O Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica chega à sua segunda edição como uma das principais iniciativas do setor para reconhecer quem pesquisa e trabalha pelo avanço da ciência e da saúde no Brasil.
Criada pelos grupos Abril e Dasa, a premiação tem a curadoria da revista SAÚDE e conta com um júri de peso, com alguns dos principais nomes da medicina no país.
Dezenas de projetos foram indicados ao prêmio, concebidos por universidades, hospitais, centros de pesquisa, clínicas, ONGs, entidades governamentais e startups. Aqueles que preenchiam os critérios estipulados foram submetidos aos jurados, que, por meio de uma análise minuciosa, escolheram os três finalistas das cinco categorias: Inovação em Medicina Social, Inovação em Medicina Diagnóstica, Inovação em Genética, Inovação em Tratamento e Inovação em Prevenção.
É hora de anunciar os finalistas da edição 2019 — aos profissionais dos 15 trabalhos que concorrem aos troféus, a comissão organizadora do prêmio e a revista SAÚDE aproveitam para dar os merecidos parabéns!
Inovação em Medicina Social
Operando na Amazônia
Levar assistência médica às populações isoladas da Amazônia Legal Brasileira, de forma a evitar deslocamentos custosos e muitas vezes traumáticos de pacientes e famílias daquela região para tratamento nos centros urbanos: eis o objetivo da Associação Expedicionários da Saúde, organização com sede em Campinas (SP) que reúne médicos voluntários em três expedições anuais, cada uma delas com capacidade de realizar até 400 cirurgias. O grupo realiza procedimentos especialmente em clínica geral e oftalmologia, além de atendimentos em pediatria, ginecologia, ortopedia e odontologia.
O projeto conta com o Centro Cirúrgico Móvel, transportado e montado nas aldeias, com tecnologia de ponta desenvolvida exclusivamente para as atividades da equipe. Pioneira no país, a estrutura leva monitores de sinais vitais, ultrassom portátil, destiladoras de água, lavadoras ultrassônicas – tudo funcionando à base de energia fornecida por um grupo de geradores. Composto por salas de cirurgias e de pequenos procedimentos, área reservada para os médicos e sala de espera para os pacientes, o centro consegue vencer enormes dificuldades logísticas e levar aos confins do Brasil 15 toneladas de equipamentos necessários para realizar com segurança as dezenas de operações a cada deslocamento.
A iniciativa prova que é possível livrar a população de sofrimentos como cataratas e hérnias, oferecendo tratamento digno e humanizado onde tiver alguém que precise.
Projeto Operando da Amazônia
Autores: Ricardo Affonso Ferreira e Marcelo Lopes de Moraes
Instituição: Associação Expedicionários da Saúde da Saúde
Uma rede contra a falsificação de remédios
De acordo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a circulação de medicamentos falsificados, roubados ou fora de padrão movimenta dezenas de bilhões de dólares no mundo inteiro – e, claro, leva a prejuízos imensuráveis à saúde dos pacientes. Para assegurar a procedência dos produtos, pesquisadores de quatro instituições se uniram para desenvolver uma ferramenta capaz de rastrear os remédios que circulam pelo Brasil.
Os testes iniciais contaram com a parceria de indústrias farmacêuticas, distribuidoras, farmácias e hospitais, com foco em acompanhar todo o processo de produção, distribuição e venda. No momento da fabricação ou importação, o fármaco recebe o Identificador Único do Medicamento (IUM), um código contendo número de série, lote, validade, registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de uma numeração comercial.
Dessa forma, as etapas seguintes podem ser rastreadas e comunicadas à Anvisa, que enviará alertas ao menor sinal de movimentação atípica. Com o sucesso do projeto-piloto, a ideia, no futuro, é que o consumidor, por meio de aplicativo no celular, possa consultar toda a cadeia produtiva até a chegada da caixa do remédio à sua mão, para ter certeza de que está levando para casa um produto autêntico e seguro.
