quarta-feira, 10 de julho de 2019

Egito aciona a Interpol para recuperar busto leiloado de Tutancâmon

A casa de leilões britânica Christie’s, uma das mais tradicionais do ramo, tem uma reputação envolta em sucessos e polêmicas.

Seu catálogo de artefatos é invejável, mas, ao mesmo tempo, controverso: a Christie’s já leiloou pinturas de artistas do cacife de Da Vinci e Picasso; pertences pessoais de figuras como Napoleão Bonaparte, Einstein e Lady Diana e até relíquias pré-colombianos consideradas patrimônio cultural da humanidade. Muitos críticos, no entanto, contestam a origem dessas valiosas peças.

O último caso envolvendo os britânicos está a um passo de provocar uma crise internacional: o Egito acaba de acionar a Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) para recuperar uma escultura de Tutancâmon, vendida pela Christie’s por 4,7 milhões de libras (23 milhões de reais) no último 4 de julho.

De acordo com um pronunciamento oficial do Cairo, há grandes chances de que a escultura de 3 mil anos tenha sido roubada do Egito em 1970. A peça é uma estátua de 28,5 cm, de quartzito marrom, representando a cabeça do jovem faraó – que governou o Egito entre 1333 a.C e 1323 a.C.

Peças muito semelhantes a essa foram esculpidas no Templo de Karnak, na cidade de Luxor, e as autoridades egípcias alegam que o Tutancâmon leiloado foi retirado diretamente de lá. Por provir de fonte ilegal, a peça deveria ser devolvida a seu local de origem, e não vendida.

Não dá para dizer que o Egito tomou essa decisão de supetão: desde que o leilão da estátua foi anunciado, no início de junho, autoridades egípcias estão tentando impedi-lo de diversas formas. Os vários pedidos, segundo eles, foram ignorados pelas autoridades britânicas.

A Christie’s não demorou a rebater às críticas, afirmando que a peça faz parte da Coleção Resandro, uma das mais tradicionais coleções particulares de arte egípcia do mundo, que já expôs suas obras diversas vezes.

Além disso, a casa de leilões ainda forneceu uma cronologia completa de por onde a peça teria passado nos últimos 50 anos, antes de chegar a seu catálogo: “o lote foi adquirido com Heinz Herzer, um revendedor de Munique, em 1985. Antes disso, Joseph Messina, um negociante austríaco, adquiriu-o em 1973-74 do príncipe [alemão] Wilhelm von Thurn und Taxis, que supostamente o tinha em sua coleção na década de 1960”.

Ela ainda aproveitou a situação para defender seus negócios: “Objetos antigos, por sua natureza, não podem ser rastreados ao longo de milênios”, disse. “Há um mercado tradicional e legítimo para obras de arte do mundo antigo, no qual a Christie’s participa por gerações. A Christie’s adere estritamente a tratados bilaterais e leis internacionais com respeito a propriedade cultural e patrimonial”.

Após a efetivação da venda, o Comitê Nacional Egípcio de Repatriação de Antiguidades, liderado pelo ministro de antiguidades do Egito, Khaled El-Enany, expressou “profunda perplexidade” com a falta de apoio do governo britânico.

Ele também alegou “profundo descontentamento” pela “maneira não profissional em que os artefatos egípcios foram vendidos sem a provisão dos documentos de propriedade e prova de que os artefatos deixaram o Egito de maneira legítima”.

Autoridades britânicas, ainda no início do caso, haviam argumentado que a Christie’s é uma empresa privada, e que o governo só pode intervir em seus assuntos operacionais se houver uma base clara na lei para fazê-lo, o que não há – já que ainda não existem provas concretas de que a peça foi adquirida de maneira ilegal.

Esse bate boca promete se acirrar ainda mais nos próximos dias. Ativistas já fizeram protestos em frente à sede londrina da Christie’s, com cartazes dizendo “parem de negociar antiguidades contrabandeadas”. As autoridades egípcias informaram que estão instruindo um escritório de advocacia britânico a abrir um processo civil sobre a venda, além de pedir à Interpol que lance uma circular para “rastrear a venda ilegal de artefatos egípcios em todo o mundo”.


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