quarta-feira, 31 de março de 2021

Cientistas podem ter descoberto evidências de um raríssimo buraco negro intermediário

Nesta semana, pesquisadores da Universidade de Melbourne e da Universidade Monash, na Austrália, anunciaram a possível descoberta de um buraco negro com 55 mil vezes a massa do Sol. Pelo tamanho, ele entraria na classificação dos buracos negros intermediários (de 100 a 100 mil vezes a massa solar). Ou seja, nem muito grande, nem muito pequeno – e isso é incrível.

Via de regra, astrônomos encontram buracos negros estelares ou supermassivos. Os estelares se formam no final do ciclo de vida de uma estrela e possuem algumas dezenas de vezes a massa do Sol. Buracos desse tipo são bem comuns – só na Via Láctea há mais ou menos 100 milhões. Eles são grandes, claro, mas não chegam perto dos supermassivos, com milhões de vezes a massa solar. O buraco negro M87, que ficou famoso em 2019 ao ser fotografado, por exemplo, tem 6,5 bilhões de vezes a massa do Sol. São os supermassivos que habitam o centro da maioria das galáxias, pairando como âncoras gigantescas.

O Universo que conhecemos até agora, então, possui buracos negros grandes e pequenos – com um “vácuo” no meio. Por décadas, astrônomos têm quebrado a cabeça em busca desses corpos intermediários. Afinal, encontrar esse elo perdido pode ser a chave para entender a formação dos buracos negros supermassivos: ninguém sabe ainda como deu tempo de eles ficarem tão grandes – mesmo considerando os 13,8 bilhões de anos de idade do Universo.

Naturalmente, a ciência já previa a existência de buracos negros intermediários, com alguns possíveis candidatos pelo espaço. Até porque uma das propostas para a existência dos seus primos supermassivos, por exemplo, é que eles sejam produto da fusão de vários buracos menores. Mas, se é assim, deveríamos ver muitos buracos intermediários em fase de crescimento, no caminho de se tornarem supermassivos.

O problema é que eles são muito difíceis de detectar. Pelo tamanho, os buracos intermediários não brilham intensamente em forma de raios-x como os supermassivos, e voam abaixo do radar dos atuais detectores de ondas gravitacionais (perturbações no tecido do espaço-tempo causadas por uma grande liberação de energia, um fenômeno previsto por Einstein e confirmado em 2015). É tão difícil achá-los que alguns cientistas questionam se eles, de fato, existem.

Como os cientistas detectaram o buraco negro?

Nos anos 1990, astrônomos registraram uma explosão de raios gama que aconteceu há 3 bilhões de anos por conta da fusão de duas estrelas. E a luz proveniente desse acontecimento foi a chave para a nova descoberta.

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Analisando os dados da explosão, James Paynter, principal autor do estudo, e o restante da equipe notaram que a luz realizava uma trajetória curva até a Terra. Uma das hipóteses levantadas foi que havia um objeto com campo gravitacional grande no meio do caminho, e ele era o responsável por distorcer a trajetória da luz – um fenômeno conhecido como lente gravitacional. Tal objeto poderia ser um buraco negro intermediário.

Para testar essa teoria, os pesquisadores usaram um software desenvolvido para encontrar buracos negros a partir de ondas gravitacionais e o adaptaram para analisar os flashes de luz da explosão cósmica. O objetivo era detectar se os dois flashes detectados, fruto da distorção da lente gravitacional, diziam respeito ao mesmo objeto.

Deu certo. A ilustração que abre este texto, inclusive, é uma representação artística do possível buraco negro e a distorção da luz causada por ele. A arte foi feita pelo OzGrav, centro de pesquisas sobre ondas gravitacionais que também participou da pesquisa.

No estudo, publicado na revista Nature Astronomy, os cientistas supõem que esse buraco negro pode ser um buraco primordial, criado logo no início do Universo e que pode ter sido a semente para um atual buraco negro supermassivo. Além disso, eles acreditam que os buracos intermediários podem ser mais comuns do que se imagina, e estimam que cerca de 46 mil buracos se encontram próximos à Via Láctea.

