A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) pode ter contribuído para a população brasileira usar mais suplementos alimentares. Ao menos é o que sugere um levantamento encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins Especiais e Congêneres (Abiad).
Foram realizadas 275 entrevistas no mês de maio nas cidades de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Brasília e Belém. Em todo os lares avaliados, pelo menos um morador recorria aos suplementos. O estudo indica que 48% desses usuários passaram a ingerir mais multivitamínicos e afins. Outros 47% mantiveram a mesma taxa de consumo, enquanto apenas 5% diminuíram.
De acordo com a engenheira de alimentos Tatiana Pires, presidente da Abiad, o crescimento era esperado. “Os respondentes já se preocupavam com a saúde. Na pesquisa que realizamos anteriormente, concluímos que eles mantêm um estilo de vida equilibrado e buscam informações sobre isso”, relata.
No período da pandemia, a maior justificativa para o aumento da busca foi melhorar a imunidade (63%), sendo que 9% dos indivíduos mencionaram especificamente a Covid-19. Os três tipos mais procurados foram multivitamínicos (28%), vitamina C (26%) e vitamina D (8%).
Mas atenção: não há qualquer evidência de que suplementos reduzam o risco de infecção pelo novo coronavírus. Em um documento que aborda diferentes tratamentos contra essa infecção, a Sociedade Brasileira de Infectologia afirma: “Não há comprovação de benefício do uso de vitaminas C ou D, nem de suplementos alimentares, como zinco, exceto em pacientes que apresentam hipovitaminose ou carência mineral”.
O recado, aliás, não vale apenas no contexto do Sars-CoV-2. De acordo com uma revisão de 29 estudos liderada pelo Instituto Cochrane, a suplementação de vitamina C não preveniu resfriados, por exemplo. Atenção: a substância pode reforçar o sistema imune, mas em doses normais, que são atingíveis com uma alimentação minimamente balanceada.
No mais, extrapolar a dose diária preconizada de certos nutrientes por meio da suplementação pode aumentar o risco de problemas de saúde, como mostramos neste especial.
Daí porque parece preocupante o dado de que apenas 20% dos participantes do levantamento da Abiad consultaram profissionais da saúde antes de aumentar o consumo de suplementos. Tatiana pondera que as pessoas avaliadas já eram acompanhadas por especialistas e que a suplementação não necessariamente precisa de endosso médico.
A questão é: como saber se você sofre alguma carência sem exames ou uma avaliação pormenorizada de sua dieta? Sem falar com quem realmente entende do assunto, fica bem complicado.
Por fim, o estudo revelou que 70% daqueles que aumentaram o consumo desses produtos desejam manter o hábito após a pandemia.
Nutrientes em prol da imunidade
Ok, o excesso de uma ou outra vitamina não vai trazer proteção adicional. Mas, de fato, há substâncias presentes em alimentos que, na quantidade adequada, beneficiam o sistema imunológico de maneira geral.
O zinco (mineral encontrado em carnes, frutos do mar, peixes, cereais integrais) é um deles. A aclamada vitamina C, presente em frutas cítricas e famosa por seu potencial antioxidante, é outro. A capacidade antioxidante do selênio, abundante na castanha-do-Pará, também o coloca como aliado contra infecções.
Algumas pesquisas dão conta de que a vitamina D, obtida por meio da exposição aos raios solares e do consumo de certos pescados, favoreceria o trabalho das nossas células de defesa.
Mas não custa reforçar: a melhor forma de obter quantidades adequadas dessas substâncias é através da dieta e de bons hábitos.
Consumo de suplementos cresce na pandemia do coronavírus. Vale a pena? Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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