Eu sou Pedro, tenho 27 anos. Trabalho no banco Bradesco como programador web há 3 anos. Inicie como estagiário e fui efetivado após 1 ano de empresa. Sou bastante determinado, organizado e flexível. Pratico natação e tenis duas vezes por semana. Adoro viajar com a namorada para lugares que tenha praia. Tenho bastante interesse por aviação e não dispenso um bom prato de lasanha.
Um estudo sugere que exercícios de força podem reduzir alguns tipos de câncer, particularmente os de bexiga e rim. O trabalho foi realizado por pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Harvard University (Estados Unidos).
Os autores do estudo utilizaram dados do Health Professionals Follow-up Study, um levantamento com mais de 30 mil profissionais de saúde, para investigar se a realização de atividades de força muscular, comumente praticadas em academias, está associada com menor risco de tumores.
Os participantes do estudo foram acompanhados entre 1992 e 2014, período em que responderam questionários bienais sobre a frequência semanal de exercício que trabalham os músculos. Outros fatores de risco ou de proteção para o câncer foram incluídos na análise, para evitar a confusão dos dados.
Os autores concluíram que os exercícios de força muscular não foram associados a uma menor incidência total de câncer. No entanto, foi possível observar uma redução de 20% no risco de tumor de bexiga e 23% no de rim para cada hora adicional de musculação na semana.
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Os pesquisadores do estudo também observaram que participantes que realizaram as práticas resistidas em combinação com atividades aeróbicas tiveram uma maior redução no risco de câncer de rim.
Uma das preocupações apresentadas por oncologistas é a de que o novo coronavírus (Sars-CoV-2), causador da Covid-19, levasse à interrupção do tratamento de câncer e a dificuldades no seu acompanhamento. Infelizmente, foi o que aconteceu com parte dos pacientes no Brasil, segundo uma pesquisa do Instituto Oncoguia.
No levantamento, 566 pessoas foram entrevistadas. Entre as 429 na fase ativa da terapia, 43% (184) contaram que seus tratamentos foram impactados pela pandemia. Isso vai desde o adiamento de consultas e exames até o cancelamento de cirurgias.
Também chama atenção o fato de que, dos pacientes com o tratamento afetado, 43% disseram que a decisão foi exclusiva do hospital ou da clínica. Em 12% das vezes, quem optou foi o paciente e em apenas 3% houve uma escolha compartilhada.
Presidente do Instituto Oncoguia, a psico-oncologista Luciana Holtz defende que o melhor cenário é o de decisão em conjunto. “O paciente deve entender que o risco de pegar o coronavírus existe, mas dá para ser minimizado. E que eventuais mudanças no tratamento não podem significar um agravamento da sua própria enfermidade. A melhor pessoa para falar sobre isso é o médico”, recomenda Luciana.
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Se qualquer mudança na estratégia de combate ao tumor precisa ser muito bem pensada, em indivíduos com cânceres avançados então, nem se fala. O tratamento não deveria ser interrompido sob hipótese alguma nesse contexto, segundo Luciana. “Estamos falando da possibilidade de diminuição de controle adequado de uma doença da qual não se fala mais em cura. Isso não pode acontecer”, alerta a especialista.
A pesquisa também revela que a região Norte foi a que mais sentiu as consequências da pandemia — 63% dos pacientes tiveram o tratamento comprometido. A região Sul foi a menos abalada (32%).
“Nós temos diferentes ‘Brasis’ dentro do nosso país. Sabemos das diferenças existentes na oncologia dentro do próprio Sistema Único de Saúde, o SUS”, comenta Luciana.
Os brasileiros com câncer atendidos pelo SUS, aliás, sofreram mais com a Covid-19. De acordo com o estudo, 60% deles se queixaram de problemas no tratamento, ante 33% da turma que recorre à rede privada.
“Começamos a ver pacientes dizendo que estão sendo chamados para retornar. Outros estão sendo assistidos por telemedicina. E há lugares oferecendo horários alternativos para fazer radioterapia”, exemplifica.
Ela acredita que, além de tirar as dúvidas do paciente e garantir que seu trajeto até o hospital seja feito com cautela, as instituições devem informar de forma clara seus próprios protocolos de segurança.
Repercussão em outras esferas
A vida de uma pessoa acometida pelo câncer não se resume ao tratamento. Na pesquisa, 52% dos respondentes reportaram um desgaste no bem-estar emocional por causa da Covid-19. Já 46% reclamaram da vida social e 32%, da própria situação financeira.