Em setembro de 2020, a notícia de uma colisão de buracos negros também movimentou o debate acerca dos buracos negros intermediários, uma vez que existe a possibilidade do fenômeno ter dado origem a um buraco com 142 vezes a massa do Sol. Ainda são necessárias mais observações até que isso seja confirmado, mas tanto essa quanto a descoberta mais recente reforçam: estudar os buracos médios são a chave para compreender os grandalhões.

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Enquete: qual a sua forma predileta de comer ovo?

O consumo de ovo no Brasil está bombando. Em uma reportagem da edição de março, trazemos um especial sobre esse alimento, que descartou de vez a fama de vilão. E agora a gente quer saber: qual a sua forma predileta de consumir o ovo?

Responda nossa enquete e veja como as outras pessoas vêm saboreando esse item:


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Quiropraxia traz benefícios? Ela pode causar AVC?

Boa parte das pessoas veem a quiropraxia como uma técnica para diminuir dores nas costas através da manipulação da coluna e do pescoço. Mas ela na verdade surgiu como um tratamento que alinharia o organismo como um todo, tratando 95% de todas as doenças. Claro que não há quaisquer evidências científicas que suportem essa alegação — e, por outro lado, existe o temor de que as estaladas na espinha e no pescoço aumentem o risco de complicações sérias.

Daí porque a leitora Giulia de Paula nos perguntou se a quiropraxia pode provocar um acidente vascular cerebral (AVC).

Para responder essa pergunta e dar o contexto por trás dessa prática, Veja SAÚDE conversou com o Edzard Ernst, um professor da Universidade de Exeter, na Inglaterra, que estuda os reais efeitos de diferentes métodos alternativos, e com o ortopedista Alexandre Fogaça, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – Regional São Paulo (Sbot-SP). Também vasculhamos as evidências científicas sobre o método.

O que é a quiropraxia

Apesar de as dores osteomusculares serem o foco da quiropraxia hoje, Edzard Ernst explica que, nos seus primórdios, o método era, digamos, mais ambicioso. Ele foi criado por Daniel David Palmer (1845-1913) em 1895, nos Estados Unidos.

De acordo com informações da revista Questão de Ciência, no livro de memórias de D.D. Palmer, “O Quiroprático”, publicado postumamente em 1914, a ideia de curar condições médicas dessa forma teria surgido por uma revelação espiritual enviada a ele pelo médico James Atkinson, que havia morrido 50 anos antes.

“Segundo D.D. Palmer, 95% de todas as doenças têm origem em subluxações da coluna. Portanto, a única cura se daria pela manipulação dessa estrutura”, conta Ernst, que lançou recentemente um livro sobre o tema (clique parar comprar), ainda sem tradução para o português.

Veja: “subluxação” é um conceito médico que significa o deslocamento parcial de uma junta. Mas, na quiropraxia, o termo pode designar “danos que não necessariamente causam manifestações físicas”. Ou seja, é a impressão pessoal do quiropata que define se há ou não uma subluxação.

Ainda de acordo com os princípios originais da quiropraxia, as subluxações bloqueariam a passagem da chamada “inteligência inata”, que por sua vez seria responsável por controlar todas as funções do organismo. Não há qualquer pesquisa que que tenha identificado essa inteligência inata ou a suporte de algum jeito. Pelo contrário.

Tempos depois de lançar a quiropraxia, D.D. Palmer afirmou que a inteligência inata era uma espécie de “Deus” dentro de cada pessoa. Sim, ele via seu método como uma religião que substituiria conceitos científicos de cura e tratamento.

“No início, ela era vista como uma panaceia. Só mais tarde a dor nas costas se tornou um foco dos quiropatas”, afirma Ernst. Em um artigo publicado no Journal of Pain and Symptom Management em 2008, esse cientista revelou que os primeiros panfletos divulgando a quiropraxia alegavam, por exemplo, que ela era capaz de curar insanidade, disfunção sexual, sarampo e gripe.

