sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Jipe que buscará matéria orgânica em Marte ganha nome de pioneira do DNA

A Agência Espacial Europeia (ESA) anunciou nesta quinta (7) que sua próxima missão não tripulada a Marte será batizada em homenagem à cientista Rosalind Franklin, pioneira dos estudos sobre a estrutura da molécula de DNA. O jipinho de seis rodas, que se chamará simplesmente Rosalind, vai pousar no Planeta Vermelho em 2021.

Sua missão será caçar e coletar amostras de matéria orgânica – os tijolos básicos dos seres vivos. As coletas vão ocorrer a dois metros de profundidade, e visam encontrar evidências de vida, não só do passado, de quando Marte tinha um ambiente, digamos, mais aprazível, como também do presente (a esperança, afinal, é a última que morre – no caso de Marte, aliás, a esperança tem a opção de morrer sufocada, congelada, ou de excesso de radiação). 

Mas voltando a Rosalind Franklin: um grupo de especialistas escolheu-a entre mais de 36 mil sugestões enviadas por cidadãos de todos os países da União Europeia, após uma chamada à participação popular, feita em julho de 2018.

“O nome nos lembra que a vontade de explorar está nos nossos genes”, afirmou o diretor-geral da ESA, Jan Woerner, em anúncio oficial. “Rosalind, o rover, carrega esse espírito e nos leva para a vanguarda da exploração espacial.”

Rosalind Franklin (1920 – 1958) se matriculou em 1938 no Newnham College de Cambridge, da Inglaterra – uma das únicas instituições de ensino superior femininas da época. Graduou-se em físico-química, e se tornou especialista em uma técnica chamada cristalografia de raios x. ⠀

Para entendê-la, é preciso revisar rapidamente o que é um cristal e o que são raios x. Um cristal é um sólido cuja estrutura, no nível microscópico, é repetitiva e gera padrões – como os hexágonos de uma colmeia de abelha. Já raios x são essencialmente um tipo de luz que o ser humano não é capaz de enxergar. Eles atingem energias bem mais altas que a radiação eletromagnética no espectro visível. ⠀

Quando os raios x atingem uma amostra de cristal, penetram a amostra e se dispersam em diversas direções, seguindo um padrão caleidoscópico único. Assim, a cristalografia de raios-x dá dicas importantes sobre a estrutura das moléculas que compõem o cristal.⠀

Na década de 1950, trabalhando no laboratório de Maurice Wilkins, Franklin e um de seus estudantes cristalizaram um punhadinho de DNA, aplicaram a técnica e conseguiram uma imagem chamada “Foto 51”. Ela foi o primeiro vislumbre da estrutura dupla-hélice do DNA – a escada torcida que hoje é parte integrante do imaginário popular.

A história daqui em diante é polêmica, mas o resumo é: a imagem foi mostrada por Wilkins a dois outros cientistas, James Watson e Francis Crick. Eles mataram a charada na hora, e propuseram o esquema de bases nitrogenadas complementares A, T, C e G que é usado para escrever o manual de todos os seres vivos da Terra. 

Franklin morreu de câncer nos ovários em 1958, aos 37 anos, antes de receber o prêmio Nobel (dividido por Watson e Crick) pela descoberta. 


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