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“Estamos falando de pessoas impactadas em diferentes pontos. Elas necessitam de mais cuidados com a saúde mental nesse momento”, finaliza Luciana.
Neste momento singular que vivemos, acordamos e dormimos ouvindo notícias sobre o desenrolar da pandemia de coronavírus. Mas há um grupo especial da população que está fadado a conviver com uma espécie de isolamento desde sempre, muito antes da chegada da Covid-19. São as pessoas com doenças raras, que, mesmo pouco conhecidas, causam um grande impacto na sociedade e na saúde pública.
Se separadamente as mais de 8 mil doenças consideradas raras reúnem poucos indivíduos, juntas elas impactam milhões de brasileiros e seus familiares. Somente no nosso país, mais de 13 milhões de pessoas vivem essa realidade. Por isso é tão importante compreender como essa parcela do povo está atravessando a crise atual.
Se a pandemia tem alterado a rotina de todos quanto ao isolamento social e limitado o acesso a produtos e serviços comuns, para as pessoas com doenças raras esse cerceamento tem um sabor ainda mais amargo. Diversos centros de atendimento suspenderam suas atividades, medicamentos estão em falta, acompanhamentos terapêuticos foram interrompidos e muitos pacientes tiveram que abrir mão do auxílio de cuidadores, que também precisaram ficar reclusos. Nas pessoas livres de doenças, a quarentena compromete a rotina. Já nas que possuem um problema raro de saúde, ela afasta a possibilidade de lutar pela vida.
Junho é tido como o mês de conscientização da Amiloidose Hereditária (PAF-TTR), uma doença rara. Mas, mesmo antes de ser diagnosticado com ela, junho tem um significado diferente para mim. Esse é um mês que marca a doença que vitimou meu pai, meu avô e mais de 30 membros da minha família — e com a qual eu convivo desde criança. Esse período abre a oportunidade de disseminar conhecimento sobre a PAF-TTR. Podemos falar sobre sintomas, características, diagnóstico e tratamento, o que é muito importante, mesmo no meio de uma pandemia.
Mas a enfermidade em si compõe apenas uma parte da vida do paciente. Ser visto como um todo é um grande desafio para qualquer um com uma doença degenerativa. Quando chegamos ao diagnóstico — o que normalmente demora bastante —, uma das piores sensações é a de parecer ter recebido uma sentença de morte e de passar a ser considerado socialmente por esse ponto de vista.
A morte social é imediata. Deixamos de ser pessoas com direito a sonhos, anseios, prazeres, carreira profissional, vida educacional e projetos para o futuro para nos tornarmos somente uma vítima da genética, na maioria das vezes.
E ainda que a ciência chegue a tratamentos que minimizem sintomas e desacelerem a progressão da doença, há questões simples, que são pouco consideradas, mas que fazem toda a diferença para a qualidade de vida.
A qualidade de vida está diretamente relacionada a luxo, riqueza e conforto para pessoas comuns. Para um paciente com PAF-TTR, luxo é poder contar com uma junta médica, de diversas especialidades, que conheçam a doença e possam fazer um acompanhamento de forma holística. Riqueza é ter acesso a tratamentos sem amargar a humilhação de processos burocráticos infindáveis para buscar na Justiça o direito a viver. Conforto é poder contar com a segurança de atendimentos de forma prática e autossuficiente. É adquirir independência e liberdade de escolha apesar das limitações impostas pela condição com a qual fomos diagnosticados.
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Além de ter PAF-TTR, eu atualmente presido a Associação Brasileira de Paramiloidose (ABPAR). O que percebo nos atendimentos que fazemos por lá? As pessoas precisam ser ouvidas. Em geral, são indivíduos que estão perdendo seus movimentos físicos, suas possibilidades de trabalho, sua independência para coisas mínimas, suas esperanças. Eles têm que se reinventar para continuar vivendo. Por isso precisamos falar sobre a PAF-TTR mesmo nesse momento tão desafiador.
Se com a pandemia o mundo desmoronou para chefes de família, jovens no auge de suas carreiras, mães ou pais, o mesmo aconteceu a esses mesmos personagens que se descobriam com PAF-TTR e que, em pouco tempo, podem ter que ser cuidados por familiares ou por estranhos. Cada caso precisa ser tratado como único, em sua complexidade e totalidade.
É imprescindível que familiares, amigos, sociedade, poder público e os profissionais de saúde de forma geral ofereçam a essas pessoas uma sentença de vida. Ainda que a rotina e os caminhos mudem após o diagnóstico de uma doença rara, é com vida que estamos lidando. E a vida é um todo.