Com o tempo, houve um racha entre os profissionais que aplicavam a técnica. Parte tentou incorporar elementos científicos — e até por isso resolveram se concentrar nas doenças osteomusculares. Esse é o grupo dos “mixers”.

Já os “straights” seguem fiéis aos princípios originais de D.D. Palmer. Eles acreditam que as subluxações são a causa de quase todas as enfermidades, e a quiropraxia, a cura. Pesquisas já deixam claro que isso não é verdade.

A quiropraxia é atualmente regulamentada em diversos países — ela está enraizada especialmente nos Estados Unidos. A Federação Mundial de Quiropraxia inclusive é reconhecida e filiada à Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, essa forma de manipular a coluna é oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), junto com outros métodos sem comprovação científica, como homeopatia, ozonioterapia e reiki.

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A quiropraxia evita dores nas costas?

Vamos recorrer à ciência. Pesquisadores de instituições holandesas e dinamarquesas fizeram uma revisão sistemática de 47 estudos randomizados que compararam a quiropraxia com outras terapias contra a lombalgia crônica. Ao todo, foram incluídos 9 211 participantes, com idades entre 35 a 60 anos.

O resultado, publicado em 2019 no British Medical Journal, indicou que o efeito dessa técnica é semelhante ao de outros tratamentos recomendados. Nem melhor, nem pior.

No entanto, os autores pontuaram que os especialistas devem informar seus pacientes sobre os possíveis riscos da prática. A maioria dos efeitos colaterais esteve ligado a dores e rigidez muscular — embora a revisão conclua que muitos dos trabalhos analisados não avaliaram essa questão de maneira rigorosa.

Mais uma revisão, essa publicada no respeitado periódico científico Jama, investigou a quiropraxia contra a dor lombar aguda. Após checar 26 estudos, os experts calcularam que ela foi associada a melhorias modestas em até seis semanas.

O benefício foi estatisticamente igual ao apresentado por anti-inflamatórios não esteróides. Além disso, a revisão destaca que muitas das pesquisas incluídas apresentavam limitações.

Outra revisão, feita por universidades canadenses, australianas e americanas focou no tratamento de dores no pescoço. Os experts concluíram que o manejo e a mobilização da estrutura não trazem benefícios isoladamente — apenas se usados em conjunto com exercícios.

No fim das contas, a literatura científica não traz ainda uma resposta clara, embora resultados assim já deixem claro que a quiropraxia não é um milagre. Há indícios de que ela pode ajudar a aliviar dores nas costas, assim como outros métodos. “Todas as outras afirmações feitas por quiropatas não são apoiadas por boas evidências”, acrescenta Ernst.

Os riscos da quiropraxia

Vamos começar pelo tema que deu origem a esse texto: o AVC. “Ele pode acontecer após manipulações bruscas do pescoço, que causam a dissecção de uma artéria, levando a um derrame, às vezes seguido de morte”, explica Ernst.

No Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca, profissionais chafurdaram os dados de diferentes revisões sobre possíveis efeitos colaterais. A partir de 118 artigos, eles concluíram que as reações adversas graves mais reportadas foram AVC, dor de cabeça e dissecção da artéria vertebral.

Mas, justiça seja feita, os cientistas afirmaram que não dá para tirar conclusões claras. Pra ter ideia, enquanto um trabalho estimava um efeito colateral grave a cada 20 mil sessões, outro sugeria um a cada 250 mil. Essa variação provavelmente indica que necessitamos de mais investigações de alta qualidade para bater o martelo sobre a segurança da técnica. De qualquer modo, o risco não está descartado — nem de perto.

Independentemente da questão do AVC, Alexandre Fogaça destaca que, muitas vezes, desconfortos nas costas não decorrem de problemas na coluna. Logo, recorrer à quiropraxia sem um diagnóstico certeiro pode adiar o tratamento adequado. “Só com a avaliação de um médico é possível concluir qual o caminho a seguir”, alerta o ortopedista.

