quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Ratos brincam de esconde-esconde por diversão

A cultura popular acredita que os ratos são bons em se esconder. O Jerry, por exemplo, nunca chegou nem perto de ser comido pelo Tom. Mas, agora, pesquisadores da Universidade Humboldt, na Alemanha, constataram que esses bichinhos não se escondem só para salvar suas vidas – também o fazem por recreação.

A brincadeira acontece entre eles e, pasme, também com os cientistas, no laboratório. O rato se esconde e o cientista procura. Ou o cientista se esconde e o rato procura. Exatamente isso que você leu. Calma, a gente vai explicar e tudo vai fazer sentido.

O objetivo dos cientistas alemães era estudar a ciência por trás do esconde-esconde. Na verdade, nas últimas décadas, cientistas do mundo inteiro começaram a explorar os fundamentos neurais, comportamentais e evolutivos de se brincar durante a infância.

Segundo os pesquisadores, todos os mamíferos – como ratos, elefantes e seres humanos – brincam com seus pares durante os primeiros estágios da vida. Pode parecer algo trivial, mas na verdade é bastante sofisticado: brincadeiras muitas vezes envolvem abstração (a capacidade de fingir estar em outro lugar, fingir que é outra pessoa, “interagir” com coisas imaginárias) e comportamentos não justificados – se esconder sem estar em perigo, por exemplo.

Em teoria, a brincadeira é algo que gasta energia sem um propósito específico, o que não é muito comum na natureza. Por isso, se já é um hábito curioso para seres humanos, que tem autoconsciência, imagine para outras espécies movidas puramente pelo instinto.

Para tentar entender a questão, os pesquisadores decidiram documentar tipos simples de brincadeiras em diversas espécies de mamíferos. Isso inclui ratinhos de laboratório.

Os cientistas já sabiam que esses bichos davam “risada” (detectadas por aparelhos, já que não são audíveis pelo ouvido humano) quando sentiam cócegas na barrigas. Mas, dessa vez, eles tentaram algo mais complexo: o famigerado esconde-esconde.

A questão central é que essa brincadeira envolve mais do que apenas se esconder sem razão lógica. Ela também requer uma compreensão clara dos papéis distintos das pessoas durante o jogo – quem vai se esconder e quem vai procurar –, além da capacidade de assumir diferentes papéis nas diversas rodadas. Ou seja, os camundongos iam ter que entender e respeitar regras um tanto complexas.

Os pesquisadores ensinaram seis ratos machos adolescentes como jogar uma versão individual de esconde-esconde – um rato versus a neurocientista Annika Stefanie Reinhold.

Primeiro, os autores encheram uma sala com esconderijos feitos de caixas diferentes e permitiram que os ratos se acostumarem com o espaço. Os bichos foram ensinados que, se começassem o jogo dentro de uma caixa fechada, eles procurariam a pesquisadora, enquanto estar em uma caixa aberta significava que precisavam se esconder. Você pode conferir o processo no vídeo abaixo, concedido ao jornal Los Angeles Time.

Os resultados foram mais surpreendentes do que o que os cientistas previam: os ratos se mostraram exímios jogadores. Quando estavam procurando, eles demonstraram ter aprendido os locais que seu oponente mais se escondia, enquanto quando tinham que se esconder, eles acabaram percebendo que caixas opacas são os melhores lugares para não serem encontrados.

Enquanto os ratos brincavam, os pesquisadores registraram a atividade cerebral de neurônios no córtex pré-frontal do cérebro deles, em uma região associada à compreensão de regras e proximidade social. Eles descobriram que o comportamento dos neurônios dos ratos variava conforme eles atuavam como o “escondedor” ou o “procurador”, sinal de que eles percebiam esses papeis como diferentes.

O curioso é que, normalmente, ratinhos de laboratório são recompensados com comida após os experimentos – como forma de “motivação”.

Mas os pesquisadores queriam testar se ratos topariam executar essas tarefas em troca de outras recompensas mais sociais, como… carinho. Por isso, quando a cientista encontrou um rato escondido, ou foi descoberta por um rato que a procurava, o animal foi “recompensado” com cócegas e outras brincadeirinhas. Exatamente como se fosse um cachorro ou um gato.

Resultado? Eles amaram. Eles também pulavam de alegria e soltavam “risadas” ao fim das rodadas. Além de jogar em troca de interações carinhosas com a cientista, o teste mostrou que os ratos também foram motivados apenas pela diversão do jogo: quando estavam se escondendo, alguns até prolongavam a brincadeira fugindo do cientista assim que era encontrado – como crianças empolgadas, eles queriam continuar brincando de novo e de novo.

O estudo foi publicado na revista Science. Os cientistas afirmam que experimentos como esse pode nos dizer mais sobre o aprendizado no cérebro de mamíferos, assim como ajudar a entender melhor a importância do brincar. Se dependesse da redação da SUPER, os próximos testes seriam com bezerrinhos – consegue imaginar que fofura seriam esses vídeos?


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