* Fabio de Almeida, 44 anos, empresário, presidente da Associação Brasileira de Paramiloidose (ABPAR)
Vermelhidão, coceira, ardência, sensação de repuxamento. Quem tem apele sensível certamente já sofreu (ou sofre) com esses sintomas. Eles podem ser provocados por diferentes doenças: rosácea, dermatite de contato, dermatite seborreica e até fatores genéticos que fazem com que algumas pessoas tenham a pele mais fina (e, portanto, mais delicada).
“Tudo aquilo que leva a uma inflamação da pele e acarreta avermelhamento, irritação ou descamação tem como manifestação uma alteração de sensibilidade”, define Cassio Marcelo Siqueira, dermatologista do Hospital São Luiz Anália Franco.
O problema pode aparecer em qualquer região do corpo, mas aquelas em que há dobras (como atrás dos joelhos e axilas) costumam ser mais suscetíveis. Áreas de atrito da pele (na virilha e entre as pernas, por exemplo) também sofrem mais, especialmente nos dias quentes, quando a transpiração aquece e umidifica a pele, intensificando o processo. Mas vale lembrar que, ao contrário do que muita gente pensa, o suor por si só não provoca alergias – até porque ele é composto por 95% de água –, apenas acentua uma irritação preexistente.
Descobrir qual é esse fator que leva à sensibilidade, aliás, é um dos principais cuidados. Por isso, antes de investir emsabonetes para peles sensíveise outros produtos do gênero, vale uma consulta ao dermatologista. No dia a dia, outra dica importante é dar preferência aos cosméticos hipoalergênicos, com pH fisiológico próximo ao da nossa pele (em torno de 5,5).
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Se você tem histórico de alergias e inflamações, evite produtos com perfumes e corantes, bem como temperaturas extremas – banhos muito quentes, por exemplo, são um perigo parapeles sensíveis. Manter a hidratação em dia também conta pontos, já que o ressecamento da pele pode ocasionar (ou piorar) quadros de sensibilidade.
Desodorante para pele sensível
Mesmo tomando esses cuidados, muita gente sente coceira e desconforto nas axilas. Especialmente porque, como explicamos anteriormente, a área sofre com o atrito – tanto com o das roupas como o da própria pele. Isso sem falar na fricção provocada por lâminas, ceras e outros métodos de depilação. Por isso, evite cremes depilatórios que contenham parabenos, fragrâncias e álcool, e nunca use lâminas muito gastas. Escolhertecidos de algodãoe manter a área sempre limpa e seca também ajuda.
“Normalmente, as patologias ligadas às axilas são dermatites de contato, alérgica ou irritativa, causadas por produtos químicos que provocam uma irritação localizada”, explicaSiqueira. Outras doenças comuns na região, diz o médico, são as micoses, dermatite seborreica e infecções bacterianas.
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E os desodorantes? Entram na lista de produtos que podem irritar uma pele sensível, claro. Mas isso não significa que você precisa aboli-los de sua vida para sempre. Muito pelo contrário. Hoje há várias opções no mercado voltadas especificamente parapeles sensíveis, com fórmulas livres deálcool etílico, parabenos, corantes, fragrâncias e outros componentes que podem irritar peles mais delicadas. E isso não significa menos proteção contra a transpiração, já que muitos desses produtos trazem na composição ativos antitranspirantes.
Além da versão aerossol, é possível encontrá-los também em creme, o que geralmente significa maior hidratação. Isso porque eles costumam ser formulados com agentes emolientes, que conferem uma sensação de maciez. E, se tem uma coisa que a pele sensível merece, é um produto que a trate com delicadeza e suavidade.
Não era para ser uma surpresa. Mas foi. Em um efeito dominó extremamente rápido, o mundo foi surpreendido pelo coronavírus. E, em três meses, nasceu uma pandemia. No entanto, se você mergulhar nas páginas de pelo menos três livros recém-publicados no Brasil e protagonizados por infecções e epidemias, vai perceber que a Covid-19 não pode ser classificada como algo inesperado.
Avisos do que estava por vir já estavam contemplados em obras como A Grande Gripe, do historiador John M. Barry (lançada lá fora originalmente em 2004) e Inimigo Mortal, do epidemiologista Michael Osterholm e do escritor Mark Olshaker (2017), que chegam ao país pela Editora Intrínseca, além de Contágio, do autor expert em ciência e natureza David Quammen (2012), que desembarca nas livrarias e lojas online pelas mãos da Companhia das Letras.
