O britânico James Cook, capitão da Marinha Real, foi o primeiro europeu a desembarcar na costa leste da Austrália – onde hoje se localizam algumas das maiores cidades do país, como Sydney e Brisbane.
Ele também deu uma volta completa de navio no arquipélago que hoje abriga a Nova Zelândia. Em 1º de outubro de 1769, enquanto explorava a baía de Plenty, a norte da Ilha Norte, Cook observou uma ilhota vulcânica – que batizou de White Island (europeus só pisariam na ilha pela primeira vez em 1826).
Não se sabe o porquê do “branco”: talvez fosse uma referência à quantidade monumental de cocô de pássaro acumulado nas rochas. Ou uma brincadeira com as fofas nuvens de vapor que saíam da boca do vulcão. Cook não notou, porém, que o local era um vulcão – não há nenhuma anotação do tipo em seus diários. É possível que tenha confundido a fumaça esbranquiçada uma nuvem baixa.
O vulcão de White Island explodiu sem aviso prévio às 2h11 de segunda (9) no horário local – era madrugada de domingo para segunda no Brasil. Cinco pessoas morreram e outras 20 se feriram. A maioria eram turistas. Cerca de 25 ainda estão desaparecidas, mas as equipes de resgate não estão conseguindo acessar o local em segurança, de acordo com o jornal britânico The Guardian. O vulcão é o mais ativo da Nova Zelândia, e entrou em erupção com frequência nos últimos 50 anos.
70% do vulcão fica abaixo da superfície da água; a ilha é só a pontinha do iceberg. Os nativos da etnia Maori chamavam o local de Whakaari, que significa, ao pé da letra, “aquilo que pode se tornar visível”. Eles viram o mesmo que Cook – uma cortina de gás que ora ocultava a ilha, ora deixava transparecer o relevo desolado e lunar de suas praias. O vulcão atingiu a aparência atual há cerca de 150 mil anos, por meio do lento acúmulo de lava solidificada.
Em 1858, a New Zealand Manure & Chemical Co. começou a minerar enxofre em White Island. O elemento químico com cheiro de ovo podre – que se acumulava em cristais brancos e amarelos cravados nas encostas acidentadas da ilha –, tinha mil utilidades: era um agente bactericida poderoso antes da invenção da penicilina, essencial nos hospitais do século 19. Também era um fertilizante essencial para a agricultura, e matéria prima do ácido sulfúrico, usado em várias indústrias.
Assim ocorreu o primeiro acidente: dez mineiros morreram em setembro de 1914, quando uma parte do anel da boca do vulcão desabou. Eles nunca foram encontrados. Um gato, chamado Pedro, o Grande, sobreviveu. A próxima colônia de mineração, que data de 1923, se estabeleceu em um trecho plano da ilha, distante da área mais perigosa. Os operários chegavam de barco ao local da extração de enxofre. Carrinhos que corriam por uma rede trilhos – como aqueles do segundo Indiana Jones – escoavam a produção.
A ilha foi comprada em 1936 por um certo ricaço chamado George Buttle. Até hoje pertence à sua família, e quatro empresas de turismo tem autorização para levar pessoas até lá. Graças à água quente expelida por fumarolas submarinas, um rico ecossistema se formou sob as praias de White Island. Há inclusive um local chamado Baía de Champagne – em referência às bolhas que escapam das fontes termais.
De acordo com a religião Maori, o vulcão Whakaari se formou quando a comitiva de Ngatoroirangi, um sacerdote poderoso de tempos imemoriais, escalava o Monte Tongariro, outro vulcão neozelandês. Prestes a morrer de frio durante uma violenta tempestade, Ngatoroirangi pediu ajuda a suas irmãs, Te Pupu e Te Hoata. Elas viajaram até o local em forma de espíritos de fogo, que emergiam da água de tempos em tempos. Em cada local em que Te Pupu e Te Hoata fizeram uma pausa, surgiu um vulcão.
Esta cadeia de vulcões, sabemos hoje, é parte do Anel de Fogo do Pacífico. É uma faixa de intensa atividade geológica que contorna o maior oceano da Terra – onde ocorrem 90% das erupções do mundo.
Vulcão que explodiu na Nova Zelândia já havia matado 10 operários em 1914 Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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