terça-feira, 13 de julho de 2021

Estudo sugere que fosfina encontrada em Vênus é resultado de erupções vulcânicas

Em 2020, a notícia de que pesquisadores da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, haviam detectado gás fosfina nas nuvens de Vênus empolgou a comunidade científica. Na Terra, esse composto, formado por três moléculas de hidrogênio ligadas a uma de fósforo, é comumente gerado através de processos orgânicos – ou seja, quase sempre necessita de vida para se formar. Por conta disso, a fosfina funciona como uma bioassinatura, indicando se um planeta possui ou já possuiu seres vivos. 

Mas a fosfina também pode derivar de alguns fatores abióticos, e um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade Cornell, em Nova York, aponta para esta possibilidade. O grupo de cientistas acredita que a fosfina descoberta no ano passado remete a erupções vulcânicas no território venusiano, e não à existência de vida.

Essa possibilidade havia sido descartada pelos pesquisadores da Universidade de Cardiff, que concordaram que a atividade vulcânica do planeta teria que ser extremamente alta para gerar a quantidade de gás fosfina encontrada. Os cientistas americanos refutam a ideia: eles desenvolveram um novo modelo com características comparáveis aos locais da Terra que possuem alta atividade vulcânica. Além disso, usaram como base observações anteriores que já haviam sugerido que há  atividade vulcânica em Vênus. Ao final, os pesquisadores concluíram que existe a possibilidade da fosfina ter relação com os vulcões. 

Para isso, em primeiro lugar, Vênus teria que ter fosfeto, uma forma de fósforo, em seu manto profundo. Esse fosfeto seria levado à superfície através das erupções vulcânicas, sendo lançado na atmosfera. A atmosfera de Vênus é formada, principalmente, por nuvens de ácido sulfúrico, que reagiriam com o fosfeto formando a fosfina. Jonathan Lunine, um dos autores do estudo, disse em comunicado que “a fosfina não nos fala sobre a biologia de Vênus. Ela está nos falando sobre a geologia [do planeta]”.

Observações anteriores sustentam a ideia de que haja atividade vulcânica ativa em Vênus. Em 1978, durante a missão Pioneer Venus, da Nasa, os cientistas encontraram variações de dióxido de enxofre na alta atmosfera do planeta que poderiam remeter ao vulcanismo. Além disso, em 1990, a espaçonave Magellan, também da Nasa, registrou imagens da superfície de Vênus que mostravam protuberâncias semelhantes a vulcões. No ano passado, cientistas do Instituto de Tecnologia de Zurique, na Suíça, voltaram a estudar tais imagens e confirmaram que elas remetiam a vulcões ativos do planeta.

Mas Janusz Petkowski, cientista envolvido na descoberta de fosfina em Vênus, é cético quanto à participação da atividade vulcânica na obtenção do composto. Em entrevista à New Scientist, disse que ainda não acredita que o vulcanismo na região seja suficiente para produzir a quantidade de fosfina detectada. Ele também reforçou que o novo estudo usa a Terra como parâmetro, o que não é necessariamente correto, e que não há como afirmar se existe fosfeto no manto venusiano para que ocorra a reação.

Explorar Vênus não é tarefa fácil: as temperaturas do planeta chegam aos 480 ºC, a atmosfera é 90 vezes mais densa que a da Terra e ainda soma-se o fato de suas nuvens serem formadas por ácido sulfúrico. As sondas não duram muito mais do que duas horas neste ambiente inóspito. De toda forma, tanto a Agência Espacial Europeia quanto a Nasa possuem missões programadas para Vênus dentro dos próximos anos, o que deve ajudar a elucidar algumas questões. 


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