Em comum, essas publicações provam que os aprendizados do passado são uma lanterna preciosa para não comermos bola no presente e tropeçarmos lá adiante. Porque, se há alguém que vibra e se dá bem quando as lições da história e da biologia não são incorporadas pela humanidade, são eles, os vírus.
É isso que se pesca lendo as 600 páginas de A Grande Gripe (clique para comprar), do americano John M. Barry. No catatau, o historiador nos conduz às prováveis origens da gripe espanhola, que na verdade brotou em solo americano — não custa lembrar que o apelido veio à tona porque a Espanha, neutra na Primeira Guerra Mundial e sem censura, noticiou os casos primeiro —, mapeia seu rastro de horror e, projetando-se pelo século 20, ainda passa por outras epidemias de influenza da pesada, a última delas a gripe suína de 2009.
Mas nenhuma pandemia de que se tem notícia (e esperamos que o marco persista) foi tão avassaladora quanto a gripe espanhola de 1917-18. São entre 50 e 100 milhões de vítimas fatais e um legado de sofrimento e colapso econômico que não poupou nenhum continente. Barry se concentra muito no desenrolar da doença nos Estados Unidos e seus reflexos na guerra travada na Europa e não se furta a descrever como penavam e morriam os alvos daquele influenza H1N1. Isso numa época em que não se sabia que um vírus estava por trás da moléstia.
Uma peculiaridade dessa gripe foi sua capacidade de provocar quadros mais graves em adultos jovens — uma diferença nítida para a Covid-19, que tende a ser mais severa em idosos. Assim, foi de perder a conta o número de óbitos em quartéis americanos, por exemplo. Eram mortes rápidas (algumas em horas!) e causadas diretamente por uma pneumonia viral seguida de hemorragias ou detonadas pelas infecções bacterianas que se aproveitavam da fragilidade do organismo para avançar pelos pulmões.
Barry também nos mostra quanto a ciência evoluiu em busca de respostas e soluções para aquele desafio, ao mesmo tempo que autoridades sambavam para aceitar a realidade e tomar medidas eficientes — tudo mais delicado à época porque o mundo estava em guerra. E é aí que visualizamos algumas lições que nos remetem à pandemia do coronavírus. Para começo de conversa, a censura aos jornais e a hesitação dos governantes atrasaram os esforços de contenção da gripe, que se alastrou em terra americana e, de navio, desembarcou nas trincheiras europeias e em outros portos do planeta, caso do Rio de Janeiro.
Ainda que a pandemia tenha despertado a necessidade de se criar um sistema de vigilância contra doenças contagiosas, algo que só foi erigido a contento décadas depois, é angustiante como, no século 21, ainda vemos políticos negando a ciência e a realidade e permitindo, desta vez, que o coronavírus ainda tenha espaço para avançar. Naqueles tempos, como nos de hoje, também pululavam (lá nos jornais, aqui nas redes sociais) soluções milagrosas e infundadas contra as infecções.
Tem mais semelhança: é em períodos assim que valorizamos o papel heroico dos profissionais de saúde, muitos mortos pela gripe espanhola e pela Covid-19. E soa curioso que, ainda que desfrutemos hoje de antibióticos, vacinas e respiradores em UTIs, algumas das estratégias de prevenção de ambas as enfermidades sigam as mesmas. Na gripe espanhola, as pessoas (re)aprenderam a importância do isolamento social e passaram a usar máscaras, hábito que só foi recomendado oficialmente em muitas nações com a Covid-19 já em curso.
O autor do livro nos adverte para uma nova pandemia por um vírus respiratório, como outra variação mutante do patógeno da gripe. Falamos de um agente infeccioso que, circulando entre o mundo dos animais domésticos, selvagens e humanos, pode ganhar na loteria genética e aparecer com uma nova roupagem catastrófica para nossa espécie. É o que se teme, por exemplo, com a gripe aviária, por ora restrita e não transmissível pra valer entre pessoas. Mas tudo pode mudar. Se a gripe espanhola e outros episódios com o influenza nos séculos 20 e 21 não nos ensinaram a tempo, que a Covid-19 abra bem nossos olhos. Até porque uma gripe dessas pode ser algo ainda pior.
O que estava e ainda está no radar
Uma rede de vigilância para prever e contra-atacar surtos locais ou epidemias é algo que está no escopo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e faz parte do cotidiano de uma legião de epidemiologistas e especialistas em doenças infecciosas. Um desses caras é o americano Michael Osterholm, da Universidade de Minnesota. Ele tem experiência com vírus respiratórios, outros disseminados por mosquitos e ataques misteriosos de bactérias (não são só os vírus que causam com a gente).
