Não é Trivial saber quantos casos de coronavírus realmente existem num país. A Coreia do Sul foi a primeira nação a testar sua população de forma ampla. Montaram até laboratórios drive-thru: você encosta o carro, um médico tira sua temperatura e pergunta se você esteve em contato com alguém suspeito de contaminação. Caso ele ache que você está mesmo em risco, o teste é aprovado. Ele vai recolher amostras da mucosa do seu nariz e da sua garganta, pela janela do carro mesmo. E você segue seu caminho. Leva 10 minutos. O resultado chega por email.
Até o momento em que este texto era escrito, em meados de março, a Coreia tinha testado 250 mil pessoas. É pouco para uma nação com 51 milhões de habitantes: dá mais ou menos 5 mil testes para cada milhão de indivíduos. Mesmo assim, eles estavam anos-luz à frente. Sabe quanta gente a cada milhão de habitantes os EUA tinham testado até ali? 66.
E o Brasil ainda nem tinha compilado um número. No dia 18 de março, o Ministério da Saúde se comprometeu a colocar 1 milhão de kits de teste à disposição do sistema de saúde nos próximos três meses. Não é pouco, mas, mesmo assim, isso só nos levaria ao nível em que os coreanos estão hoje, de 5 mil testes para cada milhão de pessoas. Enfim: como boa parte dos casos não envolve sintomas, e há relativamente poucos kits, o fato é que milhões de pessoas vão transmitir o vírus sem saber.
Sim, milhões, pois a previsão é a de que até 60% da população mundial deve pegar o vírus mais hora menos hora. Como você já sabe, a grande maioria não tem o que temer. Sentirá um resfriado comum e pronto. Seus sistemas imunológicos aprenderão a destruir o corona. E com mais da metade da população imunizada, o mercado imobiliário do vírus entra em colapso. Ele se vê sem casa, e morre.
O grande problema, você sabe também, é para o “grupo de risco”: portadores de diabetes, cardíacos, idosos. Aí o risco de morte se torna intolerável.
Os pacientes que desenvolverem um quadro respiratório grave terão muito mais chance de sobrevivência se receberem bons cuidados médicos. Alguém com acesso a uma UTI e um aparelho respiratório vai se manter vivo por mais tempo. Talvez tempo suficiente para que seu sistema imunológico vença a batalha. Sem vagas nas UTIs, quem chegar aos estágios mais pesados de infecção pulmonar vai depender de um milagre.
Logo, precisamos diminuir a velocidade de propagação da doença. Sem isso, nem se o nosso sistema de saúde fosse igual ao da Coreia do Sul daríamos conta de tratar tantos novos doentes ao mesmo tempo.
Dados os casos assintomáticos, a única forma de impedir que a doença chegue rápido demais a muita gente vulnerável é todo mundo agir, na medida do possível, como se já estivesse infectado – incluindo até usar máscara em transportes coletivos, como já está se tornando obrigatório na Europa.
É isso. Faça como Pôncio Pilatos, só que ao contrário: não lave as mãos diante da responsabilidade. Brecar o corona é uma missão de cada um de nós.
O editor Bruno Vaiano e os repórteres Guilherme Eler e Bruno Carbinatto, por sinal, cumpriram muito bem a missão que tiveram aqui nesta SUPER: produzir uma reportagem de fôlego que fosse bem além da pandemia, que mostrasse a saga da luta entre os vírus e os organismos vivos. O resultado você vê aqui – uma história fascinante, que começou há 3,5 bilhões de anos, e não vai terminar nunca.
Não lave as mãos diante da responsabilidade Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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