sábado, 14 de setembro de 2019

Afinal, o inverno do Brasil está ficando mais quente?

Sair de casa todo agasalhado de manhã para ter que tirar o casaco na hora do almoço. Olhar a previsão do tempo e ficar impressionado com a diferença entre a máxima e mínima. Desejar pular na piscina (ou ir à praia) em pleno inverno.

Se você mora na Região Sudeste, provavelmente passou por alguma dessas situações nos últimos dias. Não por acaso: em São Paulo, a Defesa Civil do estado decretou estado de alerta em algumas cidades do interior, onde a temperatura chegou a bater os 38oC. Na capital paulista, a última quinta-feira (12) foi o segundo dia mais quente de setembro desde 1943 (o primeiro foi em 2015).

Em Belo Horizonte, não foi diferente. Na capital de Minas Gerais, o termômetro ultrapassou os 36oC. No Rio, assim como em São Paulo, o dia 12 foi o mais quente do inverno: 41,6oC. Afinal de contas, por que está fazendo tanto calor no inverno? Isso é um indicativo de que o inverno do Brasil está ficando mais quente?

A resposta simples é: não, não está. “Não há nenhum indicativo que aponte para um crescente aumento da temperatura nessa época nos últimos anos”, disse Alice Macedo, que trabalha no grupo de previsão climática do CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, que faz parte do INPE).

Por ora, essa impressão de que o inverno está mais quente ano após ano é apenas impressão mesmo. Mas há dois fatores que explicam a onda de calor desse ano. O primeiro deles é uma questão de calendário: estamos nos aproximando da primavera, que começa no dia 23 de setembro, então é natural que a temperatura comece a subir.

O segundo fator, segundo Alice, é um sistema de alta pressão que se instalou no interior do Brasil. “Mais especificamente, no sul da Região Sul, no Centro-Oeste e no oeste de São Paulo”, conta a climatologista. Sistema do quê? Calma, a gente explica.

Tomando um solzinho

Um dos fatores que influenciam no tempo de determinado lugar é a pressão atmosférica, que nada mais é do que a pressão (força) exercida pela massa de ar na superfície.

A pressão é classificada em alta e baixa, e cada uma tem características próprias. A principal delas é a diferença de movimento dos ventos. Como a tendência da atmosfera é igualar a pressão do ar, zonas de baixa pressão geram ventos divergentes, ou seja, “para dentro”. Isso acarreta em acúmulo de umidade, que acaba gerando mais nuvens e, consequentemente, chuvas.

Em contrapartida, regiões de alta pressão geram corrente de ar divergentes, “para fora”. Com isso, há menos umidade, o que dificulta a formação de nuvens (e das chuvas). Foi um sistema como esse, formado no Oceano Atlântico, que veio para o Brasil.

“Com menos nuvens, os raios ultravioleta do Sol incidem com mais facilidade, aquecendo a atmosfera”, explica Alice. Esse sistema se forma regularmente, e trafega entre oceano e continente dependendo da época do ano.

Mas vale o alerta: você pode até detestar o frio, mas invernos quentes não são uma boa. O site Climatempo criou uma lista com os principais pontos negativos. Dentre eles, está o de que os reservatórios de água diminuem (já que a evaporação aumenta). Outras consequências se intensificam em uma estação que já é naturalmente mais seca: o ar fica mais poluído e o risco de queimadas aumenta.

Além disso, a população de insetos tende a aumentar. Como as altas temperaturas favorecem a sobrevivência desses bichos, um inverno sem frio faz com que eles se proliferem mais, o que acarreta em problemas na área da saúde (como surtos de dengue fora de época) e no agronegócio, já que o controle de pregas precisará ser maior. Da próxima vez que precisar sair de casa com um cachecol, tente ver o lado bom do friozinho.


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