terça-feira, 12 de março de 2019

Coreia do Sul quer usar chuva artificial para reduzir a poluição

Seoul, capital da Coréia do Sul, não é exatamente uma cidade limpa. Não estamos falando, lógico, de lixo nas ruas ou falta de infraestrutura pública – nisso os países asiáticos estão anos-luz na frente dos ocidentais. Mas em relação à poluição do ar a situação lá é bem crítica.

Na semana passada, o problema atingiu graus alarmantes: a taxa de concentração de partículas finas chegou a 136 microgramas/m3 em Seoul, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisa Ambiental da Coreia do Sul.

Acontece que o nível de poluição considerado “muito ruim” está na casa dos 75 microgramas/m3 – a cidade, portanto, registrou quase o dobro disso.

Antes de mais nada, vale reforçar porque essas tais “partículas finas” são prejudiciais: também conhecidas como partículas PM2.5 (partículas cujo tamanho chega até 2,5 micrômetros), elas possuem poluentes como sulfato, nitratos e carbono negro, desencadeando diversas doenças respiratórias e cardiovasculares. Seu apelido, “finas”, faz referência ao fato de serem pequenas o suficiente para invadir até mesmo as menores vias aéreas do corpo humano. Pesquisas anteriores já afirmaram que inalar 22 microgramas/m3 desses poluentes causa as mesmas consequências do que fumar um cigarro – os moradores de Seoul fumaram 6, sem querer, nesse dia de pico.

A situação foi tão grave que o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, tomou medidas emergenciais para baixar essas taxas: limitou o número de veículos nas ruas e ordenou a imediata redução de poeira dos canteiros de obras e estações de energia.

Ele também emitiu instruções para que antigas usinas de energia a carvão fossem desativadas antes do previsto. De acordo com o porta voz do governo, Kim Eui-kyeom, o presidente ainda pediu esforços para reduzir os danos a população, como a instalação de purificadores de ar de alta capacidade em todas as creches e escolas da cidade.

Mas a medida a longo prazo é a mais ambiciosa de todas: em conjunto com a China, ele propôs usar chuva artificial para reduzir a poluição do ar em Seoul. Isso pode “lavam a atmosfera” e impedir que os poluentes fiquem parados, concentrados em cima da cidade.

Chuva artificial?

Você pode estar curioso: mas como se faz chuva artificial? São umas mangueiras gigantes, tipo filmes de Hollywood? Longe disso. Na verdade, chuvas artificiais usam nuvens reais: o objetivo delas é manipular as forças da natureza para forçar a ocorrência de chuvas.

Um método comum ,que está sendo utilizado por vários países ao redor do mundo (como Emirados Árabes Unidos e China) é a chamada “semeadura de nuvens”. Ela envolve partículas microscópicas sendo disparadas em nuvens existentes usando geradores ou aeronaves terrestres.

Uma das substância mais comuns usadas neste processo é o cloreto de sódio (o sal de cozinha), mas há também o iodeto de prata e até gás carbônico congelado. Essas partículas atraem gotículas ao entrarem em contato com o vapor d’água e geram as precipitações.

Parece um processo simples, mas há algumas contra indicações: ele só é efetivo em nuvens que já possuam bastante vapor d’água. Basicamente, ele não “cria” chuva, apenas acelera precipitações que já iriam acontecer em algum momento. Outro problema dessa técnica é a interferência no meio ambiente: mesmo sem usar produtos tóxicos, o método altera a distribuição natural das chuvas – o que pode trazer resultados imprevisíveis no futuro.

A parceria com a China

Para resolver o problema da poluição em Seoul, a colaboração com a China é essencial. A cidade tem lutado para combater o aumento da poluição do ar, que está vinculada à atividade industrial maciça da China e às grandes emissões dos carros sul-coreanos. Sozinha, a Coréia do Sul só pode reduzir sua poluição doméstica, mas sem a redução das partículas finas trazidas pelos os ventos do oeste, predominantes nos desertos chineses que abrigam grandes centros industriais, de nada adiantaria.

A ideia primordial, então, é gerar chuva artificial sobre o Mar Amarelo, a oeste da península coreana, com o objetivo de amenizar a quantidade de poluição do ar que acaba entrando no país. Eui-kyeom, o porta-voz sul-coreano, ainda acrescentou: “a China alega que a poeira sul-coreana voa em direção a Xangai, portanto, criar chuva artificial sobre o Mar Amarelo ajudaria também o lado chinês”.

Outra vantagem dos parceiros é eles serem bem mais experientes que a Coreia no quesito chuva: o líder coreano admitiu que a China é “muito mais avançada” do que a Coréia nessas tecnologias meteorológicas. Em janeiro, a agência de metereologia sul-coreana não conseguiu, em um experimento, produzir chuva artificial. Agora, com a ajuda da China, eles acreditam que podem resolver os problemas anteriores e gerar um resultado positivo para os dois países.


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