Sistema Nacional de Controle de Medicamentos
Autores: Vidal Augusto Zapparoli Castro Melo, Marisa Riscalla Madi, Eduardo Mario Dias, Alinne Lopomo Beteto, Aecio Meneses Alves, Leonardo Eloi Mathias, Anderson Eleuterio, Eduardo Almeida e Antonio Joaquim Meneses
Instituições: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InovaHC/InRad/USP), Grupo de pesquisa em Automação e Gestão da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (GAESI/ USP) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
Proteção para os pescadores brasileiros
No país, são cerca de 1 milhão de pessoas cuja sobrevivência está ligada a atividades pesqueiras. Esse contingente está sujeito a lesões ocasionadas por ferrões, nadadeiras e espinhos, sem contar o risco de envenenamento por espécies como o peixe-escorpião e os perigos de ficar por longos períodos expostos ao sol sem proteção.
Foi pensando em diminuir as ameaças resultantes do trabalho em rios e mares que o dermatologista Vidal Haddad Junior, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu), criou o projeto Pescadores do Brasil, desenvolvido em colônias de Santa Catarina, Paraná, Pará, Ceará e São Paulo, além de áreas do Pantanal. Os alertas são feitos em palestras e por meio de folhetos, cartazes e histórias em quadrinhos, utilizando linguagem simples e de fácil compreensão.
Medidas como o incentivo a usar latas para a coleta de ferrões de bagres, antes cortados e atirados no fundo dos barcos, fizeram diminuir significativamente os ferimentos causados por essa espécie. O programa fornece ainda orientações sobre os perigos de contato com águas-vivas, dicas de como caminhar nos rios para evitar o ataque de arraias e instruções sobre como limpar e tratar corretamente cortes e queimaduras. Com a implantação das iniciativas, algumas colônias de pescadores contempladas chegaram a zerar os índices de acidentes.
Projeto Pescadores do Brasil: educação comunitária para tratamento e prevenção de envenenamentos e traumas por animais aquáticos
Autor: Vidal Haddad Junior
Instituição: Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu)
Inovação em Medicina Diagnóstica
É zika, dengue ou chikungunya?
As recentes epidemias das chamadas arboviroses, infecções transmitidas por mosquitos, assim como o grande número de diagnósticos imprecisos e subnotificações, vêm impulsionando as buscas por metodologias capazes de diferenciar dengue, zika e chikungunya. Este trabalho de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista, usou a metabolômica por espectrometria de massas de alta resolução para chegar a biomarcadores específicos dessas infecções.
A tecnologia se baseia na análise de moléculas encontradas no sangue dos pacientes, comparadas por meio de inteligência artificial com um banco de dados de amostras infectadas com essas doenças. Num único teste, portanto, são pesquisadas três enfermidades, de forma mais precisa e a um custo menor.
O projeto tem potencial, assim, para nortear políticas públicas de controle de epidemias e direcionar campanhas de imunização. Isso sem contar que poderá orientar o acompanhamento pré-natal das mulheres para evitar casos de microcefalia causados pela zika, além de ajudar na triagem de doadores de sangue nos hemocentros e evitar que pessoas infectadas, mas sem sintomas, acabem contaminando outras em transfusões.
Diagnóstico diferencial e simultâneo de zika, dengue, chikungunya e co-infecções baseado em biomarcadores
Autores: Fábio Neves dos Santos, Aline Maria Araujo Martins, Kelly Grace Magalhães, Aldina Maria Prado Barral, Antonio Ricardo Khouri e Marcos Nogueira Eberlin
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Um robô que salva vidas
O Robô Laura é uma plataforma de inteligência artificial que sinaliza quando pacientes hospitalizados estão em risco de sofrer uma deterioração de saúde, caminhando para a sepse, quadro de infecção e inflamação generalizadas e uma das principais causas de mortes nas UTIs. Para chegar a essa tecnologia, os criadores do robô desenvolvido pelo Instituto Laura Fressatto, de Curitiba (PR), levaram em conta duas premissas.
A primeira é a de que, quanto mais cedo for detectada a piora clínica do indivíduo, maiores são as chances de atuar para melhorar seu desfecho. E consideraram também que um hospital é um ambiente complexo e muitas vezes as informações necessárias para as tomadas de decisão não estão à mão dos profissionais envolvidos.
