sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O primeiro filme de “Cats” é de 1998 (e é melhor que o de 2019)

Entre o final controverso da saga Star Wars e o ataque à sede do canal Porta dos Fundos, outro assunto também foi destaque nesta última semana: o fracasso de Cats.

O filme, que estreou no Brasil no dia de Natal, tinha tudo para dar certo – ou pelo menos relativamente bem. Foi dirigido por Tom Hopper (de filmes como O Discurso do Rei Os Miseráveis); o elenco está cheio de astros da música e do cinema (Judi Dench, Ian McKellen, Idris Elba, Jennifer Hudson, Taylor Swift e por aí vai); e, sobretudo, é a adaptação de um dos musicais de maior sucesso da história.

Tinha tudo para dar certo, mas não deu. Uma semana antes de estrear por aqui, os críticos internacionais massacraram o filme. As reclamações eram tantas que os comentários acabaram viralizando – tamanho era o deboche. Um exemplo? “Cats é a pior coisa que já aconteceu com os gatos desde (o surgimento dos) cachorros”, título da resenha do site norte-americano Comics Beat.

Quase nenhum elemento escapou às críticas: direção, roteiro, cenários, perfomances…Mas o maior alvo, sem dúvida, são os efeitos especiais, que transformaram os atores em híbridos de gatos e humanos – cujo resultado é, no mínimo, peculiar. O assunto já havia vindo à tona quando o trailer de Cats saiu, em julho. Caso você não ainda visto, aqui está (por sua própria conta e risco):

A internet, claro, não perdoou:

“Eu não sei por que todo mundo está reclamando sobre o CGI em Cats. Eu achei ótimo.”

O gato subiu no telhado

Ainda é cedo para apontar todos os deslizes da produção do filme, mas alguns já começaram a aparecer. O diretor, Tom Hopper, revelou que a edição do musical foi finalizada horas antes da pré-estreia mundial. Sim, ele virou a noite terminando isso – assim como você com os trabalhos da faculdade.

Mas quem dera fossem apenas pequenos ajustes. Os efeitos especiais também não haviam sido finalizados, e o resultado ficou estranho: em uma das cenas, a atriz Judi Dech aparece caracterizada como a sua personagem, Old Deuteronomy, mas as suas mãos são de carne e osso. Dá até para ver um anel de casamento em um de seus dedos:

Por conta disso, aconteceu algo inédito no mundo da sétima arte: Hopper encomendou uma cópia atualizada para ser redistribuída com as devidas correções. A Universal, distribuidora do longa, sugeriu que a substituição pela nova versão fosse feita o mais rápido possível – assim como num software de computador.

Cats estreou em 1981 em Londres, e foi para os palcos da Broadway no ano seguinte. Ele foi concebido por Andrew Lloyd Webber, o nome por trás de outros musicais clássicos, como Jesus Christ Superstar, Evita O Fantasma da Ópera. A história é inspirada em uma coletânea de poemas de 1939 do escritor americano T.S. Eliot, e narra a história de uma tribo de gatos chamada Jellicles, que todo ano precisa decidir, em uma noite, qual deles ganhará a chance de ter uma segunda vida.

O musical é considerado por muitos como um dos mais influentes das últimas décadas, e um dos responsáveis por abrir caminho para outras peças blockbusters que vieram em seguida, como Wicked, O Rei Leão, Os Miseráveise o próprio Fantasma da Ópera. Desde que foi lançado, a peça já arrecadou mais de US$ 3,5 bilhões, com versões apresentadas em diversos países, como Alemanha, Japão, Líbano, Israel, Turquia, Emirados Árabes, Argentina e Brasil.

O primeiro da fila

Talvez você não saiba, mas Cats (de 2019) não é o primeiro filme feito sobre a obra. Em 1998, foi lançada uma versão direct to video (diretamente para VHS/DVD) do musical.

Dirigido por David Mallet e produzido por Lloyd Webber, ele não reinventa a roda. Basicamente, é uma filmagem do espetáculo, com atores fantasiados e em cima do palco. Dá só uma olhada:

As filmagens duraram 18 dias, e foram feitas no Adelphi Theatre, um dos teatros de West End (a Broadway de Londres), mas sem a presença de plateia. O elenco foi composto por uma seleção de artistas das diversas montagens do show que haviam acontecido até então.

Essa versão possui ligeiras mudanças em relação ao show: dura cerca de duas horas (40 minutos a menos que a peça teatral), tem dois personagens inéditos e trechos de algumas músicas cortados. A fita foi um sucesso de vendas, e foi exibida na televisão em diversos canais, como a PBS e a BBC.

Além disso, ela é mais bem avaliada que o novo filme. Em uma rápida comparação em sites agregadores de críticas, Cats (de 1998) tem nota 7,6 no IMDb, enquanto Cats (de 2019) possui um amargo 2,6. No Rotten Tomatoes, a primeira versão tem 81% de avaliação da audiência, enquanto a segunda tem 55%.

Talvez seja injusto comparar as duas obras. O primeiro Cats, no fim, é uma gravação (bem feita) de um espetáculo (bem feito), enquanto o longa deste ano é uma adaptação do musical para outra mídia – o cinema. Mas em meio a tantas críticas, memes e piadas, a discrepância das notas não deixa de ser mais um elemento tragicômico.


O primeiro filme de “Cats” é de 1998 (e é melhor que o de 2019) Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed

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