quinta-feira, 6 de junho de 2019

Vida extraterrestre pode existir nas luas de planetas de outros sistemas solares

Para tudo se dá um jeito. Principalmente se você é um astrônomo. Quando seu laboratório é o universo e o seu objeto de estudo são coisas distantes e inalcançáveis como estrelas ou planetas, não há outra saída a não ser usar a cabeça — e um bom telescópio – para investigá-los. Isso fica claro em uma pesquisa recente que procurou por luas ao redor de um planeta distante, a 420 anos-luz da Terra.

Procurar um planeta na órbita de outra estrela é, por si só, uma tarefa difícil. Eles não emitem luz própria, então é preciso usar soluções engenhosas. Da sombra que o planeta faz quando passa na frente de sua estrela, é possível deduzir seu tamanho. Da maneira como a estrela oscila, sai a massa – pois estrelas “rebolam” um pouquinho em resposta à gravidade dos seus planetas.

Mais difícil ainda é encontrar uma lua na órbita de um planeta que fica em outra estrela. Não dá para medir a sombra da lua quando ela passa na frente dele, por exemplo – pois ele não emite luz própria. É aqui que entra a criatividade. Um astrofísico da Universidade de Lincoln, na Inglaterra, investigou um planeta chamado J1407b, que é dono de um colossal sistema de anéis, 200 vezes maior que o de Saturno. Ele buscava luas em seu entorno.

Como descobrir se um mundão desses tem seu próprio satélite natural? Simples: olhando para seus anéis. Ou melhor, para os buracos entre os aneis. Phil Sutton investigou essas estruturas prestando atenção especial nas lacunas. Muitas dos satélites naturais de Saturno orbitam o gigante gasoso nesses espaços, que são como pistas de autorama “limpas” justamente porque o gás e a poeira que costumavam estar ali foi incorporado às luas. Sutton deduziu que as lacunas de J1407b talvez fossem resultado do mesmo processo.

O pesquisador então realizou simulações de computador para obter um modelo preciso da estrutura e da dinâmica dos anéis, levando em conta as interações gravitacionais entre todas as partículas ali presentes.

Assim conseguiu dados bem detalhados sobre as posições, velocidades e acelerações daquele sistema. Então simulou a adição de uma lua orbitando o planeta em diferentes pontos, para testar se ela formaria as lacunas observadas depois de completar 100 órbitas.

Ele não fez isso pelo desafio. Há uma segunda intenção um tanto cativante por trás das pesquisas que tentam detectar exoluas: elas são boas candidatas para abrigar formas de vida extraterrestre.

Sutton explica o porquê. “Essas luas podem ser internamente aquecidas pelo puxão gravitacional do planeta que orbitam, que pode levá-las a ter água líquida mesmo bem fora da normalmente estreita zona habitável na qual tentamos encontrar planetas parecidos com a Terra”, observa o astrofísico. Nem precisamos ir tão longe para constatar exemplos disso: as luas Europa, de Júpiter, e Encélado, de Saturno, jogam nesse time. “Acredito que se pudermos encontrá-las, elas oferecem uma via promissora para achar vida extraterrestre.”

Na verdade, pelo pouco que sabemos até agora, casos como o da Terra, com suas águas fluindo livremente pela superfície, parecem ser menos comuns pela galáxia. Oceanos subterrâneos ocorrem com maior frequência, ao que tudo indica. E a vida pode muito bem prosperar nesses ambientes. Infelizmente, nenhum dos satélites naturais virtuais simulados por Sutton produziram as lacunas esperadas. Não foi dessa vez que a ciência detectou a primeira exolua. Só nos resta aguardar — e continuar procurando com muita criatividade.


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