Mas como a tecnologia cognitiva do software é capaz de salvar vidas? O robô Laura está conectado com o prontuário eletrônico com todas as informações da pessoa monitorada e avalia seus sinais vitais e os resultados de exames. Se os algoritmos percebem alguma mudança no padrão, ele emite um sinal para a equipe médica.
Em funcionamento desde 2016, a máquina está presente em 13 hospitais e já teve acesso a dados de 2,5 milhões de pacientes. Estudos comparativos pré e pós-implantação mostram uma redução de 25% na mortalidade geral, assim como uma diminuição de sete horas no tempo médio de internação por paciente graças à agilidade de medidas após as análises do robô Laura.
Robô Laura – Inteligência Artificial no Ambiente Hospitalar
Autores: Hugo Manuel Paz Morales, Jacson Luiz Fressatto, Cristian da Costa Rocha, Maria Luiza de Medeiros Amaro, Andressa Romero, Henrique Santos da Luz, Conrado Cabane, Felipe Barletta, Letícia Christensen e Felipe Locatelli
Instituição: Instituto Laura Fressatto
A telemedicina chega aos exames laboratoriais
Um dispositivo pequeno, de fácil locomoção, com uma bateria interna e acompanhando de kits. Para funcionar, depende apenas da conexão via telefone celular. Batizada de Hilab e desenvolvida pela empresa Hi Technologies, de Curitiba (PR), a plataforma realiza testes para detectar HIV, sífilis e hepatites virais, além de doenças crônicas como diabetes, dislipidemia e hipotireoidismo.
Funciona assim: uma gota de sangue coletada do dedo do paciente é inserida em uma cápsula que, por sua vez, é colocada no Hilab. A amostra é digitalizada e enviada, pela nuvem, para o laboratório central da empresa. Biomédicos analisam e imediatamente liberam um laudo, assinado digitalmente. Ao fim de um período entre 10 e 20 minutos, médico e paciente recebem os resultados.
Em outras palavras, o Hilab simplifica o conhecido roteiro de ir ao médico, ter exames solicitados, marcar a ida ao laboratório e voltar para nova consulta com os resultados para finalmente ficar ciente do diagnóstico – um processo que leva dias, quando não semanas, para ser concluído. Como usa inteligência artificial, o Hilab tem potencial ainda para analisar dados epidemiológicos, podendo, por exemplo, ser usado para antever epidemias de dengue e zika.
Hilab: serviço de telemedicina para exames laboratoriais
Autores: Bernardo Montesanti Machado de Almeida, Maurycio Ariel Komnitski, Caio Corsi Klosovski e Marco Antonio Vollet Marson.
Instituição: Hi Technologies.
Inovação em Genética
Investigando no DNA por que a puberdade chega cedo demais
Um conjunto de mudanças biológicas é característico da adolescência, mas se ele acontece antes da hora desencadeia uma série de distúrbios físicos e comportamentais. É a chamada puberdade precoce, mais comuns nas meninas. Nelas, costuma acontecer antes dos 8 anos, com a chegada da primeira menstruação e o desenvolvimento das mamas.
Nos meninos, dá as caras por volta dos 9 anos, quando aparecem sintomas como alteração no tom de voz e aumentos de pelos no rosto. A ciência há tempos estuda fatores ambientais, socioculturais, metabólicos e genéticos envolvidos na regulação do desenvolvimento sexual. E esta pesquisa conduzida no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP) vem contribuir com uma importante descoberta sobre o aparecimento prematuro da condição.
A partir do sequenciamento de DNA de pacientes e familiares, os especialistas descobriram uma mutação no gene MKRN3 como causa do problema. As análises revelaram que essa alteração é uma herança paterna, ainda que o pai da criança afetada não tenha ele próprio apresentado maturação sexual antecipada. Numa segunda etapa, a investigação genômica chegou a outro gene, o DLK1, igualmente envolvido no distúrbio. Os conhecimentos gerados no estudo poderão acelerar o diagnóstico da puberdade precoce e auxiliar no aconselhamento genético das famílias e na condução do tratamento que bloqueia o processo e evita dissabores como perda de estatura, obesidade, diabetes, entre outras complicações.
