Na última quinta (29), o jornal Wall Street Journal publicou uma notícia sobre a abertura de um processo no Tribunal Superior de Los Angeles, nos EUA. Até aí, nada de novo sob o Sol, certo? Nem tanto: quem fez o pedido foi a atriz Scarlett Johansson. E ela quer processar a Disney.
A ação gira em torno de Viúva Negra, o filme mais recente da Marvel Studios (que pertence à Disney) e que é estrelado por Johansson. Mais especificamente, em relação ao seu lançamento.
Viúva Negra, assim como os recentes Mulan e Raya: O Último Dragão, estreou simultaneamente nos cinemas e no Disney+, plataforma de streaming da empresa. O problema, segundo os advogados da atriz, é que essa estratégia não havia sido combinada previamente: o filme iria para as salas de cinema e só depois para a internet. E isso, ao que tudo indica, comprometeu os ganhos que Scarlett receberia com o filme – US$ 50 milhões a menos, estimou o Wall Street Journal.
Nas entrelinhas de Hollywood
Para entender esse quiprocó jurídico, é preciso explicar alguns pontos sobre a indústria do cinema. O primeiro é a janela de exibição – o período entre o filme estar em cartaz e ficar disponível para consumo doméstico (streaming, Blu-Ray, etc.).
Esse intervalo (que, antes da pandemia, costumava durar três meses) é um acordo estratégico entre as distribuidoras e as donas das salas de cinema. Dessa forma, as exibidoras têm tempo suficiente para lucrar em cima do lançamento do filme. Em contrapartida, os estúdios faturam em um mercado que, mesmo com o streaming, ainda é altamente rentável.
Com a quarentena, esse acordo caiu por terra: com diversas restrições de público presencial, as exibidoras não tiveram forças para manter os três meses de janela. Resultado: os filmes agora têm ido muito rápido para as plataformas on demand – isso quando não estreiam simultaneamente por lá. É o caso do Premier Access, dentro do Disney+, que permite aos usuários assistirem aos lançamentos do estúdio por um valor extra, além da mensalidade.
A Disney não está sozinha nessa. Nos EUA, a Warner tem lançado os seus filmes simultaneamente no HBO Max, sem custo adicional. No Brasil, onde a plataforma estreou em junho, isso ainda não rola – mas a janela de exibição foi consideravelmente reduzida.
A segunda coisa são os contratos “back end”. Nesse tipo de acordo, parte do cachê do ator (ou o cachê inteiro) vem de uma porcentagem da bilheteria do filme. Ou seja: quanto mais sucesso o longa fizer, mais dinheiro o artista embolsa.
Esse tipo de acordo costuma render uma bolada. Um dos primeiros que se deu bem com ele foi o ator Jack Nicholson, que ganhou US$ 60 milhões (US$ 131 milhões hoje) pelo papel de Coringa em Batman (1989). Para não abrir mão de tanta grana, os estúdios só assinam contratos do tipo com a classe A de Hollywood – como é o caso de Scarlett, que interpretou a espiã Natasha Romanoff em oito filmes do Universo Cinematográfico da Marvel (o MCU) e que, em Viúva Negra, é também uma das produtoras executivas.
E agora, Natasha?
De acordo com os advogados de Johansson, a Disney assegurou no contrato da atriz que o lançamento de Viúva Negra aconteceria exclusivamente nos cinemas – e que só depois iria para o streaming. Para eles, houve uma quebra no acordo – e o processo visa reparar os danos financeiros causados por isso.
Até esta sexta-feira (30), o filme arrecadou US$ 319,4 milhões pelo mundo – além outros US$ 60 milhões via Premier Access, segundo estimativas da Comscore. Nada mal, considerando outros blockbusters que estrearam durante a pandemia. Mas levando em conta outros filmes da Marvel (além do orçamento de US$ 200 milhões), o faturamento está abaixo das expectativas.
Por meio de um porta-voz, a Disney se pronunciou sobre a abertura do processo. Em comunicado, disse que “não há mérito nenhum” na ação, e que isso é “especialmente triste e angustiante em sua indiferença pelos terríveis e prolongados efeitos globais da pandemia”. A empresa ainda afirmou que cumpriu totalmente o contrato com a atriz, e que o Premier Access aumentou consideravelmente o cachê inicial de US$ 20 milhões que ela já recebeu.
“Não é segredo que a Disney está lançando filmes como Viúva Negra diretamente no Disney + para aumentar o número assinantes e, assim, impulsionar o preço das ações da empresa”, disse à CNN Business John Berlinski, advogado de Johansson. Ele argumenta que o estúdio está usando a Covid-19 apenas como pretexto para tal estratégia, e que espera fazer valer no tribunal o contrato da atriz.
Berlinski também disse que esse provavelmente não será o último caso de um talento de Hollywood que decide tomar medidas legais contra a Disney. Ele estava certo: um dia depois da notícia envolvendo Scarlett, surgiram rumores de que a atriz Emma Stone estaria considerando fazer a mesma coisa. Neste caso, por conta de Cruella, filme que conta a origem da vilã de 101 Dálmatas e que também teve estreia híbrida. Além do papel principal, Stone também atuou na produção executiva do longa.
“Viúva Negra”: Entenda por que Scarlett Johansson quer processar a Disney Publicado primeiro em https://super.abril.com.br/feed
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