Clareamento, lentes de contato dental, facetas de resina. Preenchimento labial, bichectomia. Harmonização facial e orofacial. Quem nunca viu um “antes e depois” de um sorriso de um famoso nos portais ou em propagandas de dentistas no Instagram?
Você já, certamente. E, saiba: ainda não viu tudo o que vem sendo feito por aí. Esse é nosso assunto aqui. É comum hoje as pessoas experimentarem o procedimento estético da promoção do mês.
Mensagens com preços irresistíveis são enviadas pelo WhatsApp para celebrar Dias das Mães, Black Friday e por aí vai. Aproveitando a maré favorável do público pela busca da perfeição instagramável, o mercado de estética nunca foi tão presente, amigável e acessível.
Intervenções são válidas para quem quer melhorar autoestima e bem-estar. O problema é: a saúde está sendo levada a sério? Quem é o profissional que vai aplicar o procedimento? Ele foi preparado para isso? Onde realizou especialização?
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Além da própria experiência, ele avaliou a predisposição do paciente para possíveis riscos? Verificou se pode haver alergia ou qualquer tipo de complicação? Podemos garantir que metade das pessoas que se submete a procedimentos estéticos hoje não faz essas perguntas.
Como resultado disso, vemos tratamentos sendo indicados antes de uma avaliação criteriosa da face, da oclusão da boca, da saúde dos dentes e das gengivas, para citar alguns exemplos.
Essa análise é essencial para determinar a necessidade ou não de alguma intervenção. E se essa indicação será benéfica, de fato. Porém, o que vem acontecendo atualmente é o que chamamos de sobretratamento, um excesso de tratamento.
A banalização é preocupante
Trabalho no mercado de odontologia e, há 33 anos, fundei o Ateliê Oral com meu sócio, Marcelo Moreira.
Posso dizer que fomos pioneiros nacionais no que diz respeito a tratamentos odontológicos que priorizam a saúde e a função, tendo a estética como aliada na qualidade de vida dos pacientes.
Três décadas atrás, ninguém falava de procedimentos estéticos de alta complexidade para os dentes. Hoje, há uma demanda por estética além da curva, quando comparamos o Brasil a outros países.
Segundo um levantamento da Research and Markets, o mercado odontológico mundial deve movimentar cerca de US$ 35,7 bilhões (mais de 181 bilhões de reais) até o fim de 2023, o brasileiro será um dos principais a contribuir com essa movimentação.
E, de acordo com a Sociedade Brasileira de Odontologia e Estética (SBOE), nosso país é considerado o segundo que mais realiza mudanças odontológicas no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
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Os riscos para o paciente
Essa busca, quando indiscriminada, coloca a saúde bucal e a função dentária a segundo plano, apresentando riscos significativos para os pacientes. Muitas vezes, vitais.
Há muitos casos de pessoas que desenvolvem processos inflamatórios derivados de procedimentos irresponsáveis, com danos irreversíveis para a saúde não só da boca, mas do corpo. Dores crônicas de cabeça e cervical são alguns exemplos.
Isso porque, infelizmente, alguns profissionais fazem um uso indevido de técnicas como lentes, facetas, resinas, entre outros materiais, as aplicando literalmente por cima de problemas sérios de dente, como cáries, gengivites e problemas de mordida (oclusais).
Certa vez, atendi um paciente com um caso severo de bruxismo, cuja indicação era de reabilitação oral. Ao invés de seguir o tratamento recomendado, ele pediu que fizéssemos a extração completa dos dentes desgastados para a colocação de implantes.
De nossa parte, a resposta em um caso como esse será sempre não.
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O cuidado tem uma lógica
E por qual motivo dizemos “não” para alguns pacientes? Pois é parte do nosso código ético não aceitar tratamentos estéticos que sobreponham a atenção à saúde, sempre em primeiro lugar.
A colocação de implantes, como sugerida pelo paciente, ou de lentes de contato dentais, é precedida por questões que não podem ser ignoradas, como a função da mordida, a estrutura óssea (posição das arcadas como maxila e mandíbula), as posições dos dentes, entre outros fatores cruciais.
Lentes de contato não são para todos
Elas devem ser indicadas para correções de anatomia defeituosa, como dentes em formato de cone ou formato de barril, dentes muito pequenos (com aspecto infantil), dentes muito escuros, dentes com defeitos estruturais congênitos, fechamento de diastema (dentes afastados) e correções após a finalização do tratamento ortodôntico.
E quando não usar? Pacientes muito jovens não deveriam colocar lentes só por padrão estético, considerando que os desgastes necessários para a realização do procedimento nunca mais podem ser recuperados.
Outro caso de contraindicação é para pessoas com problemas de mordida, cáries, doenças gengivais ou oclusão comprometida.
Como consequências dos erros cometidos no mercado, o que vemos hoje são dentes longe da naturalidade, problemas como a periodontite, além de desvio na mordida, retração de gengivas, traumas na mastigação, fora a possibilidade de perder os dentes.
Alerta
Muitas vezes, profissionais não fazem esse tipo de alerta, de olho em abocanhar um mercado de rápido lucro. Há também os casos de profissionais que sequer sabem sobre esses riscos.
Então, o que fazer? Primeiro: pesquise um lugar de confiança, profissionais de referência e pessoas que já passaram pela clínica ou pelo profissional. Segundo: desconfie se ele não solicitar para você exames clínicos.
O mais importante é ter em mente que a estética deve vir depois da saúde e da função. O planejamento cuidadoso, feito por um profissional recomendado, é crucial para evitar problemas de saúde e garantir um sorriso harmonioso e natural.
Não existem atalhos. Responsabilidade e autocuidado devem ser a moda da vez. E de sempre.
*Marcelo Kyrillos é sócio-fundador do Ateliê Oral, clínica odontológica presente no mercado há 33 anos
Estética a qualquer custo: os riscos de procedimentos orais malsucedidos Publicado primeiro em https://saude.abril.com.br
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