A Associação Brasileira de Quiropraxia (ABQuiro) alega que, como todo método terapêutico, ela possui indicações e contraindicações precisas. Segundo informado no site da entidade, quando realizada por pessoas qualificadas, os riscos são reduzidos.

Edzard Ernst discorda desse argumento. “As reações adversas mencionadas nos estudos referem-se a quiropatas totalmente qualificados. Eles negam, porque isso seria ruim para os negócios”, critica.

Por fim, há um receio de que o paciente acredite que a quiropraxia consiga controlar ou curar diferentes doenças e, a partir daí, abandone tratamentos comprovadamente eficazes. D.D. Palmer, por exemplo, era contra o uso de vacinas.

Diante de uma terapia com origem totalmente não-científica, sem benefícios superiores aos métodos já difundidos e com possíveis efeitos adversos perigosos, recomenda-se muita cautela. Se você estiver com qualquer problema nas costas, procure um médico qualificado antes de mais nada.

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Qual é a dieta que mais faz bem ao coração?

Por meio de observação empírica, o homem foi descobrindo, ao longo dos séculos, que alguns alimentos eram melhores do que outros para sua saúde e disposição. A capacidade de examinar e correlacionar a qualidade e a quantidade dos ingredientes com o bem-estar e a expectativa de vida permitiu inclusive iluminar o elo entre a dieta e o estado cardiovascular. E a ciência, claro, colocou tudo isso em outro patamar de confiança.

A soma das evidências dos estudos hoje permite que identifiquemos fatores de risco e a influência dos hábitos alimentares na saúde do coração. Isso nos dá a possibilidade de intervir mais precocemente, prevenindo eventos potencialmente fatais como infarto e derrame cerebral, e estender a longevidade.

Na realidade, as pesquisas nos mostram modelos de estilo de vida que não se resumem aos alimentos em si, mas contemplam também fatores culturais e geográficos. Um bom exemplo é a dieta mediterrânea. Pode até parecer simples, mas a estreita ligação entre cardápio e fatores socioeconômicos, religiosos e até climáticos torna difícil responder à pergunta: qual é a melhor dieta para o coração?

Amparados em estudos populacionais feitos ao longo das últimas décadas, assim como em pesquisas sobre as propriedades dos alimentos, chegamos a uma direção lógica que nos permite dar alguns conselhos gerais sobre o menu bem-vindo à longevidade cardiovascular. Esses conselhos convivem com uma profusão de outros indícios e mesmo modismos e atitudes radicais que nem sempre prezam pela saúde.

Em 2020, um importante estudo liderado por pesquisadores italianos, o Opera (Obesity Program of Education, Research and Assessment), reuniu evidências sobre quais grupos alimentares devem ser mais ou menos priorizados pensando na saúde do coração. Resumindo os achados, podemos dizer que esse trabalho pede para prestarmos atenção no seguinte:

Carboidrato: a redução de 20-25% na quantidade de carboidratos simples (arroz branco, macarrão, batata…) num período de seis meses ajuda a baixar os níveis de gordura no sangue, a pressão arterial e o peso corporal.

Gordura saturada: é a gordura da carne vermelha e de boa parte dos produtos industrializados. Ela aumenta as taxas do colesterol ruim (LDL), favorece o desenvolvimento do diabetes e eleva o risco de entupimento nos vasos sanguíneos, a despeito do peso.

Açúcar refinado: o risco de ter sobrepeso ou obesidade aumenta em cerca de 15% se você adicionar mais de uma colher de açúcar ao seu dia. Não deveríamos ingerir mais que 5 gramas do ingrediente. O abuso faz subir o peso e os níveis de triglicérides.

Fibras: pessoas que ingerem regularmente alimentos ricos em fibras, como frutas e verduras, apresentam uma redução de mais de 20% no risco de desenvolver doenças cardiovasculares. O aporte ideal de fibras promove maior eliminação do colesterol e inibe processos inflamatórios que agridem o corpo.