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Em Inimigo Mortal, ao lado do escritor Mark Olshaker, o médico relata episódios com os quais lidou pessoalmente e outras crises globais. Ele compara o papel do epidemiologista ao de um detetive, que caça pistas, faz entrevistas, relaciona pontos aparentemente desconexos. Foi assim que Osterholm decifrou um surto de uma doença estranha, com alguns casos fatais, em garotas adolescentes no início dos anos 1980 nos EUA. Juntando peças como o elo entre o início dos sintomas e o período menstrual das meninas, ele matou a charada da síndrome do choque tóxico e permitiu que se fizesse uma mudança no mercado para prevenir novos casos (não quero dar spoiler!).
Mas a obra salta países e vasculha epidemias como o ebola na África, a dengue e o zika nas Américas, a gripe (sempre candidata a reemergir com tudo) e os coronavírus responsáveis pela Sars (síndrome aguda respiratória grave) e a Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio), que assustaram sobretudo a Ásia nas últimas duas décadas. A edição brasileira traz um prefácio que trata en passant da Covid-19, porém, a versão original já previa o risco de um coronavírus nos assombrar — o capítulo sobre Sars e Mers fala em “arautos do que está por vir”.
O epidemiologista não se esquece das bactérias resistentes e pontua a necessidade de os Estados Unidos como líder global (e o mundo todo, se possível) empreender um projeto único e massivo para não só conter os supergermes — algo que envolve tratar a saúde humana e a animal como uma coisa só —, mas também desenvolver uma vacina universal contra a gripe e outras armas para nos defender dos vírus que pegam carona em gotículas de espirro e picadas de mosquitos. É uma tarefa que exige tecnologia, ciência, educação, muito dinheiro e vontade política. E que a Covid-19 só veio confirmar como urgente.
Entre bichos e homens
A previsão de uma nova pandemia também está inscrita nos alertas de Contágio. O título original, Spillover, se refere a um termo usado na ecologia para descrever quando uma doença infecciosa passa de uma espécie animal para outra. Na edição que chega ao Brasil, a obra ganha um capítulo extra em que David Quammen versa sobre o coronavírus. Mas as predições já estavam lá no livro de 2012.
Tanto animais selvagens como domésticos podem abrigar os germes capazes de virar uma epidemia. Sarampo, gripe, ebola… Tudo isso foi uma zoonose um dia. O coronavírus atual parece ter vindo de morcegos e se especula que uma espécie chamada pangolim tenha sido o hospedeiro intermediário. O ponto é que o homem avança cada vez mais pelo território de outros animais, trava contato com eles (às vezes os transforma em mercadoria ou refeição) e uma hora o bicho pega. Ou melhor, o vírus pega.
O escritor americano também temia a emergência de um vírus de transmissão respiratória que, beneficiado pelo fluxo abundante de pessoas e bens pelo planeta, desatasse uma pandemia. O influenza sempre esteve no horizonte dos especialistas. E de repente deparamos com o novo coronavírus, o que não significa que, vencida essa batalha, outras guerras não virão.
Um livro de suspense e doses de ficção científica publicado em 1981 ganhou holofote com a Covid-19. Falamos de Os Olhos da Escuridão, de Dean Koontz, que a Editora Citadel acaba de traduzir e publicar no Brasil. A fama se deve ao fato de o autor ter colocado como pano de fundo do romance, num cenário pós-Guerra Fria em que a China é a arquirrival dos Estados Unidos, a criação de uma arma biológica chinesa, o vírus Wuhan-400. Sim, Wuhan é a cidade onde foi identificado pela primeira vez o novo coronavírus.
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Mas a obra de Koontz tem como tema central a busca de uma mãe por um filho desaparecido — é daquelas ficções que se devoram numa sentada. Só não pode ser usada por teóricos da conspiração como evidência de que o vírus Sars-CoV-2 foi feito em laboratório. Essa profecia não tem nenhum amparo científico.
(Por falar em vírus concebidos em laboratório, isso não tem nada a ver com a Covid-19, mas não é algo que se restringe à ficção científica, não. O epidemiologista Michael Osterholm trata do assunto em Inimigo Mortal num capítulo dedicado a armas biológicas e bioterrorismo. Na época da Guerra Fria, suspeita-se que um surto de gripe tenha sido causado acidentalmente quando cientistas russos manipulavam o vírus influenza em tubos de ensaio. Mais recentemente, envelopes com antraz [esporos de uma bactéria capazes de provocar quadros fatais] foram enviados a autoridades americanas no período dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Os acordos globais de controle e restrição a armas biológicas reduziram experiências e ideias malucas nesse sentido. Por outro lado, como sinaliza Osterholm, o acesso mais fácil a novas tecnologias, inclusive em laboratórios amadores, pode abrir caminho a vírus e micróbios criados ou modificados para fins terroristas).
