quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Pássaros estão ficando menores. E a culpa pode ser das mudanças climáticas

Entre os anos de 1978 e 2016, um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan e do Museu Field, nos Estados Unidos, se dedicou a um trabalho um tanto quanto insólito: recolher, medir e pesar cadáveres de passarinhos que morreram após colidirem com prédios em Chicago. Não parece, mas esse é um problema comum. Estima-se que 600 mil aves morram dessa forma todos os anos só nos EUA.

Foi graças a essa estatística desagradável, no entanto, que os cientistas conseguiram reunir informações inéditas sobre aves migratórias da América do Norte – e encontrar alguns dados surpreendentes. A análise, que envolveu mais de 70.716 exemplares de pássaros, revelou que 49 das 52 espécies recolhidas ficaram menores ao longo do tempo. Para 40 delas, a “envergadura” aumentou – o que significa dizer que as asas ficaram mais compridas com o passar dos anos.

Nos quase 40 anos de pesquisa, o tamanho do tarso – osso inferior da perna dos pássaros, que é uma métrica muito usada para medir seu tamanho – ficou em média 2,4% menor. E no mesmo período, a amplitude das asas aumentou em 1,3%.

“Fiquei incrivelmente surpreso de que todas essas espécies tenham respondido de forma tão parecida. A consistência dos dados foi chocante”, disse Brian Weeks, professor da Universidade de Michigan que liderou a pesquisa, em comunicado.

Segundo os pesquisadores descrevem em um artigo científico publicado na revista Ecology Letters, esses padrões apontam para um mesmo problema: o aquecimento global. O aumento das temperaturas das últimas décadas teria influenciado no desenvolvimento dos pássaros, e nas mudanças anatômicas que eles incorporaram. Em Chicago, especificamente, a temperatura durante o verão, época em que as espécies costumam se reproduzir, era 1ºC maior ao fim do período.

Mas por que o aumento dos termômetros do planeta resulta em pássaros de menor tamanho? A hipótese mais consistente é que trata-se de uma adaptação evolutiva. Animais menores, no geral, retêm menos calor do ambiente. Isso, em um planeta mais quente, se torna uma virtude. Por outro lado, os pesquisadores constataram que as asas dos pássaros estão aumentando, o que poderia servir para compensar a perda de massa corporal. Pássaros com asas mais longas gastam menos energia para se mover e, assim, podem voar por longas distâncias com menos esforço.

Como a perda de peso influi no tamanho geral do corpo, largavam na frente aqueles que, apesar de pequenos, tinham asas mais compridas. Voar de forma mais eficiente significa ter mais chance de sobreviver. Uma vez que a taxa de sobrevivência desses pássaros é maior, a chance de eles passarem essa característica aos seus descendentes também aumenta.


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