sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Quem foi Joseph Goebbels, líder nazista citado por Secretário da Cultura

Considerado o braço direito de Adolf Hitler, Joseph Goebbels se tornou uma das figuras de maior destaque no governo nazista da Alemanha, que durou entre 1933 e 1945. Ele foi nomeado  Ministro da Propaganda e era o principal articulador do setor de informação do regime, fomentando ideias antissemitas e de apoio ao partido. Na madrugada de hoje (17), Goebbels voltou ao noticiário após um vídeo publicado pela Secretaria Especial da Cultura do governo brasileiro, em que o secretário Roberto Alvim faz um discurso com alusões a um pronunciamento do nazista. 

No vídeo, Alvim anuncia os planos de financiamento à cultura de sua gestão e diz que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada a aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”. 

A frase é bastante parecida com uma dita pelo lacaio de Hitler na década de 1930: “a arte alemã da próxima década será heroica, romântica, objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grandes padrões e imperativa e vinculante, ou então não será nada”.

Mais tarde, o secretário negou que havia copiado Goebbels e disse que tudo não passava de uma “infeliz coincidência”, mas que a frase usada era “perfeita”. Outros elementos do vídeo, como a retórica, a estética e a música de fundo — uma ópera de Richard Wagner, considerada a favorita de Hitler — levaram internautas, políticos e ativistas a ampliar a comparação com o regime nazista. A repercussão foi tanta que o Secretário da Cultura foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro no início da tarde de hoje. No Twitter, Bolsonaro cla ssificou o pronunciamento como “infeliz”.

Quem foi Goebbels

Nascido em 1897 em uma pequena cidade industrial no interior da Alemanha, Goebbels foi criado em uma família católica da baixa burguesia, que custeou seus estudos até a faculdade. Ele obteve doutorado em filologia (isto é, a análise de textos antigos) na Universidade de Heidelberg e tentou seguir carreira como escritor e jornalista, sem muito sucesso. Um fato curioso é que Goebbels não lutou na 1a Guerra Mundial por questões de saúde — ele era manco, possivelmente por ter contraído poliomielite na infância.

Apesar de não estar envolvido diretamente com política, Goebbels já nutria um forte sentimento nacionalista e revanchista, algo comum na Alemanha após a derrota na 1a Guerra e a instabilidade política e econômica que se instaurou no país. Sua trajetória no regime em si começou em 1924, quando se aproximou de pessoas influentes do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães — o partido nazista. Ele se juntou ao grupo no mesmo ano, e não demorou muito para que se tornasse amigo íntimo do líder da organização, o austríaco Adolf Hitler. 

Reconhecido por sua ótima retórica e oratória, Goebbels cresceu em influência no partido e chegou a ser nomeado por Hitler como administrador regional do partido em Berlim, no ano de 1926 — um posto importante, visto que o nazismo havia nascido na região da Bavária e, até então, tinha pouca representação na capital alemã. Em 1928, ele foi eleito para o Reichstag, o parlamento alemão, e se tornou o coordenador de propaganda do partido nazista.

Propagandista de massas

Quando Hitler ascendeu ao poder, em 1933, Goebbels foi escolhido como Ministro da Educação Pública e Propaganda e chefe da Câmara da Cultura. Foi aí que ele começou seu projeto nacional de angariar apoio popular ao regime nazista — algo que, por muito tempo, funcionou. A estratégia do ministro era apelar para o nacionalismo alemão e criar uma figura heroica em volta do “Führer”. Dessa forma, Hitler era visto como o líder supremo alemão capaz de salvar o país da crise e liderar um caminho para a prosperidade. 

A figura do salvador, por sua vez, era contraposta com a figura de vilões — os principais eram os judeus. Com ideias antissemitas e conspiratórias, Goebbels convencia o povo alemão a apoiar o Holocausto, que resultou na perseguição sistemática e morte de cerca de seis milhões de judeus, além de outros grupos, como ciganos, homossexuais, comunistas e sindicalistas.

Essas ideias eram refletidas nos projetos culturais do governo e na mídia, que era censurada e aparelhada. Goebbels também foi responsável pela prática comum de perseguição e queima de livros considerados subversivos pelo regime. No campo da arte, o ministro ficou conhecido por se utilizar principalmente do cinema e do rádio para propagandear os ideais do regime e espalhar ódio contra judeus na população.

Sua influência aumentou ainda mais durante a década de 1940, com a 2a Guerra e a intensificação da perseguição antissemita. Quando as coisas começaram a piorar para os nazistas, com derrotas em batalhas importantes e enfraquecimento do regime, Goebbels foi responsável por manter o apoio popular em meio a crise, intensificando a propaganda, falseando vitórias e apelando cada vez mais ao populismo. Em 1943, foi ele o responsável por difundir o conceito de “guerra total” — uma ideia radical que pregava que todos os esforços do país deveriam se voltar apenas para o conflito bélico.

Em 1945, com a invasão soviética e a total derrota nazista, Hitler nomeou Goebbels como seu sucessor antes de cometer suicídio. O novo chanceler do Terceiro Reich governou apenas um dia: ele também se suicidou, juntamente com a esposa Magda Ritschel, mas não antes de matar seus seis filhos com veneno. O casal não queria que a família vivesse em um mundo sem nazismo.

O ministro entrou para a história como um dos principais articuladores do regime nazista e um dos maiores propagandistas de todos os tempos, capaz de convencer todo um país a apoiar um regime fascista. Muitas de suas frases ficaram famosas, como: “Uma mentira contada mil vezes se torna verdade”.


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