Avanços no diagnóstico genético e epigenético da puberdade precoce central
Autores: Ana Claudia Latronico, Marina Cunha Silva Pazolini, Luciana Montenegro, Ana Pinheiro Machado Canton, Delanie Macedo, Larissa Gomes, Berenice Bilharinho de Mendonça, Ana Krepiski e Vinicius Nahime Brito.
Instituição: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP)
Um retrato da doença falciforme no Brasil
Estima-se que o país tenha entre 25 mil e 30 mil pessoas com anemia falciforme, além de 7 milhões de portadores da alteração genética que leva ao nascimento de 3 500 bebês com a enfermidade todo ano. Causada por uma mutação no gene da hemoglobina – a proteína do sangue responsável pelo transporte de oxigênio aos tecidos do organismo –, a doença falciforme tem na transfusão de sangue uma das principais terapias. A questão é que essa estratégia pode gerar também reações adversas de anticorpos e até acidente vascular cerebral.
Daí por que quatro hemocentros brasileiros se uniram para criar um banco de dados eletrônico com capacidade de centralizar informações clínicas, laboratoriais e de transfusão relacionados à condição. Os quase 3 mil pacientes recrutados foram submetidos a entrevista, análise de prontuário médico e coleta de amostra sanguínea para o sequenciamento genômico completo.
Com a catalogação minuciosa das informações, é possível definir a epidemiologia brasileira da doença falciforme, estabelecer marcadores genéticos responsáveis por complicações e prever o risco de infecções por transfusão. Além disso, a iniciativa fornece embasamento para futuras pesquisas e, de acordo com os autores, tem potencial para influenciar não apenas a gestão da população falciforme brasileira, mas o tratamento de pacientes em todo o mundo.
Estabelecendo uma coorte brasileira da Doença Falciforme: identificando determinantes moleculares de resposta a transfusões e determinantes genéticos de aloimunização
Autores: Anna Bárbara de Freitas Carneiro Proietti, Carla Luana Dinardo, Paula Loureiro, César de Almeida Neto, Dahra Teles, Tassila Salomon, Carolina Miranda Teixeira, Ligia Capuani, Miriam V. Park, Paula Blatyta, Cláudia de Alvarenga Máximo, Shannon Kelly, Brian Custer, Ester Cerdeira Sabino e André Belisário.
Instituições: Fundação Hemominas, Fundação Hemope, Fundação Hemorio e Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICr/HC/FMUSP)
Um banco de genes e dados voltado às alterações de crânio e face
No mundo, a cada 2 minutos e meio, nasce um bebê com uma fenda de lábio e palato, uma das alterações mais comuns no conjunto de anomalias craniofaciais. Essa e outras condições genéticas que impactam a estrutura óssea de crânio e face demandam tratamento prolongado e acompanhamento de diferentes profissionais de saúde, entre eles cirurgiões, pediatras, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. Por isso, reconhecer a história natural dessas alterações é crucial para seu manejo adequado.
Dessa necessidade nasceu o CranFlow, uma aplicação online para coleta e armazenamento de dados sociodemográficos, genéticos e clínicos de pacientes. Gerenciada pelo Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ferramenta está implantada em nove municípios distribuídos pelas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Os dados ali acumulados permitem o acesso a investigações em genética, promovem a troca de conhecimentos entre os profissionais de saúde, facilitam a tomada de decisões médicas e norteiam ações educativas para as famílias envolvidas.
Implantada desde 2014, seus resultados podem contribuir para desenhar políticas públicas voltadas à identificação de fatores de risco e prevenção, levando em conta as características da população brasileira, além de padronizar o atendimento de quem nasce com esse tipo de problema.
