Após 25 anos de seu lançamento, O Rei Leão está de volta. O remake de 2019, que chega aos cinemas em 18 de julho, traz um hiperrealismo de encher os olhos – e decepção meio generalizada nos demais aspectos. Controvérsias à parte, o enredo dessa nova versão é estritamente fiel ao original. O que quer dizer que, como você bem se lembra, os personagens Mufasa e Scar são irmãos.
Isso seria absolutamente impossível na natureza – coisa que até os criadores de Rei Leão já admitiram. Eles dizem até que faria mais sentido para história que Mufasa e Scar não tivessem, de fato, laços de sangue.
Antes de explicar o porquê, é bom relembrar o enredo: na fábula da Disney, os dois leões são filhos de Ahadi, o antigo rei da selva, e Mufasa, filho mais velho, é o herdeiro natural do trono. Mas Scar, filho mais novo, nunca se conformou com o fato de não virar rei.
A Disney chegou até a aprofundar a relação entre os dois no livro A Tale Of Two Brothers, contando sobre a adolescência deles e como Scar acabou ganhando esse nome (que quer dizer, literalmente, cicatriz – seu nome original é Taka), consequência de um plano para prejudicar o irmão.
Anos depois, na história contada em Rei Leão, Scar assassina Mufasa e manda matar Simba (seu sobrinho e herdeiro do reino) para assumir o “trono” da selva. O fato de Mufasa e Scar serem irmãos deixa essas atitudes ainda mais dramáticas – e reflete fielmente a história original na qual o Rei Leão se baseou: a tragédia shakespeariana Hamlet, em que, não por acaso, o pai do protagonista também é morto pelo tio.
Essa epopeia familiar, no entanto, não pode ser traduzida fielmente ao mundo dos leões. Na natureza, é extremamente improvável que mais de um macho por bando sobreviva até a idade adulta.
Basicamente, a dinâmica dos bandos é a seguinte: um leão líder dificilmente morre de velhice. Ou ele encerra sua vida em combate – já que ele é o responsável pela segurança do bando – ou acaba tendo seu poder usurpado por um leão mais jovem, que veio de outro bando. Esse novo rei quase sempre mata todos os filhotes do antigo, eliminando assim a herança genético de seu antecessor.
Se os leões machos não são mortos quando filhotes, eles também não podem viver no bando depois de adultos: assim que chegam a adolescência, esses animais são expulsos e forçados a vagar pela savana à procura de um novo grupo para tentar usurpar e assumir o controle. A grande maioria deles morre antes de encontrar um novo lar.
Você pode estar se perguntando: “ah, então só existe um único leão nos bandos da espécie?”. Não obrigatoriamente – mas o número sempre vai ser pequeno, entre 1 e 3 machos por bando, dizem os biólogos.
Existe ainda uma linha hierárquica entre esses bichos, e eles não ocupam a mesma função (sempre há o “rei” da manada). Mas eles nunca possuem relação de sangue. Machos que convivem no mesmo bando sempre vieram de bandos diferentes.
Foi em 2017 que os próprios responsáveis pela animação clássica de O Rei Leão admitiram conhecer essa dinâmica natural. Don Hahn, o produtor do longa, comentou que eles tinham consciência dessa divergência quando decidiram mesclar ficção com realidade.
“Ocasionalmente, há bandos que possuem dois leões machos em uma dinâmica interessante, porque eles não são iguais [hierarquicamente]. Um leão sempre vai estar nas sombras. Nós estávamos tentando usar essa verdade animal para sustentar a história. [Mas] Scar e Mufasa realmente não poderiam ser do mesmo pool genético”, disse o produtor.
Uma premissa mais fiel à dinâmica natural até foi cogitada: em uma das versões iniciais do roteiro, Scar era um leão desgarrado sem relação inicial com Simba ou Mufasa, e liderava um bando de babuínos, não hienas. Mas, no fim, a versão com o laço de sangue perdurou. Afinal, nada ressoa tanto com o público (humano) quanto um dramático caso de família.
Na natureza, Mufasa e Scar de O Rei Leão jamais seriam irmãos Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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