segunda-feira, 20 de abril de 2020

É verdade que todas as pessoas da Terra são parentes?

Sim. Se você pegar uma dupla de pessoas quaisquer, como sua mãe e o Dalai Lama, e traçar as árvores genealógicas das duas rumo ao passado, uma hora chega alguém que foi ancestral de ambos. Um avô em comum. Esse avô viveu centenas de gerações atrás. Com um pouco de matemática, é fácil provar que tal lógica se aplica a qualquer número de pessoas: o avô compartilhado por todos os humanos atuais viveu há 3,5 mil anos, na estimativa adotada pelo biólogo Richard Dawkins no livro Ancestor’s Tale.

(Lembre-se: embora os humanos pioneiros que ocuparam as Américas 15 mil anos atrás tenham se isolado geneticamente dos que habitavam o resto do mundo, com a chegada de Colombo os genes se misturaram todos novamente. É por isso que o ancestral comum é mais recente do que isso. Outro lembrete importante é que esse avô obviamente não era a única pessoa viva na Terra em seu tempo. E a maioria das pessoas que viveram na mesma época que ele deixou descendentes também. O que o torna especial é que ele é o único ancestral que está ligado a todos nós, e não só alguns de nós).

E isso não vale só para pessoas. Cada ser vivo da Terra, seja planta, animal, fungo ou bactéria, compartilha um avô, apelidado como Luca (sigla em inglês de “Último Ancestral Comum Universal”) – um ser vivo rudimentar de 3,8 bilhões de anos cujos descendentes se ramificaram para dar origem a toda a biodiversidade atual. Toda.

Essa é a resposta simplificada, claro. Na prática, cada um dos 20 mil genes que se juntaram para compor seu genoma vêm de um ancestral diferente. Todas as pessoas que compartilham um gene compartilham um mesmo ancestral, que é o indivíduo em que aquela mutação surgiu originalmente. O seu corpo representa a primeira (e também a última) vez que esse conjunto de 20 mil genes se uniu para formar um único humano.

Ficou confuso? Vamos de exemplo: existem três genes que tornam uma pessoa ruiva. Dois deles apareceram no oeste da Rússia, na região do Cáucaso, há 70 mil anos, e um surgiu na Europa, em algum lugar próximo da Inglaterra, há 30 mil anos. Todos os ruivos do mundo carregam duas cópias de um desses três genes. Ou seja: são todos netos desses três mutantes originais, que em sua época eram os únicos ruivos de suas populações.

Todos os seus genes são assim. Alguns são tão antigos que o ancestral comum não era nem humano. Há genes associados ao sistema imunológico, por exemplo, que estão intactos desde antes da nossa separação dos chimpanzés. Para estes genes, o ancestral comum de todos os humanos também é ancestral comum de todos os chimpanzés, e viveu há mais de 8 milhões de anos.

Fonte: Nelson Fagundes, especialista em genética de populações, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

 

 


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