segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Pulseira de Schumann, que trataria dores com ímãs, não funciona

Uma pulseira com ímãs, vendida há anos na internet, voltou a ganhar popularidade. Ela combateria diabetes, insônia, fadiga, dores crônicas, depressão e ansiedade. Tudo isso atraindo a “ressonância da Terra”, ou ressonância de Schumann, para o corpo. Daí seu apelido: pulseira de Schumann. Mas será que ela funciona mesmo ou é mais uma notícia falsa?

Como todo produto supostamente milagroso, esse bracelete, que custa cerca de 200 reais, está longe de cumprir o que promete. Vamos por partes.

Primeiro, a ressonância de Schumann é um fenômeno magnético. Estamos falando de mais um entre tantos outros que ocorrem no planeta, sem efeitos conhecidos no corpo humano.

O nome vem de Winfried Otto Schumann, o primeiro físico a propor a existência de ressonâncias na Terra, em 1952, provocadas por oscilações no campo eletromagnético que começa no centro do planeta e vai até a ionosfera, última camada da atmosfera. Geralmente, essas oscilações são provocadas por raios.

É mais ou menos assim: a descarga elétrica de um raio gera uma leve perturbação no campo eletromagnético terrestre. Essa perturbação dispara ondas eletromagnéticas, que formam a ressonância de Schumann. Se fossem notas musicais, elas entrariam em harmonia para fazer um acorde. Porém, como são de baixa frequência, podemos comparar com o som emitido pelo vento passando sobre uma ponte, por exemplo.

“Isso provocaria uma vibração da ponte e do vento em amplitude bem baixa, como a da ressonância de Schumann”, comenta o geofísico Maurício de Souza Bologna, pós-doutor pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e pela Universidade do Estado do Oregon, nos Estados Unidos.

A frequência das tais ondas desencadeadas pelos raios é registrada em hertz – a mais famosa delas possui 7,83hz. Para muitas crenças, mitologias e religiões orientais, o número é mágico. Eis que a pulseira conseguiria justamente atrair essa frequência para supostamente equilibrar o corpo. Segundo os textos que a defendem, essa seria a frequência natural da Terra.

“7,83hz é uma frequência fundamental da ressonância, mas ela é formada pela harmonia dela com outras ondas de frequências diferentes”, explica Bologna, que é professor da Universidade de São Paulo (USP). Ou seja, não há uma única frequência natural, o que já levanta suspeitas sobre o produto.

A ressonância de Schumann é usada, por exemplo, para medir de maneira indireta as descargas elétricas na atmosfera, estudar a composição da ionosfera e até para fazer uma espécie de “ressonância magnética” que sonda o interior da terra. E para por aí.

A promessa de que, com ímãs especiais, a pulseira captaria uma frequência específica e “sintoniza” o magnetismo do corpo com o da Terra é falsa. “O corpo humano não sofre o efeito das alterações no campo eletromagnético. Seria necessário um campo muito forte para movimentar nossos átomos de maneira diferente”, explica Francisco Eduardo Gontijo Guimarães, também doutor em física e professor do Instituto de Física de São Carlos, da USP.

Tanto é que diagnosticamos doenças com máquinas de ressonância magnética que têm um ímã bem mais potente que o da pulseira, sem nenhum efeito colateral por isso.

E o tal biomagnetismo?

A alegação principal da pulseira é usar a ressonância de Schumann para equilibrar nosso biomagnetismo. A palavra até existe, mas se refere apenas ao nome dos fenômenos magnéticos que ocorrem nos organismos vivos. Ou seja, é o mesmo magnetismo da física, só que no âmbito biológico.

O problema é que o termo acabou virando sinônimo de tratar dores e curar doenças com ímãs. “Basicamente, dão uma exagerada na sua intensidade e relevância”, resume o médico Marcus Yu Bin Pai, acupunturista e pesquisador do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas da USP.

“Certas terapias alternativas envolvem o uso de ímãs, mas nunca se comprovou um benefício disso”, aponta Pai. Aliás, uma revisão sistemática com mais de 30 estudos, publicada em 2007 por cientistas britânicos no Canadian Medical Association Journal, aponta para a ineficácia do método.

“Se houvesse algum efeito, provavelmente seria necessário um imã muito mais potente para atingir o cérebro, onde ocorre o processamento da dor. E não um pequeno, localizado no punho”, completa. Eis aí outro problema: não dá nem para saber a potência real do ímã na pulseirinha.

Vale pensar nesses pontos antes de investir no acessório. Porque, segundo a ciência, ele não vai tratar doenças, tampouco minimizar dores.

Viu algum outro produto suspeito, que promete curar várias enfermidades de uma vez por aí? Mande para nós o link por meio do nosso Facebook ou Instagram que investigaremos a história!


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