sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Mulher fica com o sangue azul-marinho após usar pomada para dor de dente

Uma mulher americana de 25 anos que garante não ter nenhum grau de parentesco com aracnídeos ou nobres deu entrada no hospital de Providence – capital de Rhode Island, na costa leste dos EUA – com o sangue da cor de um tubinho de caneta esferográfica. Dá uma olhada:

O caso incomum foi descrito brevemente por dois médicos no New England Journal of Medicine, um periódico especializado. Após um dia se sentindo fraca, cansada e sem fôlego, a paciente notou que sua pele estava pálida e azulada. Manchas escuras haviam se formado nas unhas. Esse quadro é chamado pelos médicos de cianose – que deriva da palavra ciano, um nome chique para a cor turquesa.

A paciente havia aplicado uma pomada anestésica de benzocaína na gengiva após um procedimento dolorido no dentista – mas exagerou na dose. O medicamento desencadeou um aumento nos níveis de meta-hemoglobina no sangue. A meta-hemoglobina é uma variação da hemoglobina – um proteína com ferro na fórmula que é responsável por aderir ao oxigênio e transportá-lo à bordo de células chamadas glóbulos vermelhos (hemácias).

Coisas que contém ferro, tipo hemoglobina ou o planeta Marte, costumam ser vermelhas. A meta-hemoglobina, por outro lado, dá ao sangue a cor azulada da foto acima – e adere ao oxigênio com muito mais entusiasmo que sua versão comum.

Normalmente, o sangue é como um carrinho de aeromoça, que passa pelos corredores do avião fornecendo alimento (oxigênio) para os passageiros e coletando o lixo (gás carbônico) que eles geram. Os passageiros, é claro, são os órgãos e tecidos do nosso corpo. A meta-hemoglobina, por outro lado, não fornece o gás vital: ela se agarra ao dito-cujo e não solta. É como se os comissários de bordo escondessem os lanchinhos nos bolsos em vez de entregá-los.

Isso explica a fadiga e a falta de fôlego da moça: suas mitocôndrias, as usinas de energia das células, estavam sem oxigênio para queimar. No momento em que fez os exames, 44% de suas hemoglobinas haviam se convertido em meta-hemoglobinas.

Ironicamente, o antídoto para meta-hemoglobinemia – o nome oficial do problema – é ingerir uma substância chamada azul de metileno. Ele é capaz de converter as meta-hemoglobinas de volta em hemoglobinas comuns. E também é capaz de estrelar um poema de Carlos Drummond de Andrade, que era farmacêutico de formação: “No azul do céu de metileno / a lua irônica / diurética / é uma gravura de sala de jantar.”

Voltando ao assunto: aranhas e outros aracnídeos também são famosos por terem sangue azul. Mas isso é porque as moléculas transportadoras de oxigênio desses animais são baseadas em cobre, e não em ferro.

A mulher retomou o fôlego pouco tempo após ser medicada e foi liberada. Da próxima vez, talvez valha mais a pena aguentar um pouquinho a dor de dente.

 


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