quinta-feira, 4 de julho de 2019

Nova tecnologia pretende criar gravidade artificial no espaço

Muitos filmes, como “2001: Uma Odisseia no Espaço” mostram naves espaciais com módulos circulares, que giram para produzir um efeito gravitacional artificial. Agora, esse elemento típico da ficção científica parece estar mais perto da realidade. Pesquisadores americanos já estão testando centrífugas em miniatura — e obtendo resultados promissores.

A ideia é criar uma câmara rotatória de gravidade, que poderia ser alojada dentro de estações espaciais ou mesmo bases lunares no futuro. A câmara, que está sendo desenvolvida por engenheiros aeroespaciais da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, funcionaria como um “spa gravitacional”, onde os astronautas passariam algumas horas do dia para amenizar os danos que a ausência de peso provoca ao corpo. 

Torin Clark, líder do grupo de pesquisa, cita alguns dos impactos que a estadia prolongada fora da Terra causa à saúde. “Astronautas enfrentam perda óssea, perda muscular e descondicionamento cardiovascular no espaço”, diz em comunicado. “A gravidade artificial é ótima, porque pode superar tudo isso de uma vez só”, afirma.

Só tem um problema: a maioria das pessoas é tomada por um enjoo estranho quando colocada em uma máquina giratória. Qualquer um que já rodou naqueles brinquedos mais “radicais” dos parques de diversões provavelmente já sentiu o fenômeno. Basta tombar a cabeça um pouquinho para o lado para logo ser tomado por uma sensação desesperadora de queda livre. Isso acontece por conta de perturbações no ouvido interno, que é responsável pelo equilíbrio do corpo.

O efeito tão desconfortável que, por décadas, os engenheiros ficaram descrentes da gravidade artificial, pois pensavam ser impossível contornar essa questão. O protótipo dos cientistas americanos usa uma técnica para impedir esse mal-estar. A engenhoca é uma plataforma de metal onde a pessoa deita e começa a ser centrifugada — a velocidade angular gerada pelo movimento puxa os pés para a base e cria a impressão de peso. Veja um vídeo de demonstração:

Para descobrir se havia algum jeito de acabar com a sensação incômoda, os cientistas conduziram uma série de estudos. Recrutaram voluntários e fizeram-nos girar na centrífuga durante 10 sessões de teste. Eles perceberam que era só pegar leve no começo: mantinham a pessoa girando a apenas uma rotação por minuto até que ela parasse de sentir a ilusão de queda livre. E iam aumentando a velocidade aos poucos, sem muita pressa.

Deu certo. Ao final da décima sessão, todos os participantes já estavam girando a impressionantes 17 rotações por minuto — sem sentir qualquer desconforto. Nenhuma pesquisa anterior havia alcançado nada parecido. Os resultados foram reportados em um artigo publicado no periódico Journal of Vestibular Research. É uma ótima notícia para o futuro da exploração espacial tripulada.

Estudos do grupo revelam que, após 50 sessões, as pessoas suportam girar ainda mais depressa. Mas ainda é cedo para cogitar uma câmara dessas na ISS: será preciso investigar os efeitos dos treinos e determinar quanto de gravidade um astronauta precisa para reverter as perdas óssea e muscular. Mesmo assim, parece que a gravidade artificial não é uma ideia tão doida quanto parece — e pode deixar de ser mera ficção.


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