O convidado desta semana é Rodrigo M. Feitosa, biólogo do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná.
No campo ou na cidade, nas florestas ou na pia da cozinha, em desenhos animados ou filmes de herói: formigas são presença constante na vida dos humanos. Infelizmente, esses insetos ainda carregam o estigma de criaturas prejudiciais, muitas vezes consideradas pragas agrícolas ou urbanas.
Isso acontece porque algumas espécies se adaptaram muito bem para levar uma vida junto de nós, se alimentando de recursos (e restos) que nós produzimos. Elas passaram a viver em plantações, casas, prédios, praças e quintais pelo mundo todo.
Nesses locais, as formigas encontram tudo o que precisam: abrigo contra predadores, proteção das intempéries climáticas e uma fonte interminável de comida – como potes de açúcar e migalhas de pão abandonadas sobre a mesa após o café da manhã.
Muitas pessoas têm o receio de que, nessas andanças pela casa ou prédio, essas formigas circulem também por locais contaminados, como lixeiras. E depois caminhem sobre os utensílios domésticos ou alimentos, carregando consigo microrganismos causadores de doenças.
Em casa, os hipocondríacos podem ficar tranquilos: não há registros na literatura especiliazada de contaminação em residências causada por formigas. A única preocupação nesses ambientes é a ferroada. Embora a grande maioria das formigas urbanas não possua ferrão, algumas pessoas podem desenvolver reações alérgicas ao ataque de certas espécies. Contaminações trazidas por insetos (não apenas formigas) só são preocupantes em hospitais, que abrigam pessoas com a saúde frágil, já predispostas a contrair infecções.
Hoje, conhecemos cerca de 14 mil espécies de formigas. Destas, apenas umas 100 (menos de 1%) têm algum potencial para causar danos aos seres humanos.
Quando o assunto é formiga, os benefícios são maiores que os prejuízos. Esses pequenos insetos sociais possuem uma importância fundamental em nossas vidas. Formigas predadoras estão entre as principais controladoras de insetos herbívoros no mundo. Isso significa que, na ausência delas, as populações de artrópodes que se alimentam de plantas cresceriam tanto que florestas e plantações seriam devastadas. Ou seja: as formigas estão mais para controladoras de pragas do que para pragas em si.
Essa relação entre plantas e formigas também envolve a dispersão de sementes. Sendo assim, esses insetos ajudam na reprodução de diversas espécies vegetais – seja na natureza, seja nas cidades. Além disso, elas fazem um bem danado para a terra, pois a escavação de seus ninhos aumenta a concentração de nutrientes e água no solo.
Por fim, as formigas são um petisco saboroso para muitos animais. Uma vez que esses artrópodes são, ao lado dos cupins, os insetos mais abundantes do planeta, eles se tornaram elementos fundamentais de várias cadeias alimentares, e fazem parte do menu de uma lista enorme de seres vivos. Elas estão no cardápio de outros invertebrados, como as aranhas, de anfíbios, como rãs e sapos, e também de mamíferos, como o tamanduá e até o grandalhão orangotango.
A conclusão é que nenhuma formiga é uma “praga”. Formigas, assim como qualquer outro animal, só se tornam “pragas” diante de perturbações que os seres humanos causam no equilíbrio dos ecossistemas naturais. É de se questionar quem é a verdadeira praga: elas ou nós.
Este é o oitavo post do blog Bzzzzz, em que pesquisadores membros do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) e outros cientistas colaboradores vão comentar a vida, os hábitos e a importância econômica de diversos insetos – além de nos atualizar sobre as mais recentes descobertas no campo desses pequenos artrópodes. Até a próxima!
As formigas não são pragas – são aliadas e peças fundamentais da natureza Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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