Após passarem mais de um ano e meio desligados para a implementação de consideráveis melhorias técnicas, os dois principais observatórios de ondas gravitacionais voltaram a operar em 1º de abril. Tanto o Ligo, nos Estados Unidos, quanto o Virgo, na Itália, foram religados com a promessa de detectar uma fusão (merger) de buracos negros por semana e uma de estrelas de nêutrons por mês. Não era mentira: viram isso e muito mais.
Corre solta na comunidade astronômica a notícia de que a colaboração ítalo-americana flagrou ondas gravitacionais de um fenômeno ainda mais interessante que os mergers. Era 26 de abril nos EUA quando um sinal muito esperado pelos astrônomos passou pelos dois interferômetros do Ligo, sofisticados detectores em formato de “L” que usam lasers para registrar a discreta passagem de minúsculas oscilações no tecido do espaço-tempo.
Depois de cumprir com o prometido, entregando já no primeiro mês diversas observações de buracos negros colidindo e, bem no dia anterior, de estrelas de nêutrons colidindo, a colaboração LIGO-Virgo detectou um misto das duas: um buraco negro devorando uma estrela de nêutrons. Os astrônomos estavam ansiosos por essa detecção, bem mais rara que as outras, pois ela carrega informações únicas e muito valiosas.
Para entender melhor, é preciso levar em conta a essência de uma estrela de nêutrons. Elas se formam depois que estrelas bem mais pesadas que o Sol entram em colapso, resultando em objetos compactos e extremamente densos. Estamos falando de duas vezes a massa do Sol enfiadas em uma esfera de 20 quilômetros de diâmetro — uma colherinha de chá desse material pesa o equivalente a 900 pirâmides de Gizé.
Quando um objeto peculiar desses é engolido por outro tão doido quanto, o resultado é a criação das condições perfeitas para estudar as fronteiras da astrofísica em vários campos, como a taxa de expansão do Universo e até testar a teoria da relatividade geral. Os últimos estágios do banquete estelar do buraco negro são simplesmente espetaculares.
“A estrela de nêutrons vai ser rodopiada ao redor do buraco negro em uma órbita peculiar”, disse B. S. Sathyaprakash, físico teórico do Ligo, à revista Nature. “Sistemas buraco negro–estrela de nêutrons podem fornecer testes mais poderosos para a relatividade geral”, afirmou. Além disso, como a gravidade do buraco negro rasga a estrela ao meio, os astrofísicos podem finalmente descobrir qual é o estado da matéria lá dentro.
Provisoriamente chamado de #S190426c, o fenômeno ocorreu a 1,2 bilhões de anos-luz da Terra. Pesquisadores ainda estão analisando os dados e tentando determinar se não foi um alarme falso, já que o sinal não é tão intenso assim. De qualquer forma, o time Ligo-Virgo divulgou um alerta com a localização no céu para que outros observatórios apontem seus telescópios para lá e captem mais detalhes do evento em outras faixas do espectro da luz. É a astronomia multi-mensageira — uma verdadeira revolução no estudo do Universo.
Astrônomos podem ter flagrado buraco negro devorando estrela de nêutrons Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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