O último episódio de Game of Thrones representou o fim de uma era para a televisão e para uma legião de fãs. Depois de oito anos, é impossível não se emocionar com o final de uma série histórica. Acontece que a oitava temporada já não estava agradando muita gente — e o último episódio manteve essa linha. Veja quais conclusões poderiam ter sido (bem) melhores.
Bran no trono de ferro
Vamos começar colocando o dedo na ferida: Bran era a pessoa mais improvável para assumir o comando de Westeros. Não estamos julgando sua competência — certamente uma pessoa que conhece o passado, o presente e o futuro está apta a governar qualquer coisa. O problema é o conjunto de fatores que o colocaram lá.
A desculpa dada para justificar Bran no trono não colou. O mais surpreendente, porém, foi ele ter aceitado. Bran já havia dito que não queria o trono. Brandon Stark é o novo Corvo de Três Olhos — sentar no trono não é o seu propósito. Ele deve preservar a história de Westeros para que ela não se perca e, futuramente, treinar um novo corvo para fazer o mesmo. Como rei, ele e seu poder ficam extremamente expostos a ameaças externas.
Um outro detalhe contribui para que essa resolução não faça sentido. Bran concordou com a independência do Norte, assim os sete reinos passam a ser somente seis. Acontece que ele mesmo é nortenho, o que o torna um estrangeiro nos Seis Reinos. Como os lordes poderiam aceitar se curvar para alguém de fora? Pela lógica de Game of Thrones, um rei estrangeiro não transmite confiança aos súditos.
O direito de Jon ao trono foi ignorado
O fato de Jon Snow ser filho legítimo de Rhaegar Targaryen e sobrinho de Daenerys foi o plot twist mais importante de toda a série. Grande parte do enredo de Game of Thrones foi construído para culminar nessa revelação. Esperava-se, pelo menos, que ela tivesse uma importância maior na conclusão da história.
Tyrion até menciona a verdadeira identidade de Jon nesse último episódio para convencê-lo a matar Daenerys, mas convenhamos que isso nem era necessário. Jon Snow é a pessoa mais justa e boa de toda a série. O fato de Daenerys ter queimado a população de Porto Real inteira já era suficiente para motivar Jon a matá-la. Ele sabia que Dany representava a maior ameaça para Westeros. Seu destino, então, não poderia ser outro.
Depois desse momento, a ascendência Targaryen de Jon não é mais mencionada. Durante toda a oitava temporada escutamos Varys falando que ele seria o melhor sucessor ao trono – e Jon repetindo incessantemente que não tem interesse. Por que houve toda essa discussão se no final das contas não seria revelado que ele é o verdadeiro herdeiro ao trono de ferro?
Sabemos que Jon não queria ser rei de Westeros, mas, até alguns episódios atrás, o próprio Bran também dizia que não queria. No momento de decidir quem seria o próximo governante, o “detalhe” de Jon ser Targaryen poderia ser levado em consideração. Não foi.
Abrir mão da hereditariedade
Taí uma decisão que vai dar muito problema para os futuros lordes de Westeros: abandonar o conceito de hereditariedade na hora das sucessões. Só fato de todos os lordes terem aceitado a ideia instantaneamente já é, no mínimo, pouco plausível.
Sentar no trono de ferro significa ser a pessoa mais poderosa de Westeros. A cadeira feita de espadas sempre foi cobiçada ao longo da história, e não houve indício de que isso tenha mudado. Todos os lordes terão a chance de se tornar rei, então por que não abraçar a oportunidade? Só podemos imaginar as guerras que aconteceriam cada vez que fosse necessário escolher um novo soberano.
Os lordes não seriam os únicos a reivindicar o direito pelo trono. Cada rei tentará lutar para colocar seu filho no comando de Westeros, como sempre aconteceu. Até um suposto herdeiro de Jon Snow poderia aparecer e entrar na luta.
Além disso, o passado da monarquia hereditária não seria apagado. Imagine mudar toda a sustentação do sistema político da noite pro dia. A população está acostumada a acreditar que o primogênito do atual rei é o sucessor legítimo ao trono. Uma inversão desse valor, nas sociedade de GoT, desencadearia revoltas populares clamando pela ascensão do “verdadeiro” rei.
Dorne permanece submisso ao rei de Westeros
No momento da votação para decidir quem seria o próximo rei de Westeros, Sansa impôs que o Norte deveria ser independente. Brandon, como um bom irmão e governante, aceita os argumentos e o Norte passa a ser liderado por Winterfell sob a autoridade de Sansa.
O Norte mostra seu descontentamento com o trono desde a primeira temporada. Robb Stark foi declarado o primeiro Rei do Norte por seus seguidores, seguido por Jon Snow e, agora, Sansa Stark. Tudo isso faz sentido devido ao histórico de resistência do Norte. O que não faz sentido é que o lorde de Dorne fique quieto diante disso.
Historicamente, o reino de Dorne resistiu ainda mais à unificação de Westeros que o do Norte. Lá atrás, quando os Targaryen chegaram em Westeros e começaram a dominar o continente, Dorne foi o único território que Aegon I, o conquistador, não foi capaz de tomar. Enquanto outros reis e lordes batalhavam para proteger seu território, Dorne se recusou a entrar em conflito com Aegon. Ao invés disso, eles bolaram emboscadas e pequenos ataques aos dragões, até que o conquistador acabou desistindo.
Dorne só foi conquistada 150 anos depois, pelo rei Daeron I, e passou a fazer parte dos Sete Reinos. Mesmo assim, os dorneses sempre se rebelaram e mantiveram uma distância significativa do trono. Não faz sentido que o lorde de Dorne, vendo a oportunidade de se libertar de um governo nortenho, escolha ficar quieto. Já que Bran aceitou a independência do Norte, esse seria o momento perfeito para fazer o mesmo com Dorne. Por outro lado, Dorne sempre foi deixado de lado na série. Não é surpresa que o seu final também deixasse a desejar.
Verme Cinzento se contenta com o exílio de Jon Snow
Os Imaculados são treinados desde os cinco anos de idade para serem máquinas de matar. Durante anos eles prometeram servir Daenerys religiosamente. Então, por que eles mostrariam piedade ao homem que matou sua líder?
Verme Cinzento aceitou um acordo que mandava Jon Snow de volta para a Patrulha da Noite em troca de sua vida. Isso não faz o menor sentido levando em consideração a história dos Imaculados. Eles não foram educados para aprender a negociar. A reação óbvia seria matar Jon – assim como eles mataram milhares de inocentes em Porto Real – independentemente das consequências.
Mais. Os roteiristas foram bondosos demais com Jon Snow, considerando o caráter vingativo que permeou toda a série. Primeiro ele escapa das chamas de Drogon e em seguida é agraciado com a compaixão dos Imaculados em deixá-lo vivo. É claro que passar o resto da vida na Muralha não é um destino animador, mas é o que ele sempre quis — e definitivamente, melhor do que ter a garganta cortada.
Cinco momentos que não fizeram sentido no final de Game of Thrones Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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