Ômega-3: a gordura poli-insaturada, que abunda em pescados de água fria, tem propriedades cardioprotetoras, entre elas diminuição do triglicérides e defesa anti-inflamatória do endotélio, a camada que reveste internamente os vasos.

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Antocianinas: são compostos que conferem cor vermelha ou roxa aos vegetais (morango, uva, cereja etc.). Também estão relacionados a melhor controle das gorduras pela circulação.

Vitaminas: embora os estudos não sejam conclusivos, os cientistas italianos relatam benefícios das vitaminas C e E nesse contexto. Fornecidas por alimentos de origem vegetal, elas têm efeito antioxidante. Deficiências podem aparecer com o envelhecimento.

Juntando esses dados com outras pesquisas focadas na saúde cardiovascular, chegamos a alguns modelos de dieta que se mostram proveitosos para o coração. Eu destacaria:

Dieta mediterrânea: preza pelo consumo de frutas, legumes, verduras, cereais, azeite e peixes. E pede restrição a carne vermelha, gordura saturada e açúcar refinado. Tem resultados contra obesidade, diabetes, pressão e colesterol altos. As sociedades americana e europeia de cardiologia defendem fortemente a implementação desse cardápio como forma de prevenir problemas cardiovasculares.

Dash (Dietary Approaches to Stop Hypertension): traduzindo do inglês, é uma dieta criada para controlar a hipertensão. Foca nos vegetais e promove redução no consumo do sal. Ao baixar a pressão arterial, ajuda a afastar perigos como infarto e AVC.

Dieta vegetariana: não se pode questionar seu valor para o coração. Um estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostra que ela reduz em até 30% os eventos cardiovasculares. Mas o ideal é individualizar a adoção do cardápio, e contar com orientação especializada, a fim de ponderar e evitar carências nutricionais.

Outras dietas, como a cetogênica, vêm recebendo atenção dos cientistas nos últimos tempos — nesse caso, a combinação do teor elevado de gorduras e baixo consumo de carboidratos parece contribuir para controle do peso e dos níveis de lípides no sangue. E vamos aguardar o que estudos mais longos e robustos têm a nos dizer a respeito.

De um modo geral, fica claro que existem modelos dietéticos capazes de resguardar a saúde cardiovascular. No entanto, devemos ter em mente que a dieta isolada não garante o sucesso da empreitada. Cada pessoa tem particularidades genéticas e diferentes necessidades do ponto de vista energético e nutricional. Além disso, outros elementos do estilo de vida contam pontos.

No mundo ideal, personalizaríamos os ajustes na alimentação de cada um. Mas, se me perguntarem com qual dieta eu fico pensando no coração, juntando os dados da literatura médica com a experiência profissional, eu diria que a dieta mediterrânea é um ótimo modelo. E, para que ela traga bons resultados, não devemos descuidar do acompanhamento médico, da atividade física e de outros itens que compõem um estilo de vida saudável.

* Edmo Atique Gabriel é cardiologista e cirurgião cardíaco, professor universitário e palestrante

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Os 8 investimentos para termos uma população mais ativa

A Organização Mundial da Saúde estabeleceu uma meta em 2018: reduzir em 15% o sedentarismo global até 2030. Para ajudar a alcançar esse objetivo, a Sociedade Internacional de Atividade Física e Saúde (Ispah, na sigla em inglês) criou recentemente um dossiê especial.

Ele parte do pressuposto de que não podemos jogar toda a responsabilidade de se mexer mais para o indivíduo. Ora, fica complicado fazer exercício em regiões inseguras e sem parques, por exemplo. A partir daí, a diretriz lista oito estratégias que merecem o investimento e a atenção de governos, iniciativa privada e sociedade civil.

Detalhe: essas medidas precisam ser implementadas em conjunto. “A inatividade física é um problema complexo de saúde pública, com múltiplas influências que interagem entre si”, detalham os autores no material da Ispah.

1) Programas escolares

Valorizar a educação física é um ótimo ponto, mas não o único. Incentivar e discutir diferentes modalidades nas aulas e no recreio são outros exemplos.

