Os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina de 2019 foram anunciados nesta segunda-feira (7). São eles: William Kaelin e Gregg Semenza, dos EUA, e Sir Peter Ratcliffe, do Reino Unido. O prêmio foi dado pelas suas descobertas sobre como as células do nosso corpo percebem e se adaptam aos níveis de oxigênio disponível no ambiente.
Os três pesquisadores desenvolveram seus trabalhos individualmente desde os anos 1990. Juntas, suas pesquisas descrevem um importante mecanismo fisiológico – a resposta hipóxica das células – essencial para que indivíduos consigam sobreviver em lugares mais altos, onde há menor concentração de oxigênio.
Além de desvendar como esse mecanismo funciona, os organizadores do Nobel ressaltaram a importância das descobertas para futuras aplicações médicas. De acordo com o comunicado oficial, “suas descobertas também abriram o caminho para novas estratégias promissoras para combater a anemia, o câncer e muitas outras doenças.”
O que os pesquisadores descobriram
Para entender o funcionamento do mecanismo de resposta hipóxica, é preciso relembrar como é o transporte de oxigênio no corpo humano.
Ao entrar pelo sistema respiratório, o oxigênio vai para as hemoglobinas, responsáveis por levá-lo pela corrente sanguínea para o restante dos nossos tecidos. O oxigênio é um dos principais combustíveis da respiração celular, processo que acontece no interior das células fornece energia para as funções vitais do corpo.
Dentro das células, quem se encarrega disso é a mitocôndria. Lembrou das aulas do colégio? Pois é. Com a exceção de algumas bactérias e fungos, o oxigênio é indispensável para o metabolismo das células (as transformações químicas que liberam energia).
Quando se está em um ambiente com escassez de oxigênio (regiões montanhosas, por exemplo), o corpo logo começa a produzir mais hemoglobina – quanto mais células vermelhas trabalhando, maior será o aproveitamento do oxigênio disponível. Quando isso acontece, o corpo também regula a atividade metabólica das células para se adaptar ao novo cenário.
A ciência já sabia disso desde o século 20, mas os detalhes do funcionamento desse sistema a nível molecular ainda era um mistério. E é aí que entram o trabalho dos cientistas.
Gregg Semenza, professor da Universidade John Hopkins, identificou um complexo de proteínas e deu o nome de HIF – em inglês, é a sigla para “fator induzível por hipóxia” (“hipóxia” significa “baixa concentração de oxigênio”). O HIF é rapidamente destruído pelo corpo em uma situação normal. Quando o nível de oxigênio está baixo, porém, sua concentração aumenta.
Unindo os trabalhos de Peter Ratcliffe, que trabalha na Universidade de Oxford e no Instituto Francis Crick, e de William Kaelin, que dá aulas na Universidade de Harvard, os cientistas descobriram que o HIF faz com esse gene aumente a produção de um hormônio chamado eritropoietina (EPO), que por sua vez, faz aumentar a quantidade de células vermelhas que transportam oxigênio.
Qual a importância dessa descoberta
Entender esse mecanismo pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos no futuro para problemas como anemia, câncer e outras doenças.
Na China, por exemplo, um medicamento contra anemia já está à venda. O Roxadustat se aproveita do HIF para enganar o corpo, fazendo-o pensar que está em altas altitude, estimulando a produção de hemoglobinas. No momento, o remédio passa por regulação para entrar no mercado europeu.
O Nobel não é a primeira grande conquista do trio de cientistas. Em 2016, eles venceram o Prêmio Albert Lasker de Pesquisa Médica Básica – uma importante premiação que, frequentemente, canta a bola de quem serão os próximos vencedores do Nobel
A cerimônia oficial com os vencedores desta e outras categorias do Nobel acontece no dia 10 de dezembro, e os três cientistas dividirão igualmente a quantia de 9 milhões de coroas suecas (R$3,7 milhões, aproximadamente).
Nobel de Medicina 2019: entenda a descoberta que levou ao prêmio Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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