Nada fazia mais sucesso na Londres do século 18 do que as feiras. Ingleses de todas as classes sociais se encontravam anualmente para fazer negócios ou aproveitar os espetáculos de entretenimento. Entre acrobatas, ventríloquos, músicos, engolidores de fogo e exóticos animais selvagens, uma atração se destacava: o mágico Isaac Fawkes. Ao contrário dos outros ilusionistas de sua época, Fawkes conseguia afastar de seus truques a imagem de sobrenatural – e, em tempos de caça às bruxas, se livrar das comparações demoníacas fazia toda a diferença. Ele deixava claro que a fonte de toda a sua mágica vinha da habilidade de suas mãos.
No meio da multidão, atrás de uma mesa, Fawkes começava seu show. Mostrava a todos um saco de pano vazio. De repente, com um gesto mágico, o inglês virava o saco de ponta-cabeça e dele começavam a sair uma, duas, três, dezenas de moedas – ou ovos. Até patos selvagens vivos brotavam do saco, segundo registros antigos. Ainda que hoje o segredo seja bem conhecido (havia um fundo falso na sacola e um esconderijo sob a mesa), o truque era novo e surpreendente. Mais do que isso, a ideia de criar comida e dinheiro do nada encantou uma plateia acostumada à escassez. O “saco de ovos” foi considerado o maior truque da primeira metade do século 18.
Fawkes também era mestre em outra área: marketing pessoal. Ele ajudou a criar a própria fama com anúncios em jornais, já populares na época. “Truques pela destreza das mãos, com cartas, ovos, milho, camundongos, curiosos pássaros indianos e dinheiro… Acompanhando a surpreendente ação de performance de corpo de seu filho de 12 anos de idade”, dizia o anúncio em jornal datado de 1722, o primeiro registro encontrado da existência de Fawkes. Dizem até que o saco mágico nem tirava tantas moedas assim – ele aumentava as próprias façanhas e narrava seus registros como bem entendia.
Se ele fez mesmo surgir patos em um saco de pano, não há como comprovar. Mas Fawkes se popularizou na Inglaterra, principalmente na alta sociedade. O mágico passou a ser requisitado em teatros finos, frequentados pelos mais ricos e poderosos ingleses, como a Opera House. E chegou a se apresentar para a família real britânica, segundo um anúncio de 1724. Toda essa influência era importante. Ligado à riqueza e ascensão social, dizia ser o ilusionista mais rico da época e até desafiou outros colegas de profissão a mostrar fortuna maior do que a dele. Tanta ostentação ganhou destaque e fez de Fawkes um homem da nobreza.
Mas o ilusionista não ganhou popularidade apenas pelo truque do saco mágico. Fawkes encomendava robôs para criar seus números (como Robert-Houdin faria anos depois), que ficaram cada vez mais populares a partir de 1725. Feitos sob encomenda pelo relojoeiro Christopher Pinchbeck, uma de suas máquinas formava uma banda completa: tocava órgão, flauta e ainda contava com pássaros cantores. Apresentou ainda o número da “árvore de maçã”, que dava flor e frutos em menos de um minuto.
Ano após ano, a parceria entre Fawkes e Pinchbeck rendia construções cada vez mais complexas. Entre os destaques, segundo registros da época (vale lembrar: provavelmente os documentos exageraram bastante), estão o “Templo das Artes” – uma orquestra automatizada que tocava em perfeita harmonia – e a recriação da Baía de Gibraltar, com navios e tropas de guerra em ação. Dizem que uma de suas apresentações contou com até cem robôzinhos.
Pouco se sabe sobre a vida pessoal de Fawkes, a não ser que era religioso, casado, tinha dois filhos e deixou uma bolada de herança (cerca de 130 milhões de libras, em valores atuais). Mesmo seu primeiro nome passou anos no anonimato – e só foi revelado por Harry Houdini durante pesquisa sobre a história da mágica.
A árvore mágica de maçã
Como é
O segredo
Isaac Fawkes: o primeiro mágico que fez fortuna com seus shows Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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