2) Transporte ativo

Tudo que faz a pessoa andar ou pedalar mais enquanto se desloca de um lugar a outro é válido. Isso inclui ampliação de ciclofaixas e reforma de calçadas.

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3) Sistema de saúde com foco em exercício

Os profissionais da área devem conversar sempre com pacientes sobre os benefícios do esforço físico na prevenção e no tratamento de doenças.

4) Campanhas de conscientização

Mensagens nos meios de comunicação fazem a população priorizar os exercícios na agenda e também dão dicas sobre como atingir os níveis ideais.

5) Mudanças no trabalho

As empresas podem fazer muita coisa: encorajar pequenos intervalos ativos, financiar inscrições em academias, criar bicicletários…

6) Acesso igualitário aos esportes

Mulheres, idosos e pessoas com deficiência estão entre os grupos que menos praticam atividade física no lazer. Iniciativas para essas turmas são vitais.

7) Planejamento urbano ativo

Bairros que mesclam comércio, parques, escritórios e residências — e com boas opções de transporte público — fazem as pessoas se moverem mais.

8) Projetos comunitários

A aula gratuita de ginástica na praça da esquina ou aquele evento esportivo todo especial incentivam a incorporação da atividade física.

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terça-feira, 30 de março de 2021

Cientistas criaram células com o menor DNA do mundo – e agora elas podem se reproduzir

Há cinco anos, pesquisadores do Instituto J. Craig Venter se propuseram a criar uma célula sintética com o menor número de genes possível. Deu certo, mas o problema vinha na hora da divisão celular: o organismo não gerava clones de si mesmo, e sim células de formas e tamanhos estranhos. Agora, com a adição de sete novos genes, o grupo de cientistas conseguiu fazer a célula se reproduzir normalmente, como as bactérias e organismos unicelulares. A pesquisa foi publicada no periódico Cell.

A JCVI-syn3.0, como é chamada a célula, foi feita usando bactérias do gênero Mycoplasma, em conjunto com um DNA desenvolvido em laboratório. Na natureza, essas bactérias já possuem um genoma minúsculo: a Mycoplasma genitalium, responsável por infecções genitais em humanos, possui apenas 525 genes. Para efeito de comparação, a bactéria intestinal Escherichia coli possui quase 4 mil genes, enquanto nós temos cerca de 30 mil.

O pesquisador Craig Venter, que participou do Projeto Genoma Humano, também foi o primeiro a criar uma célula com DNA sintético, em 2010. Na época, ele e sua equipe transformaram um micoplasma com 985 genes em um organismo de 901 genes, o JCVI-syn1.0.

Nos anos seguintes, os pesquisadores continuaram a retirar mais partes do genoma, até chegar a um organismo que fosse mínimo. Em 2016, criaram a JCVI-syn3.0, com meros 473 genes. Eles tiraram todas as partes do genoma que não eram necessárias para o metabolismo e a replicação do organismo. As células conseguiram se reproduzir e formar colônias in vitro, mas ao olhá-las de perto, a equipe percebeu anomalias nas células-filhas.

As células deveriam ser pequenas bolinhas, mas algumas eram 25 vezes maiores que o tamanho normal, enquanto outras tinham o formato alongado ao invés de redondo. A equipe, liderada pela bióloga Elizabeth Strychalski, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos, concluiu que estavam faltando genes que ajudam a controlar a reprodução e formato da célula.

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O passo seguinte foi ir atrás desses genes. Entre milhares de possibilidades, os pesquisadores não faziam ideia de quais eram eles. Mas eles sabiam de uma coisa: a JCVI-syn1.0, aquela primeira célula de 2010, não tinha problema em se reproduzir. As peças que faltavam deveriam estar entre os 428 genes retirados da primeira versão (com 901 genes) para a segunda (com 473 genes).

Além disso, a equipe havia criado diferentes linhagens de células durante os seis anos de pesquisa. Em uma dessas linhagens conservadas em freezer, os pesquisadores tinham retirado apenas 76 genes da JCVI-syn1.0, mas a célula já estava se reproduzindo de forma anormal. Isso afunilou as possibilidades de 428 para 76.

