segunda-feira, 10 de junho de 2019

Saltar de bugee jump pode “afiar” capacidades cognitivas

Aventuras radicais não são para todos. Você com certeza tem amigos que amam os brinquedos (e esportes) tão cheios de adrenalina quanto possível, enquanto também tem aqueles que não encaram nem a altura de uma roda gigante. Pular de bungee jump, então? Nem se for no vídeo game.

Cientistas da Universidade Autônoma de Barcelona, porém, descobriram que aventuras radicais podem fazer bem para a cabeça. Principalmente se você pertencer ao primeiro grupo ali de cima.

Eles descobriram que, logo após uma experiência radical, a capacidade das pessoas de pensar clara e racionalmente… Melhora. Mas só se elas encararem aquele momento como positivo.

É um resultado contraintuitivo – na maioria das situações, um excesso de emoção tem o efeito oposto. Faz seu cérebro funcionar pior, e prejudica a tomada de decisões complexas. A emoção intensa interfere na capacidade das pessoas de pensar direito. A maioria das teorias cognitivas explica isso de uma forma simples: a ansiedade acaba “consumindo recursos mentais” demais, e concentra a atenção no que podem ser “ameaças potenciais”.

Mas, aparentemente, se você se colocar numa situação radical por vontade própria, e encarando aquilo como algo benéfico… Essa reação automática do organismo acaba trabalhando e seu favor. Os pesquisadores chamam isso de “valência” de situações intensas — essa percepção da experiência como positiva ou negativa.

No estudo, a autora do estudo Judit Castellà e seus colegas testaram dezenas de saltadores de bungee jump (a maioria deles de primeira viagem) três vezes: 30 minutos antes de um salto de queda livre; imediatamente depois; e oito minutos depois da experiência.

As descobertas, relatadas no periódico Cognition and Emotion, sugerem que quando uma experiência radical é percebida positivamente, ela não atrapalha os pensamentos. E até melhora o raciocínio.

Nos testes realizados em uma ponte de 30 metros na Catalunha, os saltadores de bungee jump classificaram o quão bem ou mal eles estavam se sentindo, e a intensidade desses sentimentos. Eles também realizaram testes de sua memória de trabalho (a capacidade de recordar sequências de dígitos); sua capacidade de se concentrar e prestar atenção (usando o que é conhecido como teste Go/No Go); e sua tomada de decisão (sua capacidade de identificar, em uma situação hipotética, qual dentre quatro propostas de pacotes de cartões é a mais compensadora financeiramente ao longo do tempo).

De novo: geralmente, uma situação de emoção intensa – mesmo que seja só uma briga com um amigo ou parceiro, por exemplo – costuma prejudicar muito sua tomada de decisão. O que, neste teste, significa escolher um cartão de crédito que daria prejuízo no longo prazo.

Mas o desempenho dos saltadores mostrou a situação contrária. Seus resultados foram comparados com os de voluntários “placebo”, que tiveram a oportunidade de fazer os testes em um ambiente mais comum, sem saltos radicais envolvidos. E mesmo assim foram melhores – até mesmo a escolha confusa dos cartões de crédito foi mais assertiva.

A melhora não foi gigantesca, mas é digna de nota – e a memória de trabalho também teve índices melhores após o salto.

Segundo os pesquisadores, essas descobertas poderiam ter relevância prática para o treinamento de equipes de emergência ou para quaisquer profissionais que precisem tomar decisões rápidas em situações de risco. “Treinar esses profissionais para lidar com situações de emergência, aprimorando e concentrando-se nas emoções positivas derivadas de suas ações, pode melhorar – ou pelo menos não prejudicar – seu desempenho cognitivo diante de ameaças”, disse a líder do estudo.


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