domingo, 28 de junho de 2020

O isolamento social acentuou nossa relação emocional com os alimentos

A quarentena, o distanciamento social, o estresse e outros fatores decorrentes da pandemia mudaram seu comportamento alimentar? Você passou a comer mais ou a abusar de doces? O que mudou?

Fazer perguntas como essas para você mesmo é um bom começo para ajustar, sem neurose, sua alimentação em um período tão desafiador. Mas, para entender a importância disso, antes vou precisar recorrer à ciência.

A maioria dos estudos revela que adotamos comportamentos hedônicos — sendo permissivos e generosos nas porções, nas frequências e nas escolhas do cardápio diário — em momentos de grande ansiedade. Alguns autores associam esse padrão hedônico com a imprevisibilidade e a possível “gratificação” promovida por alimentos especialmente saborosos.

Durante uma pandemia dessas proporções, nós não temos respostas para tudo (aliás, nunca temos, mas às vezes acreditamos que sim). Ficamos olhando para o futuro em busca de soluções, em vez de nos concentrarmos também no presente. É esse olhar sempre para um amanhã incerto que gera tensão emocional.

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Esse estado de nervos, por sua vez, altera a concentração de diferentes neurotransmissores no cérebro. Temos, por exemplo, a redução dos níveis de serotonina, uma substância ligada à sensação de bem-estar.

E, na falta dessa molécula, o corpo corre atrás de fontes alimentares que, indiretamente, estimulam sua produção. É o caso dos alimentos mais ricos em gordura. Claro que, no cenário descrito, a opção por esse tipo de comida não é voluntária: “Nossa, estou tão ansioso que preciso de uma manteiga”. Não é assim.

Porém, nosso inconsciente entra em cena com força, a partir experiências de vida. Vou explicar melhor.

Imagine que, na primeira vez que ficou ansioso, você resolveu conscientemente comer um pedaço de chocolate para se recompensar. Poucos minutos depois, seu nervosismo diminui. Essa informação, não racional, fica armazenada em uma região do cérebro denominada sistema límbico. O aroma, o sabor e a sensação após comer o chocolate estarão devidamente catalogados e arquivados nessa região.

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Na próxima ocasião que sua ansiedade der as caras, essa memória será resgatada do arquivo pelo seu inconsciente. E pronto: lá vai aquela barrinha suculenta, marronzinha e perfumada de cacau para dentro da boca. Ou mesmo um pão com dose extra de manteiga.

Ok, mas o que tudo isso tem a ver com as questões do começo do texto? Elas ajudam a racionalizar seu padrão alimentar de maneira geral, cerceando o inconsciente.

Quando se pegar com vontade de consumir algum alimento com grande quantidade de gordura, pergunte para você mesmo: “Por que estou com vontade de comê-lo?”. Essa manobra serve para colocar a parte do sistema nervoso central mais racional de olho no danado sistema límbico.

Se a resposta for um genuíno “me programei para comer esse doce”, ótimo. Aproveite o chocolate e mantenha a alimentação sob controle. Já se a vontade só surgiu porque o chocolate está ali na sua cara ou porque você está nervoso, cuidado!

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Uma boa estratégia para esse momento é substituir o ato de comer por outra atividade que dá prazer. Eu, por exemplo, adoro cuidar das minhas plantas. Aprendi com meus avós e me relaxa muito seguir essa tradição. Pense nas coisas da sua vida que podem ocupar esse lugar. Você vai se surpreender em como isso tira a vontade de guloseimas. Falamos mais sobre o tema no nosso livro O Fim das Dietas (compre aqui).

Durante o período de confinamento, esse padrão pode ter se repetido em sua vida. Aproveite essas situações para treinar outro comportamento alinhado com o seu projeto de emagrecer. Quando esse alimento for de fato um desejo, dissociado das ansiedades do dia, vá e aproveite com calma, saboreando-o lentamente. Bom apetite.


O isolamento social acentuou nossa relação emocional com os alimentos Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br

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