Com base nessas informações, a equipe de Strychalski adicionou diferentes combinações de genes no genoma da célula até chegar em um número mínimo novamente. A capacidade de reprodução da célula foi restaurada com a introdução de sete novos genes, resultando em um organismo funcional com 480 genes.

Mas o que esses sete componentes têm de tão importante? Ninguém sabe. Apenas dois deles (chamados ftsZ e sepF) são genes conhecidos, e possuem um papel na divisão celular. Os outros cinco possuem funções desconhecidas. “Nós ainda não conhecemos os mecanismos pelos quais essas células dividem. Isso me impressiona – é um dos aspectos básicos da vida”, disse a pesquisadora em entrevista à Science.

As próximas pesquisas com a célula JCVI-syn3.0 “corrigida” podem ajudar a desvendar esse mistério. Estudos com organismos “mínimos” são importantes para compreender não só a fisiologia básica das células, mas também a evolução de toda a vida na Terra. Contendo apenas as peças indispensáveis para o bom funcionamento, essas células são a versão mais próxima do que foi o ancestral comum entre todos os seres vivos.

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A eficácia e segurança das vacinas contra Covid-19 em crianças e gestantes

Os estudos com as vacinas contra a Covid-19 começaram se concentrando nos adultos em geral (e em idosos), até por uma questão de segurança. Mas agora os cientistas já estão de olho em outras populações, e começam a aparecer resultados de pesquisas preliminares sobre a aplicação do imunizante do coronavírus em gestantes e crianças.

Eles são seguros nesses grupos? O que os números já dizem? Trazemos o que a ciência sabe até o momento.

O caso das crianças

Uma vacina que funciona nos adultos não obrigatoriamente terá o mesmo resultado nos pequenos, porque o sistema de defesa deles não está maduro. “As doses e o intervalo entre elas são definidos com base na capacidade de resposta do sistema imunológico em cada faixa etária”, explica a pediatra Natália Guerra, de São Paulo.

Dito isso, os dados disponíveis até o momento são positivos. No dia 22 de março, o diretor médico da Sinovac, Geng Zeng, afirmou em coletiva de imprensa que a Coronavac é segura e eficaz para a faixa etária de 3 a 17 anos.

A afirmação veio após testes clínicos conduzidos com mais de 550 participantes, que receberam doses médias ou baixas da vacina. Ainda segundo Zeng, os níveis de anticorpos desencadeados pelas injeções foram maiores nas crianças do que em adultos e idosos. O estudo, no entanto, ainda não foi publicado em um periódico científico, o que impede a avaliação dos dados por outros pesquisadores.

As pesquisas com outras vacinas também seguem a todo vapor: a fórmula da AstraZeneca e da Universidade de Oxford está sendo aplicada em participantes de 6 a 17 anos. A Pfizer, que tem sua vacina autorizada para uso a partir dos 16 anos, vem avaliando a eficácia entre os 12 e 15 anos — e prevê em breve o início de testes na faixa dos 5 a 11 anos.

O imunizante da Moderna já vem sendo estudado em jovens dos 12 aos 18 anos desde o ano passado. Recentemente, a empresa foi a primeira a anunciar testes em crianças a partir dos 6 meses de idade.

a vacina da Janssen (braço farmacêutico da Johnson & Johnson) pediu autorização para realizar pesquisas clínicas em crianças brasileiras. Cerca de 600 participantes nessa faixa etária vêm sendo estudados na Espanha e no Reino Unido — e os Estados Unidos acabam dar sinal verde para experimentos similares por lá.

Para além dos estudos, Isarel apresenta dados práticos encorajadores: cerca de 600 crianças de 12 a 16 anos receberam a vacina da Pfizer por lá, e não apresentaram nenhum efeito colateral. Isso aconteceu porque esse país já está em um estágio avançado na campanha de vacinação, e o governo recomendou que crianças com certos fatores de risco para complicações da Covid-19 tomassem as doses.

