Durante uma conferência internacional sobre satélites realizada nesta semana em Washington, nos EUA, não se falou de outra coisa: a corrida pela internet espacial está pegando fogo. Em abril, Jeff Bezos, CEO da Amazon e detentor do título de homem mais rico do mundo, entrou nessa de cabeça. A notícia caiu como uma bomba entre as empresas que desenvolvem o projeto há alguns anos, como a SpaceX. Elon Musk, inclusive, não perdeu a chance de dar uma nova alfinetada em Bezos, seu rival, chamando-o de “imitador”.
Projeto Kuiper é o nome da iniciativa da Amazon, cujo objetivo final é colocar exatos 3.236 satélites em órbita. Ainda mais megalomaníaca é a constelação da SpaceX, batizada de Starlink, que envolve 12 mil “roteadores” orbitais. Outra empresa trabalhando no conceito é a OneWeb, que deve começar a produzir dois satélites por dia para, em breve, lançar 600 deles e colocá-los para funcionar já em 2021. Há outros projetos no páreo, mas estes três são os que têm as melhores chances de vingar na próxima década.
Quem mora em grandes centros urbanos, bem providos de infraestrutura de cabos e fibra ótica, pode ter a impressão enganosa de que internet boa é praticamente universal. Não é: estima-se que 43% da população mundial não tenha acesso à rede. Isso equivale a quase 3,4 bilhões de pessoas, com os menores índices de conexão registrados na África (37%) e na Ásia (51%). É para suprir essa lacuna, principalmente em lugares isolados, que empresários começaram a pensar em criar um sistema global de banda larga via satélite.
Para acessar, basta uma antena. Esse mercado ainda nem decolou, mas seus participantes já estão preocupados com a entrada do fundador e CEO da Amazon. Com uma fortuna de US$ 157 bilhões e uma companhia de foguetes própria para lançar seus satélites, a Blue Origin, a posição dele é vantajosa o bastante para quebrar a concorrência, se quiser. É só derrubar o preço dos serviços. “Jeff Bezos é rico o bastante para levar você à falência”, disse à AFP Matt Desch, CEO da Iridium Communications.
A Iridium é especialista em falir: foi à bancarrota após queimar a largada e lançar um satélite de telefonia móvel nos anos 90, quando quase ninguém tinha celular. Pela bagatela de US$ 3 mil por um aparelho tijolão e três dólares por minuto de ligação, a empresa pensou que iam chover assinaturas. Quase ninguém contratou o serviço, e hoje eles tiveram de reinventar sua atuação. “Esses caras que estão entrando, eu realmente desejo a eles o melhor… Espero que não levem 30 anos até se tornarem bem-sucedidos como aconteceu conosco”, comenta Desch.
O fato é que essa ideia de colocar milhares e milhares de satélite operando em sinfonia lá na órbita baixa da Terra é tão nova que ninguém sabe ao certo se vai dar certo. Tem espaço para tanto objeto assim lá em cima? Tem mercado para tantas empresas aqui embaixo? De acordo com o analista-sênior Shagun Sachdeva, a maioria das companhias de internet espacial vão morrer na praia, com espaço para “talvez duas”. Ele prevê pelo menos de 5 a 10 anos até que a tecnologia amadureça a ponto de se disseminar globalmente.
E tem o fato de que as áreas mais necessitadas são as mais pobres do mundo: há clientes o suficiente para pagar pelo investimento? Eles têm recursos para assinar o serviço? Por isso, empresas como a OneWeb estão mudando de estratégia, pensando em focar primeiro em levar conexão de banda larga a aviões e navios, um nicho promissor e lucrativo. Bezos entrou atrasado na corrida, mas com muitos bilhões de dólares, foguetes e a surreal infraestrutura de TI da Amazon na manga, ele tem boas chances de assumir a dianteira.
Esquenta a corrida pela primeira rede de internet espacial Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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