segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Pesquisadores identificam superdoadores de cocô

Tratamentos envolvendo transplantes de fezes para recompor a flora intestinal e auxiliar na recuperação de certas infecções no intestino têm sido cada vez mais utilizados. Conforme alguns estudos revelam a eficácia do método em uma vasta gama de doenças e condições, outros aprimoram o entendimento sobre como tornar o procedimento ainda melhor. Assim nasceu uma classe inusitada de “heróis” da medicina: os superdoadores de cocô.

Suspeitas de que, mesmo entre cocôs expelidos por barrigas perfeitamente saudáveis, alguns eram melhores do que outros, começaram a surgir ao analisar a taxa de sucesso do transplante em casos específicos. Para tratar infecções ocasionadas pela bactéria Clostridium difficile, que provoca quadros de diarreia grave e dores de barriga, os resultados costumam ser muito bons independente do doador. Já no tratamento de outras doenças como a colite ulcerosa, uma terrível inflamação no trato intestinal, eles variam bastante.

Pesquisadores da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, conduziram uma ampla revisão dos resultados de transplantes fecais para entender o porquê dessa discrepância. Em um dos casos analisados, o cocô de um “superdefecador” mostrou-se duas vezes mais eficaz para tratar receptores com colite ulcerosa. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology: eles apontam que as fezes de um superdoador costumam conter uma maior diversidade microbiana.

No entanto, nem tudo se resume a uma fauna exuberante de micróbios. O tratamento de certas doenças como a colite ulcerosa parece se beneficiar da presença de bactérias específicas, que produzem elementos químicos específicos. Outros estudos sugerem que alguns vírus no cocô transplantado também podem ajudar a resolver determinados quadros. “Acreditamos que os superdoadores variam dependendo da condição que se está tentando tratar”, afirma Justin O’Sullivan, um dos autores do artigo.

Fatores como compatibilidade e reação imunológica entre doador e receptor também interferem, sem contar o estado do ecossistema microbiano na barriga de quem vai receber o transplante, determinado pela dieta. Mas isso é só o começo. Ao que tudo indica, o transplante fecal tem muitas nuances: os cientistas estão convencidos de que não existe um “cocô milagroso” capaz de curar qualquer doença. O segredo aparenta estar em estratégias personalizadas, capazes de encontrar o cocô certo para as necessidades de cada paciente.


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