CranFlow- uma aplicação on line para seguimento clínico e subsídios para políticas públicas em anomalias craniofaciais
Autores: Vera Lúcia Gil da Silva Lopes, Isabella Lopes Monlleó e Roberta Mazzariol Volpe Aquino
Instituição: Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Inovação em Tratamento
Pele de tilápia para tratar queimaduras
No Brasil, todo ano pelo menos um milhão de pessoas sofrem com lesões na pele provocadas por acidentes domésticos ou de trabalho. Nos centros de atendimento especializados em queimaduras, em geral da rede pública, o tratamento convencional se baseia em banhos anestésicos, enxertos de pele, curativos sintéticos e pomadas, procedimentos que, além do alto custo, podem acarretar experiências dolorosas aos pacientes.
Agora, uma técnica simples, barata e genuinamente nacional, concebida por cientistas de três instituições cearenses, virou promessa de minimizar o sofrimento dos queimados e acelerar a cicatrização. Trata-se de um curativo biológico feito a partir de pele de tilápia e já usado com sucesso em mais de 500 pessoas. Tudo começou quando, cientes dos estoques reduzidos nos bancos de pele humana e em busca de uma alternativa, os especialistas tiveram conhecimento do grande volume de pele desse peixe descartado pela indústria de alimentos. O passo seguinte foi examinar o produto em laboratório, e então descobriram que ele continha o dobro de colágeno da pele humana.
Definido o processo de limpeza e esterilização, nos testes clínicos notaram que o material aderia totalmente às feridas, evitando contaminação externa e perda de líquido e proteína pelas lesões, além de reduzir significativamente a troca de curativos. O método trouxe mais qualidade de vida aos pacientes e gerou uma queda de 50% nos custos do tratamento. Sem relatos de rejeições ou infecções, a estratégia está em fase de avaliação para ser incorporada ao Sistema Único de Saúde, o SUS.
Tratamento de queimaduras e feridas com curativo biológico derivado de pele de tilápia
Autores: Edmar Maciel Lima Júnior, Manoel Odorico de Moraes Filho, Maria Elisabete Amaral de Moraes, Felipe Augusto Rocha Rodrigues, Carlos Roberto Koscky Paier e Marcelo José Borges de Miranda
Instituições: Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (NPDM/UFC) e Centro de Tratamento de Queimados do Instituto Dr. José Frota (CTQ/IJF)
Estimulação craniana combate dores em casa
Os benefícios da chamada estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) já são conhecidos em tratamentos de síndromes dolorosas, depressão e outras condições que envolvem a comunicação entre neurônios. A questão é que a técnica precisa ser empregada em centros especializados e sob supervisão profissional. Após três anos de pesquisas, uma equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) viabilizou outro caminho para atenuar os desconfortos dos pacientes, sem necessidade de deslocamentos e a um baixo custo.
O ETCC de uso domiciliar é de fácil manuseio e permite diferentes montagens para adequar a posição dos eletrodos de acordo com propósito terapêutico, seja ele minimizar dores, melhorar a função motora ou reduzir sintomas depressivos. O dispositivo é composto uma touca de neoprene revestida de esponja vegetal, um aparelho de ETCC, um carregador de baterias, eletrodos e seringas com soro fisiológico. O procedimento pode ser feito com segurança em casa, enquanto a pessoa lê, usa o computador ou assiste à TV. As sessões variam de 20 minutos e 30 minutos, em intervalos de cerca de 20 horas.
A eficácia do equipamento foi comprovada em estudo com mulheres que sofrem de fibromialgia, problema crônico que provoca dores pelo corpo inteiro. Após 60 sessões, num período de 12 semanas, aquelas que passaram pelo tratamento com a touca relataram uma redução de até 60% nos incômodos e de 50% no uso de analgésicos. O aparato está patenteado e à espera de investimentos para produção em escala.
