quinta-feira, 16 de julho de 2020

Um mapa dos desafios para os pacientes que usam insulina e familiares

Este blog se chama O Futuro do Diabetes, mas não pode se furtar a olhar para o presente e a realidade das pessoas que convivem com a condição. E tenho a convicção de que só tendo dados e informações sobre elas, bem como suas impressões e opiniões, é que poderemos aprimorar a rede de cuidados ao paciente e melhorar sua saúde. É com isso em mente que atuei como curador técnico da pesquisa Os Altos e Baixos do Diabetes na Família Brasileira, iniciativa do Grupo Abril e de VEJA SAÚDE com o apoio institucional da Novo Nordisk.

O estudo entrevistou, por meio de questionários online, 831 pacientes que usam insulina e 553 familiares de indivíduos com diabetes de todas as regiões do Brasil. E por que pacientes e familiares? Porque o diabetes impacta a vida da casa toda, como comprova o próprio levantamento. E, se a família se engajar na rotina de cuidados, pode apostar que todo mundo sai ganhando: o paciente controla melhor a glicose; filhos, esposos, avós e companhia adquirem hábitos mais equilibrados.

Esse trabalho inédito descobriu uma série de achados e detalhes que trazem lições aos médicos e demais profissionais de saúde e nos ajudarão a orientar melhor os pacientes e as pessoas ao seu redor na adoção de um estilo de vida saudável e na adesão ao tratamento, que é indispensável à prevenção daquela lista extensa de complicações da doença.

A revista VEJA SAÚDE trará em breve uma reportagem com os principais dados e aprendizados da pesquisa e, no site do Endodebate, evento no qual acabamos de apresentar  o estudo para médicos de todo o país, você confere mais informações a respeito, mas queria aproveitar o momento para pinçar, entre tantas informações e insights relevantes, cinco pontos fundamentais do estudo, que estão absolutamente entrelaçados.

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1. Tem que monitorar essa glicose

Nossa pesquisa revela que boa parte dos pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2 que fazem uso de insulina medem menos os níveis de glicose no sangue do que deveriam. E isso é ainda mais crítico em duas situações: após as refeições e durante a madrugada.

Ora, monitorar o “açúcar no sangue” é uma das bússolas para sabermos se o tratamento está fazendo efeito e o paciente não tem picos ou quedas abruptas de glicose, a hipoglicemia. Medir à noite é importante nesse contexto inclusive porque tem gente que faz hipoglicemia de madrugada e nem percebe — uns acordam com suor frio, têm sono agitado…

Checar a glicemia também é crucial para que os pacientes que utilizam a insulina rápida minutos antes da refeição não errem a dose e fiquem mais sujeitos a desequilíbrios depois.

2. Vícios no uso da insulina

A monitorização da glicose nos remete ao uso do hormônio, essencial no tratamento de pessoas com diabetes tipo 1 e algumas com o tipo 2. Nelas, sem a substância natural para fazer o açúcar ser aproveitado pelo corpo, precisamos recorrer à versão sintética, que, graças aos avanços da ciência, tem cada vez mais facilitado a vida do paciente.

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Só que nosso estudo aponta algumas falhas na hora de usar a insulina, sobretudo a rápida. Quase seis em cada dez pessoas ouvidas não fazem a contagem de carboidrato e quase metade usa uma dose de insulina fixa, situações que contribuem para um controle pouco efetivo do diabetes. Tem mais: 43% assumem deixar de aplicar a medicação mesmo sabendo que ela é necessária, a maioria por esquecimento.

Isso tudo reforça a necessidade de nós, médicos, orientarmos os pacientes e sensibilizarmos inclusive as famílias para que o indivíduo com diabetes se sinta mais estimulado e munido de informações e recursos para aderir direito às prescrições dadas em consultório.

3. O perigo da hipoglicemia

Praticamente quatro em cada dez pessoas com diabetes entrevistadas na pesquisa têm quedas acentuadas de glicose (abaixo de 70 mg/dl) com alguma frequência. Esse dado chama a atenção por dois motivos: primeiro pelos riscos imediatos — imagine o sujeito dirigindo numa estrada e tendo um episódio desses — e segundo pelos reflexos de longo prazo na saúde.

O que preocupa é que boa parte dos pacientes relata não receber orientação satisfatória a respeito do manejo da hipoglicemia nem reconhece todos os sinais da hipo ou mesmo o fato de que, às vezes, ela não produz sintomas. Os próprios familiares ouvidos afirmam que precisariam estar mais bem preparados para agir diante de um problema desses.

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Nós recomendamos que toda pessoa com diabetes ande com uma carteira de identificação de que tem a doença e com um sachê de açúcar líquido para remediar as crises, só que é pequena a fração de pacientes que adere a esses expedientes no dia a dia. Enfim, temos muito trabalho pela frente na conscientização dos perigos e do controle da hipoglicemia.

4. Não adianta saber. Tem que fazer

O levantamento mostra algo que a gente vê no consultório. Muitos sabem o que fazer para domar o diabetes, mas não adotam essas medidas no cotidiano E aqui falo especialmente das mudanças de estilo de vida.

Um número expressivo de participantes tem dificuldades para manter uma alimentação equilibrada e praticar atividade física, por exemplo. E, na minha humilde opinião, é dever dos profissionais de saúde ajudar essas pessoas a entender e cumprir suas metas pensando no bem da própria saúde. É claro que isso envolve desafios: mais da metade dos entrevistados não se comunica com o médico que o acompanha além das consultas presenciais.

Mas não me canso de repetir que o tratamento do diabetes envolve a participação ativa do paciente. Isso significa que, mesmo devidamente orientado, ele precisa se esforçar para comer direito, monitorar a glicose, usar os remédios do jeito certo, suar a camisa… É fácil? Não. Mas é necessário e a recompensa não tem preço.

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5. Família é tudo

Não ouvimos os familiares de pessoas com diabetes à toa. Pais, irmãos, filhos… Eles também são agentes de mudanças bem-vindas à saúde e figuras que podem ajudar na adesão aos cuidados com a doença. A pesquisa Os Altos e Baixos do Diabetes na Família Brasileira constata que o problema mexe muito com a vida social, financeira e psicológica, e uma parcela significativa dos familiares participa de alguma forma dos pilares do tratamento (compra de remédios, alimentação, etc.).

Se o diabetes pode repercutir na casa toda, é de presumir que a casa toda possa se engajar para que o plano de ação contra a doença funcione a contento. E a gente vê isso na prática. O esclarecimento e o acolhimento dos familiares estimulam o paciente a se cuidar mais.

Enfim, o estudo aponta que temos uma oportunidade gigantesca de convocar mais a família para o tratamento (no sentido global do termo). É com essa aliança entre pacientes, familiares, médicos e outros atores que alcançaremos sucesso na batalha com o diabetes.


Um mapa dos desafios para os pacientes que usam insulina e familiares Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

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