exonerada do cargo de suplente que assumiria.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela revelou que a justificativa, segundo Moro, é que a base do governo não apoiou a decisão – a nomeação dela, aliás, também chegou a ser muito criticada nas redes sociais por eleitores de Bolsonaro.
O motivo seriam divergências de Ilona em relação a questões defendidas pelo presidente durante a campanha eleitoral, como a flexibilização do porte de armas. “Não somos [em referência ao Instituto Igarapé] contra a posse, mas somos a favor de um maior controle no porte. Também discordamos na questão da legítima defesa. Abrem-se ali, a nosso ver, vários caminhos para o aumento de crimes violentos”, disse ao Estadão.
O instituto dirigido por Ilona, fundado em 2011, é referência em pesquisas e na elaboração de políticas públicas para a redução da violência. A entidade atua não só no Brasil, mas também tem parcerias com governos, empresas, ONGs e universidades de países da América Latina, além de Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul e Noruega.
No início de sua carreira, a fluminense natural de Nova Friburgo trabalhou em bancos de investimento do Rio de Janeiro, nas áreas de câmbio e tesouraria internacional. Mas os problemas sociais da cidade despertaram nela a vontade de trabalhar na luta contra a violência. “Li uma matéria sobre um antropólogo inglês [Luke Dowdney, da ONG Luta Pela Paz] que comparou crianças do tráfico a soldados de guerra. Ali eu falei: ‘É isso que eu quero fazer’”, contou Ilona em entrevista à revista TPM publicada em 2015.
Ela conseguiu não só fazer o que queria, mas trabalhar com quem a havia inspirado. Após concluir o mestrado, Ilona foi chamada por Luke para integrar a equipe da Viva Rio, uma ONG que combate a violência na capital fluminense. Ficou lá por cinco anos e, nesse período, participou ativamente da campanha pelo desarmamento que mobilizou o país entre 2003 e 2005. Então com 24 anos, ela coordenou a abertura de postos de recolhimento de armas.
Problemas ligados às drogas também estão na lista de prioridades de Ilona. Ela é uma das fundadoras da Rede Pense Livre, que reúne mais de 80 líderes (entre eles empresários, cientistas sociais, jornalistas, economistas, juristas e acadêmicos) para debater e propor reformas legislativas referentes a entorpecentes.
Também é autora de dois livros sobre o tema, Drogas: as histórias que não te contaram e Segurança Pública para virar o jogo (2017 e 2018, Zahar), e foi co-roteirista do documentário Quebrando o Tabu, dirigido por Fernando Grostein Andrade, que discute a descriminalização das drogas.
“Drogas existem e vão sempre existir. Temos que pensar um jeito de regular isso. Algumas drogas devem continuar proibidas? Sim, porque tem drogas tão nocivas – caso do crack ou do krokodil, que é uma droga que veio da Rússia – que não dá pra regular. Mas o que você faz com essa turma que usa o crack ou krokodil? Redução de danos. Políticas que tentam melhorar a vida dessa pessoa e melhorar também o dano que a dependência dessa droga pode causar para a sociedade”, disse Ilona na entrevista à TPM.
Ilona tem mestrado em Estudos de Conflito e Paz pela Universidade de Uppsala, na Suécia, é especialista em Desenvolvimento Internacional pela Universidade de Oslo, na Noruega, e bacharel em Relações Internacionais. Já atuou como consultora para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e como coordenadora da Comissão Global de Políticas sobre Drogas e da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, nas quais elaborou estratégias junto a ex-presidentes de vários países, entre eles Fernando Henrique Cardoso.
Segundo o Estado, mesmo após a exoneração, Ilona deixou as portas abertas para trabalhar junto ao governo. “Uma ponte com o Instituto Igarapé abriria caminho para a ponte com outros grupos da sociedade civil. Independentemente da não-nomeação para o conselho, queremos continuar, sim, com uma conversa técnica baseada em evidências com o ministro Moro e a área de segurança pública – como aliás fazemos com vários governos, já há muito tempo, independentemente de partidos.”
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