Desenvolvimento e avaliação de segurança e eficácia de aparelho de estimulação transcraniana de corrente contínua (ETCC) para uso domiciliar
Autores: Wolnei Caumo, Paulo Roberto Stefani Sanches, Fabiana Carvalho, Danton Pereira da Silva Jr., Iraci L. S. Torres e Felipe Fregni
Instituição: Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA)
Técnica 100% brasileira para sanar o aumento da próstata
A hiperplasia benigna da próstata, caracterizada pelo crescimento dessa glândula, acomete metade dos homens com idade entre 50 e 60 anos e pode trazer consequências que vão de jato urinário fraco a infecções e até perda de função dos rins. Os principais tratamentos se baseiam em medicamentos e cirurgias, que não estão isentos de efeitos adversos, entre eles sangramentos, disfunção erétil e incontinência urinária.
Uma técnica pioneira idealizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), a embolização das artérias da próstata (EAP), constitui uma opção segura e eficaz para o manejo do problema. O procedimento consiste num cateter inserido numa artéria da virilha, que, ao chegar à próstata, injeta micropartículas para entupir alguns vasos sanguíneos – o que provoca uma redução do tamanho da glândula.
Os resultados de dez anos de uso da embolização, recentemente consolidados, atestam o êxito do método. A operação, minimamente invasiva, feita sob anestesia local e sem a necessidade de internação, foi executada em centenas de pacientes e vem ganhando aval no Brasil e no mundo inteiro. Tanto que foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, incluída nas diretrizes do National Institute for Health and Care Excellence, do Reino Unido, e aprovada nos Estados Unidos.
Embolização das artérias da próstata (EAP) como tratamento dos sintomas obstrutivos do trato urinário inferior decorrentes da hiperplasia prostática benigna
Autores: Francisco Cesar Carnevale, Airton Mota Moreira, André Moreira de Assis, Alberto Azoubel Antunes e Miguel Srougi
Instituição: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP)
Inovação em Prevenção
Educando adolescentes contra o tabagismo
O ideal seria nem acender o primeiro cigarro, para assim escapar de uma das principais causas de mortes evitáveis no mundo, mas estudos pelo mundo afora mostram que o primeiro contato com tabaco se dá ainda na adolescência. Daí a motivação que levou à criação da rede multinacional EAT, sigla em inglês para “Educação contra o Tabaco”.
Formada por estudantes da área de saúde e médicos voluntários, ela realiza ações em escolas para alertar a garotada sobre os riscos de fumar. No Brasil os grupos estão organizados desde 2016, em 15 faculdades de medicina, impactando cerca de 8 mil jovens por ano. Entre 2016 e 2018, um estudo conduzido pela sede da EAT na Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) mediu a força da iniciativa entre estudantes de instituições públicas dessa cidade mineira.
O pulo do gato das intervenções é usar uma linguagem atraente a essa faixa etária, o que significa, claro, integrar-se à era digital, apelando para aplicativos como o Smokerface e Smokerstop. No primeiro, o usuário tira uma selfie, e uma simulação mostra como ficaria seu rosto no futuro se ele fumasse. Já no Smokerstop, o fumante define uma data para largar o cigarro, e o app envia notificações para incentivá-lo a seguir firme na decisão.
Os resultados obtidos comprovaram o sucesso: nas turmas abordadas pelos voluntários da rede, houve uma taxa menor de iniciação ao tabagismo e um aumento no índice de abandono do vício.
Rede EAT-Brazil (Education Against Tobacco – Brazil): intervenções com adolescentes brasileiros para prevenção do tabagismo
Autores: Daiana Carolina Godoy, Breno Bernardes-Souza, Caio Alves de Lima, Rayanna Mara de Oliveira Santos Pereira, Paulo César Rodrigues Pinto Corrêa, Oscar Campos Lisboa, Titus Josef Brinker e Vitor Luis Tenorio Mati
Instituição: EAT-Brazil da Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)
Para resguardar o coração durante a quimioterapia
Não é de hoje que a medicina busca alternativas para remediar os efeitos da toxicidade dos quimioterápicos usados no tratamento de tumores. No caso da antraciclina, classe de drogas amplamente utilizada no câncer de mama, um dos motivos de preocupação é sua capacidade de provocar danos ao coração.