E a economia com isso tudo?
Por mais que se negue, um dos debates mais travados nas entrelinhas da luta contra o coronavírus foi o que os governos priorizariam: a saúde pública ou a economia. Na esteira de medidas nem sempre baseadas em ciência adotadas por cidades e nações, ficou claro para a humanidade que, além de fazer o possível para salvar vidas, é preciso se preparar para outro terrível efeito colateral da pandemia, o avanço da desigualdade social.
Como podemos minimizar o problema e suas consequências? Uma leitura essencial para compreender onde estamos e para onde vamos do ponto de vista político-econômico é Capitalismo Sem Rivais, do economista sérvio radicado nos EUA Branko Milanovic. A obra, publicada pela Todavia e elaborada antes da Covid-19, dá uma aula sobre os dois sistemas capitalistas que regem o mundo — o americano (liberal) e o chinês (político) —, como eles se comportam em relação ao crescimento dos países, à geração de riqueza e à desigualdade e o que podemos esperar de seus corolários.
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Milanovic ainda propõe reflexões e receitas realistas para pavimentarmos um sistema capitalista mais sensível aos desafios sociais de um mundo hiperglobalizado e ainda governado por (e para) elites. Na era pós-Covid, essa discussão se torna ainda mais indispensável.
Durante a pandemia do novo coronavírus, as mortes por doenças cardiovasculares cresceram 31% no Brasil. Os dados são de uma nova seção do Portal da Transparência, desenvolvido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) em parceria com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Entre 16 de março e 31 de maio de 2019, 14 938 pessoas faleceram por problemas como choque cardiogênico e parada cardiorrespiratória. No mesmo período de 2020, o número saltou para 19 573. Lideram a lista o Amazonas, com aumento de 94%, Pernambuco (85%) e São Paulo (70%).
Especificamente nas mortes registradas como infarto, houve queda de 14%. Isso pode ter acontecido porque as pessoas não procuraram ajuda médica. “O aumento de óbitos domiciliares por causas cardiovasculares sugere que pelo menos algumas das mortes por infarto ocorreram em casa, impedindo o diagnóstico correto”, explicou, em comunicado à imprensa, Marcelo Queiroga, presidente da SBC.
De fato, as estatísticas da Arpen-Brasil mostram que, entre março e junho de 2019, 5 066 mortes em casa por problemas cardíacos não especificados foram contabilizadas pelos cartórios. Já em 2020, durante a pandemia, foram 8 863 registros. Ou seja, um crescimento de quase 75%.
Os números servem de alerta para o fato de que os sintomas de infarto não devem ser ignorados ou minimizados por medo de ir ao hospital. “É de se notar ainda que os efeitos deletérios sobre a saúde cardiovascular podem durar mais do que a própria pandemia, porque as medidas de prevenção primária e secundária estão sendo adiadas nesse contexto”, completou Queiroga.
A preocupação com o assunto nasceu há alguns meses, quando pesquisadores internacionais começaram a notar quedas bruscas nos atendimentos de emergências não relacionadas à Covid-19, como o próprio infarto e o AVC. Dados do Instituto Kaiser Permanente, nos Estados Unidos, acusam uma redução de 50% nas internações por ataque cardíaco nos hospitais da rede na Califórnia.
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Nova York, epicentro norte-americano da pandemia, acumulou três vezes mais mortes por doenças cardiovasculares durante os meses de pico da Covid-19, de acordo análise feita pelo jornal New York Times, com dados do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos.
Espanha e Itália também registraram declínios nas admissões hospitalares por infarto na casa dos 50%. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista já havia alertado em abril para uma redução de 70% nos atendimentos da mesma natureza.
A variedade das manifestações da Covid-19 — com sintomas leve para alguns pacientes e complicações agressivas em outros — ainda suscita dúvidas entre os médicos. Afinal, quem está em maior risco de parar na UTI por causa do coronavírus (Sars-CoV-2)? Além dos grupos de risco mais conhecidos, um estudo europeu iniciou um debate sobre o possível papel do tipo sanguíneo no agravamento do problema.
