Se uma pessoa se deitasse de lado na superfície de Marte e encostasse o ouvido no solo rubro, muito provavelmente não escutaria nada. De tempos em tempos, as entranhas do planeta vermelho “cantam”. Só que o único jeito de escutar a música das profundezas do mundo vizinho é tendo uma audição muito, mas muito apurada. A nossa sorte é que a Nasa tem uma sonda, a InSight, que está há quase um ano fazendo exatamente isso por lá.
O principal objetivo científico da missão operada pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) é realizar estudos com nível de detalhamento sem precedentes sobre o interior profundo de Marte. Seus instrumentos, em sua maioria construídos por instituições europeias parceiras, pretendem fazer medições cuidadosas da atividade sísmica para obter modelos 3D precisos da estrutura interna do planeta, além de medir a propagação de calor no subsolo marciano.
Esses estudos vão abrir muitas portas não só para entender o passado geológico de Marte, como também para obter insights valiosos sobre a formação e evolução de todos os outros planetas terrestres do Sistema Solar — Mercúrio, Vênus, Terra e até a nossa Lua. Nesse sentido, um instrumento da sonda se destaca: é o SEIS, feito pela agência espacial francesa. É um sismômetro de alta sensibilidade que escuta “martemotos”.
De tão aguçado, ele é capaz de captar as vibrações sutis provocadas por brisas marcianas, bem como gravar os estalos e rangidos das próprias peças da InSight. Estudando como as ondas sísmicas se propagam, os cientistas conseguem entender pela primeira vez detalhes sobre a estrutura das profundezas do planeta vermelho. Até agora, mais de 100 eventos foram detectados pelo time científico, dos quais 21 são considerados terremotos.
Dois dos mais significativos foram gravados em 22 de maio, magnitude 3,7, e em 25 de julho, magnitude 3,3. Ambos indicam que a crosta de Marte é mais parecida com a da Lua que com a da Terra. Aqui, as fendas acabam sendo seladas com o tempo graças à ação da água, que transporta sedimentos e tapa os buracos; na Lua e em Marte, isso não acontece, então as ondas sonoras dos tremores se propagam bem mais fragmentadas pelo solo.
Enquanto na Terra as ondas sísmicas duram poucos segundos, no nosso satélite natural e no mundo vizinho elas podem se prolongar por alguns minutos. É provável que haja mais tremores de terra em meio ao catálogo de sons coletados até o momento, mas os cientistas ainda não conseguiram descartar outras possíveis causas para os barulhos. Como têm de lidar com um “ouvido” extremamente sensível, fica bem complicado separar o joio do trigo. Ouça mais uma gravação:
Com o tempo a equipe foi se acostumando aos diferentes sons, aprendendo a reconhecer cada ruído e a filtrar o burburinho de fundo. Eles relatam que o melhor momento para escutar os “martemotos” é ao anoitecer e noite adentr, quando há menos vento provocado pelo ar aquecido durante o dia. Toda essa intimidade sonora inclusive fez o time se sentir ainda mais perto da sonda, como se estivessem realmente em Marte.
Sonda da Nasa registra os sons de ‘terremotos’ em Marte Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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