sexta-feira, 13 de março de 2020

Conheça o Wasp-76b, novo planeta em que chove metal líquido

Se uma chuva de ferro começasse a cair aqui na Terra, só haveria uma resposta possível para o fenômeno: apocalipse. Mas, para o Wasp-76b, que está a 640 anos-luz de nós, isso é só mais um dia como qualquer outro.

O Wasp foi encontrado há quatro anos, e recebeu esse nome (que, em inglês, quer dizer “vespa”) por causa do WASP, organização astronômica que procura por exoplanetas (planetas que se localizam fora do Sistema Solar).

As descobertas recentes da chuva de metal, no entanto, foram feitas por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça. Eles observaram que a temperatura por lá pode chegar aos 2.400 oC – quente o suficiente para vaporizar metais. Isso se deve à proximidade do Wasp-76b com a estrela em que orbita: ele está tão perto que leva apenas 43 horas para dar uma volta em torno dela.

O novo exoplaneta se encaixa em uma categoria que os cientistas chamam de “Hot Jupiter”: gigantes gasosos (daí a referência a Júpiter) cujas órbitas são tão próximas a uma estrela que é impossível abrigar vida. Em janeiro, a SUPER contou a história do KELT-9b, outro integrante desta categoria e que é o planeta mais quente já descoberto. O WASP, vale dizer, tem o dobro do tamanho de Júpiter.

Cantando na chuva (de metal)

A tal chuva de ferro existe por um motivo: a rotação do Wasp, assim como a da nossa Lua, é sincronizada com a sua rota em torno da estrela, fazendo com que apenas um lado fique virado para ela.

Calma, a gente explica. Como uma das metades do planeta não recebe luz (calor), a temperatura por lá é 1.000 ºC menor. Essa enorme diferença gera uma corrente de vento de até 18.000 quilômetros por hora, segundo os cientistas.

Mas o mais interessante é observar a linha que divide os dois hemisférios. Quando as nuvens de moléculas de ferro, vaporizadas pelo calor, chegam até esse limite com a parte mais fria, elas acabam condensando. A região escura do Wasp, é bom lembrar, ainda é quente: 1.400 ºC, mas é o suficiente para que a chuva de metal aconteça.

Planeta intrigante

Em entrevista à BBC, Don Pollacco, pesquisador da Universidade de Warwick (Reino Unido) e integrante da pesquisa, disse que era difícil imaginar mundos tão exóticos quanto o Wasp-76b. O planeta possui uma atmosfera tão quente que, assim como o KELT 9-b, é provável que os átomos das moléculas ali não consigam permanecer unidos.

Acredita-se que o Wasp, por estar tão próximo de sua estrela, pode ter dois destinos: ou ele se chocará com ela ou o campo de radiação da estrela vai explodir a atmosfera do planeta. Nesse último caso, a única coisa que sobraria seria um núcleo rochoso – e quente.

O estudo foi publicado na revista Nature, e foi feito com o Espresso, um novo espectômetro instalado no Very Large Telescope (VLT), observatório localizado no Chile – e que também é o maior conjunto de telescópios ópticos do mundo num só lugar.

Achou toda a história da chuva de metal algo digno de um romance? Os pesquisadores também. Tanto que um deles, o Dr. David Ehrenreich, pediu a um ilustrador de obras de ficção científica para fazer imaginar como seria pousar no Wasp 76-b. O resultado pode ser conferido aqui.

 

 

 

 


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