Os pesquisadores publicaram seus achados no prestigiado periódico The New England Journal of Medicine. Eles analisaram os genes de cerca de 4 mil pessoas. Entre elas, havia indivíduos com sinais graves, moderados ou leves da Covid-19, além de um pessoal livre da infecção.
A ideia era encontrar alterações genéticas comuns aos casos mais sérios. De fato, os experts detectaram mutações semelhantes em seis genes do cromossomo 3, uma parte do DNA responsável pela imunidade e com papel na resposta inflamatória, que pode ser exacerbada na Covid-19.
Entretanto, a descoberta mais curiosa envolveu os genes que determinam o tipo sanguíneo. Ora, os portadores do tipo A apresentavam um risco 45% maior de desenvolverem quadros mais graves. Em quem possuía o tipo O, o efeito foi oposto — o perigo caiu 35%. Eles são os mais frequentes na população.
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O fator Rh, que determina aquele sinal de positivo ou negativo do tipo sanguíneo, não foi avaliado.
“O estudo apenas indica que pode haver uma associação entre duas coisas. Ele não mostra uma relação direta de causa e efeito”, aponta João Prats, infectologista e consultor da oncohematologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
A pesquisa não avaliou, por exemplo, outros fatores de risco para complicações da Covid-19, como tabagismo, hipertensão e diabetes. E isso poderia interferir nos resultados.
No mais, uma possível elevação no risco de casos severos não significa que todo sujeito com tipo sanguíneo A vai parar na UTI caso pegue o coronavírus. Nem que detentores do tipo O podem sair por aí despreocupados.
“Pesquisas mostram, por exemplo, que o tipo O oferece alguma proteção contra problemas cardíacos”, comenta Prats. Outros experimentos sugerem que indivíduos no grupo A estão ligeiramente protegidos da cólera e do norovírus, causador de úlceras gástricas, enquanto os do grupo O parecem mais vulneráveis aos ataques da H. pylori, ligada aos tumores no estômago.
Aliás, um membro da família dos coronavírus já entrou nessa linha de pesquisas. Como destacam os autores do estudo europeu, tal relação foi observada no Sars-CoV-1, por trás de uma epidemia em 2002.
Recentemente, outro trabalho chinês ligou o grupo A a uma maior vulnerabilidade aos ataques do Sars-Cov-2. Esse artigo, no entanto, ainda não foi publicado em uma revista científica — o que significa que não foi avaliado criteriosamente por outros especialistas.
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Por que um tipo sanguíneo pode tornar os sintomas do coronavírus mais graves?
O que determina o tipo sanguíneo são proteínas que revestem as hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue. “Todas essas proteínas são criadas a partir de uma parte de DNA”, explica Prats.
Só que esse mesmo trecho do código genético determina está envolvido com outros fatores do organismo. Ou seja, embora seja possível que o novo coronavírus tenha alguma predileção por proteínas específicas do tipo sanguíneo A, existe também a hipótese de outras características presentes nessa porção do DNA estarem por trás de uma maior suscetibilidade à Covid-19. Nesse cenário hipotético, o problema não seria o sangue em si, mas sim o código genético que o define.
“O tipo sanguíneo é um marcador do perfil de DNA que você herdou. E ele pode conter alguma alteração que determine sua resposta inflamatória”, exemplifica Prats. Mais estudos deverão esclarecer a real influência do tipo sanguíneo no aparecimento de doenças, em especial na infecção do novo coronavírus.
Vermelhidão, coceira, ardência, sensação de repuxamento. Quem tem apele sensível certamente já sofreu (ou sofre) com esses sintomas. Eles podem ser provocados por diferentes doenças: rosácea, dermatite de contato, dermatite seborreica e até fatores genéticos que fazem com que algumas pessoas tenham a pele mais fina (e, portanto, mais delicada).
“Tudo aquilo que leva a uma inflamação da pele e acarreta avermelhamento, irritação ou descamação tem como manifestação uma alteração de sensibilidade”, define Cassio Marcelo Siqueira, dermatologista do Hospital São Luiz Anália Franco.
O problema pode aparecer em qualquer região do corpo, mas aquelas em que há dobras (como atrás dos joelhos e axilas) costumam ser mais suscetíveis. Áreas de atrito da pele (na virilha e entre as pernas, por exemplo) também sofrem mais, especialmente nos dias quentes, quando a transpiração aquece e umidifica a pele, intensificando o processo. Mas vale lembrar que, ao contrário do que muita gente pensa, o suor por si só não provoca alergias – até porque ele é composto por 95% de água –, apenas acentua uma irritação preexistente.
