segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Mais da metade dos cientistas venezuelanos já fugiu

Se fazer pesquisa no Brasil é complicado, imagine na Venezuela. Sabemos bem do caos político, econômico, social e humanitário que se instaurou pelo país. Na ciência a situação é até mais dramática.

Sabe-se que 10% da população Venezuelana já abandonou o país. Entre os os acadêmicos e cientistas o êxodo é bem maior: algo entre 50% e 60% dos pesquisadores do país emigraram.

A estimativa é de Ismardo Bonalde, físico do Instituto Venezuelano para a Pesquisa Científica (IVIC), semelhante ao nosso CNPq. Ele revelou à revista Scientific American que há uma década não recebe nenhum tipo de financiamento público — e nos últimos dois anos não pôde realizar um experimento sequer. Em um comunicado à imprensa divulgado pelo IVIC em outubro passado, o órgão descreveu o completo abandono da ciência no país, com instalações caindo aos pedaços e bibliotecas sem recursos para a assinatura de periódicos.

Em 2014, o IVIC contemplou 83 estudantes em seus programas de pós-graduação; em 2018, o número despencou para dois. Diante de condições tão adversas, os cientistas venezuelanos estão buscando refúgio em países como Espanha, Itália e Estados Unidos. Muitos deles se viram obrigados a deixar suas carreiras acadêmicas de lado para fazer bicos e arrumar qualquer emprego que pagasse as contas. São milhares de geólogos, bioquímicos, físicos e outros que hoje vivem como expatriados.

Não é de agora que o país bolivariano tem enfrentado uma grave fuga de cérebros. Muito antes do governo Maduro, ainda nos tempos de Hugo Chavez, em 2003, ocorreu a primeira leva: milhares de geocientistas e engenheiros da estatal PDVSA, a Petrobras venezuelana, foram demitidos durante uma greve, e os mais qualificados foram trabalhar no exterior.

Mais recentemente, o Ministério do Poder Popular para a Educação Universitária, Ciência e Tecnologia aderiu uma postura questionável quanto à pesquisa científica. Além de as verbas terem evaporado durante o governo de Maduro, o ministério passou a fazer represálias contra quem discordava do regime e a oferecer cargos importantes a aliados políticos, com pouca ou nenhuma experiência técnica.

O resultado catastrófico desse tipo de postura hoje é visto nas ruas e nas fronteiras da Venezuela — e, obviamente, nos corredores quase vazios das universidades. Apesar das dificuldades, boa parte dos cientistas venezuelanos que hoje vivem no exterior afirmam que voltarão a seu país para ajudar a reconstruí-lo, assim que isso for possível.


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