sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Cientistas querem criar tomates que já vem apimentados do pé

O tomate é um fruto complexo. Seu sabor é, na verdade, uma combinação que estimula a língua em de quatro formas sensoriais diferentes, que nós identificamos como sabores: doce, azedo e salgado, além do sabor umami. Mas parece que isso é pouco pros cientistas – uma equipe da Universidade Federal de Viçosa (UFV) quer produzir tomates que apimentados.

Escrevendo no periódico Trends in Plant Science, os cientistas explicam como pretendem estimular, no fruto, a produção de capsaicina. É este o nome do composto químico que dá às pimentas o sabor picante. Ela é responsável por ativar as células nervosas da língua que lidam com a dor induzida pelo calor – e cria a sensação apimentada, de “queimadura”, que conhecemos.

Existem pelo menos 23 diferentes tipos de capsaicinoides. O ardor das pimentas é determinado pelos genes que regulam a fabricação desses compostos – as pimentas mais “fracas” apresentam mutações que diminuem este processo.

O que os cientistas descobriram é que não é difícil fazer o tomate produzir capsaicina. A pimenta e o tomate são “primos”, separados pela evolução há 19 milhões de anos (um evento três vezes mais recente que os dinossauros – ou seja, foi ontem na escala evolutiva).

Segundo os cientistas, portanto, o primo não apimentado tem todos os genes necessários para produzir capsaicina, falta só a “maquinaria” celular para ativá-los. Mas com a engenharia genética de hoje, isso de ativar genes é tarefa simples.

De acordo com o artigo, uma das técnicas que pode ser efetiva é a CRISPR, que permite que cientistas modifiquem o genoma com uma maior precisão. Segundo Augustín Zsögön, co-autor do estudo, a equipe de cientistas já está trabalhando nisso, e espera ter novidades até o final do ano.

Tudo isso, naturalmente, levanta a questão: por que os cientistas estão tão interessados ​​em criar tomates apimentados? Simples: eles serão uma maneira fácil de colher capsaicina.

“Capsaicinoides são compostos muito valiosos: eles são usados ​​na indústria de armas para spray de pimenta, mas também em anestésicos. Há pesquisas mostrando que eles promovem a perda de peso”, disse Zsögön. Além disso, já foram comprovadas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, e até benéficas no combate ao câncer.

Tirar esse capsaicina das pimentas, porém, exige bem mais esforço. Para crescerem saudáveis, pimentas precisam se desenvolver ao ar livre, em campos abertos – o que as deixa suscetíveis a condições naturais prejudiciais, como alta chuvas e temperaturas. Além disso, seus níveis de capsaicina variam amplamente, com base no ambientes em que são cultivadas.

Como se já não bastasse, as pimentas também são vulneráveis ​​a doenças transmitidas pelo solo, e a germinação de suas sementes é bastante lenta. Agora, compare isso com nosso pau pra toda obra, o tomate: resistente a doenças, cresce normalmente em ambientes fechados, com alto rendimento e é muito fácil de cultivar – dá em quase todo tipo de solo. Com tomates picantes, os cientistas acreditam que poderemos ter um caminho promissor para a produção de capsaicinoides a nível comercial.

Mas nem tudo são flores: os cientistas não podem afirmar, com certeza, que os ajustes nos genes do tomate não afetarão fatores como a produtividade e a qualidade das colheitas. Mas mesmo com esses obstáculos em mente, os autores do estudo estão otimistas com as boas possibilidades.


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