Descobrir qual é esse fator que leva à sensibilidade, aliás, é um dos principais cuidados. Por isso, antes de investir emsabonetes para peles sensíveise outros produtos do gênero, vale uma consulta ao dermatologista. No dia a dia, outra dica importante é dar preferência aos cosméticos hipoalergênicos, com pH fisiológico próximo ao da nossa pele (em torno de 5,5).
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Se você tem histórico de alergias e inflamações, evite produtos com perfumes e corantes, bem como temperaturas extremas – banhos muito quentes, por exemplo, são um perigo parapeles sensíveis. Manter a hidratação em dia também conta pontos, já que o ressecamento da pele pode ocasionar (ou piorar) quadros de sensibilidade.
Desodorante para pele sensível
Mesmo tomando esses cuidados, muita gente sente coceira e desconforto nas axilas. Especialmente porque, como explicamos anteriormente, a área sofre com o atrito – tanto com o das roupas como o da própria pele. Isso sem falar na fricção provocada por lâminas, ceras e outros métodos de depilação. Por isso, evite cremes depilatórios que contenham parabenos, fragrâncias e álcool, e nunca use lâminas muito gastas. Escolhertecidos de algodãoe manter a área sempre limpa e seca também ajuda.
“Normalmente, as patologias ligadas às axilas são dermatites de contato, alérgica ou irritativa, causadas por produtos químicos que provocam uma irritação localizada”, explicaSiqueira. Outras doenças comuns na região, diz o médico, são as micoses, dermatite seborreica e infecções bacterianas.
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E os desodorantes? Entram na lista de produtos que podem irritar uma pele sensível, claro. Mas isso não significa que você precisa aboli-los de sua vida para sempre. Muito pelo contrário. Hoje há várias opções no mercado voltadas especificamente parapeles sensíveis, com fórmulas livres deálcool etílico, parabenos, corantes, fragrâncias e outros componentes que podem irritar peles mais delicadas. E isso não significa menos proteção contra a transpiração, já que muitos desses produtos trazem na composição ativos antitranspirantes.
Além da versão aerossol, é possível encontrá-los também em creme, o que geralmente significa maior hidratação. Isso porque eles costumam ser formulados com agentes emolientes, que conferem uma sensação de maciez. E, se tem uma coisa que a pele sensível merece, é um produto que a trate com delicadeza e suavidade.
Já está cada vez mais claro que pessoas com diabetes têm maior risco de encarar formas graves de Covid-19. Mas isso não é nem de longe uma sentença de complicação e morte. Sabemos que indivíduos com diabetes bem controlado têm um risco mais baixo de adquirir quadros severos da infecção pelo coronavírus quando comparados àqueles descontrolados.
Mas se engana quem pensa que o valor da glicoseno sangue importa só para quem convive com o diabetes. A glicose elevada é um sinal de fumaça, que pode indicar a presença de fogo. Digo isso porque qualquer doença aguda como infarto do coração, derrame cerebral ou apendicite tende a ter um desfecho pior quando o paciente dá entrada no hospital com níveis altos de glicose. Isso mesmo que ele não tenha diagnóstico prévio de diabetes.
E por que isso ocorre? A glicose elevada é um sinal de que o organismo passa por um grande estresse. Ela é uma espécie de dedo-duro de que o corpo está sofrendo. Nosso organismo disponibiliza mais glicose para a corrente sanguínea para que ela seja utilizada por órgãos e tecidos em apuros. É um mecanismo de sobrevivência.
Em algumas pessoas, esse aumento da glicose é apenas transitório e, uma vez resolvido o problema, o valor retorna ao normal. Em outras, a glicose permanece elevada mesmo após a alta hospitalar e o paciente acaba desenvolvendo diabetes pra valer.
Durante a pandemia do novo coronavírus, pesquisadores chineses avaliaram a evolução clínica de 605 pacientes sem diabetes que foram internados por Covid-19. Os estudiosos compararam o que aconteceu com aqueles que entraram no hospital com glicose abaixo de 110 mg/dl com aqueles com glicose acima de 126 mg/dl.
E o que aconteceu? Num seguimento de apenas 28 dias, notaram que o risco de morte foi duas vezes maior naqueles com maior valor de glicose. E o risco de complicações hospitalares foi quatro vezes maior.
Por isso, onde há fumaça, há fogo! Se a glicose está elevada na admissão do hospital, mesmo que o paciente não tenha diabetes, há um sinal de alarme para a equipe de saúde redobrar a atenção e os cuidados a fim de evitar complicações.