Cabe lembrar que a infância parece ser menos atingida pela pandemia. E, segundo o Braian Sousa, pediatra da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) que publicou um estudo sobre o assunto, os dados brasileiros apontam uma menor mortalidade em 2021 do que em 2020 nessa faixa etária.

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“A maioria dos trabalhos mostra que a população pediátrica não é uma das principais disseminadoras, apresentando um risco menor de contrair e de transmitir a doença. Mas o tema é controverso e o comportamento da pandemia, principalmente com as novas variantes, pode mudar. É fundamental manter uma vigilância em todas as faixas etárias”, explica Sousa.

Uma questão a considerar é a possível interação entre a vacina do coronavírus e as outras previstas na infância. Há casos específicos em que imunizantes não devem ser aplicados em uma mesma sessão, porque confundiriam o sistema imunológico, gerando uma redução na eficácia das injeções. Por exemplo: a vacina da febre amarela via de regra não é aplicada em conjunto com a tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola).

Verdade que essa interação negativa ocorre com vacinas produzidas a partir de vírus vivos atenuados — e nenhuma das formulações mais famosas contra a Covid-19 usadas (Coronavac, Moderna, Pfizer, Oxford e Sputinik V) segue essa lógica. “Mas, como o conhecimento sobre a resposta vacinal na infância está em construção, provavelmente será solicitado um intervalo de pelo menos 15 dias entre a aplicação da vacina contra Covid-19 e a de outros imunizantes”, comenta Natália.

Esse intervalo, aliás, já vem sendo recomendado aos grupos prioritários que estão recebendo a vacina contra o coronavírus. Vale lembrar que, a partir de 12 de abril, começa a campanha nacional de vacinação contra a gripe, que é especialmente importante durante a pandemia.

E as gestantes?

A maior restrição para as grávidas envolve, de novo, as vacinas com vírus vivos atenuado. Isso porque há um risco teórico de que, mesmo enfraquecido, o agente infeccioso presente no imunizante consiga afetar o bebê.

“Isso pode levar a malformações fetais e algumas outras complicações. É um risco teórico, mas ainda não se indica imunizantes desse tipo às gestantes por uma questão de segurança”, afirma a ginecologista e obstetra Ana Maria Holanda, professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI). “Felizmente, as vacinas contra a Covid-19 não têm essa composição”, tranquiliza.

Mesmo sem grandes ensaios clínicos com essa população, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo) recomendam a vacinação desse grupo. “A Figo considera que não há riscos, reais ou teóricos, que superem os potenciais benefícios da imunização para mulheres grávidas”, afirma o órgão em comunicado oficial. Nos Estados Unidos, cerca de 20 mil grávidas que são profissionais da saúde foram vacinadas, e não apresentaram complicações.

Pra melhorar, resultados preliminares de pesquisas com gestantes começam a aparecer: uma feita em Israel concluiu que as vacinas da Pfizer e da Moderna, além de eficazes nas mães, resultaram na presença de anticorpos contra o coronavírus no leite materno. Outra, essa conduzida nos Estados Unidos com cerca de 130 voluntárias, reforçou esses achados e ainda encontrou anticorpos no sangue do cordão umbilical. São sinais de que a vacinação da gestante pode manter o bebê protegido quando ele nascer.

Segundo Ana Maria Holanda, as evidências ainda estão se acumulando, porém, em uma situação de emergência como a atual, permitem presumir que os imunizantes contra o coronavírus são seguros para grávidas.

Além disso, há indícios de que as gestantes correm um risco maior de complicações devido à Covid-19. “E o Brasil de hoje é um local de alto risco para pegar a doença. Por isso, é importante considerar a vacinação em gestantes”, acrescenta Ana Maria, que também é mestre em cuidados intensivos pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), em Pernambuco.

O Brasil não possui uma recomendação oficial sobre o assunto. O posicionamento atual das sociedades médicas é o de que especialista e gestante tomem uma decisão compartilhada, avaliando cada caso individualmente.

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