Com isso em mente, uma equipe do Instituto do Coração, o InCor, em São Paulo, promoveu um estudo com 200 mulheres, todas com funções cardíacas normais e fazendo uso de doxorrubicina, quimioterápico do grupo das antraciclinas. Elas foram divididas em dois grupos: um deles recebia carvedilol, medicamento que auxilia no desempenho do coração, e o outro tomava placebo.
Nas avaliações feitas após seis meses de intervenção, as pacientes medicadas preventivamente com carvedilol apresentaram níveis menores de troponina, um marcador sanguíneo que indica danos no coração. Além disso, sofreram uma menor incidência de disfunção diastólica, que acontece em quadros de insuficiência cardíaca.
Com os resultados animadores, o trabalho pode mudar a prática clínica na cardio-oncologia. Sem contar seu impacto social, uma vez que tem como alvo doenças com alto grau de mortalidade no país, e tanto o tratamento quimioterápico quanto a medicação para cardioproteção estão disponíveis no SUS – sendo, portanto, acessíveis em larga escala.
Efeito do carvedilol na prevenção da cardiotoxicidade por antraciclinas: estudo randomizado, duplo-cego, placebo controlado (CECCY Trial)
Autores: Monica Samuel Avila, Silvia Moreira Ayub-Ferreira, Mauro Rogerio de Barros Wanderley Junior, Fatima das Dores Cruz, Sara Michelly Gonçalves Brandão, Ludhmila Abrahão Hajjar, Marilia Harumi Higuchi dos Santos, Roberto Kalil Filho, Paulo Marcelo Hoff, Marina Sahade, Marcela S.M. Ferrari, Romulo Leopoldo de Paula Costa, Max Senna Mano, Cecilia Beatriz Bittencourt Viana Cruz, Marco Stephan Lofrano Alves, Guilherme Veiga Guimaraes, Victor Sarli Issa, Marcio Sommer Bittencourt e Edimar Alcides Bocchi
Instituição: Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HC/FMUSP)
O elo entre dengue e zika: o impacto de uma doença sobre a outra
Entre as muitas inquietações despertadas pelas epidemias causadas pelo mosquito Aedes aegypti, uma pergunta motivou o trabalho capitaneado pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), no interior de São Paulo: será que o anticorpo contra a dengue teria alguma influência sobre a infecção causada pelo vírus da zika? Como os agentes infecciosos responsáveis pelas duas enfermidades circulam nas mesmas regiões endêmicas, a comunidade científica levantou a hipótese de que ser infectado por zika após ter sofrido o ataque da dengue poderia resultar em aumento de casos de microcefalia em filhos de mulheres picadas na gestação, assim como de síndrome de Guillain-Barré – doença autoimune que atinge o sistema nervoso e gera fraqueza progressiva. Havia o temor até mesmo de que imunizar a população contra a dengue pudesse levar a casos mais severos de zika.
Pois os resultados do estudo da Famerp desmistificaram esse cenário sombrio. Feita com pacientes que se encaixavam no perfil considerado de risco, a pesquisa mostrou que, ao contrário, os anticorpos da dengue podem proteger e melhorar as respostas imunológicas contra uma posterior infecção por zika. Essas observações, argumentam os autores, podem auxiliar no entendimento do desfecho clínico das doenças, guiar testes sobre a segurança e a eficácia de vacinas e nortear estratégias de prevenção.
Estudo clínico sobre os impactos da infecção prévia pelo vírus da dengue na infecção pelo vírus zika
Autores: Mauricio Lacerda Nogueira, Ana Carolina B. Terzian, Sasha R. Azar, Adriana Andrade, Nathalia Zini, Rafael Alves da Silva, Gislaine Celestino Dutra da Silva, Marcos Tayar Augusto, Alice Versiani, Cássia Fernanda Estofolete, Tatiana Elias Colombo, Erna Geessien Kroon, Kathryn A. Hanley e Nikos Vasilakis.
Instituições: Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), University of Texas Medical Branch (UTMB), Universidade Federal de MInas Gerais (UFMG)
Saiba mais no site oficial da premiação.
Conheça os finalistas do principal prêmio de inovação médica no Brasil Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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